60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Este trabalho se propõe relacionar o conceito de cultura popular e a prática educativa presente em quatro dos mais importantes movimentos de educação (e cultura) popular no Brasil, no período imediatamente anterior ao golpe civil-militar de 1964. Os movimentos analisados são os seguintes: a Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler/RN, o Movimento de Educação de Base, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (MEB/CNBB), o Movimento de Cultura Popular em Pernambuco (MCP/PE) e o Centro Popular de Cultura, da União Nacional dos Estudantes (CPC/UNE). Através de uma leitura do ideário reformista/nacionalista dos referidos movimentos, podemos entender o papel primordial da cultura popular para a fundamentação de uma prática educativa classificada por eles, como popular. Assim, a educação, mais especificamente a alfabetização de jovens e adultos, era vista por estes movimentos como uma dimensão da Cultura Popular para promover a conscientização do povo, a politização e a reflexão, com vistas a uma mudança estrutural na sociedade brasileira. A cultura popular seria, portanto, inserida no movimento para a libertação do povo, uma iniciativa para torná-lo não apenas receptor de uma cultura alienígena, mas como sujeito da própria criação cultural em seu processo de emancipação.

METODOLOGIA:

Empreendendo uma análise comparativa do ideário expresso pelos movimentos pretende-se melhor relacionar cultura popular e educação. Para tanto, utilizamos o procedimento da cartografia simbólica no sentido assinalado por Boaventura de Sousa Santos, no intuito de mapear os conceitos-chave recorrentes nos vários movimentos. E, cabe aqui ressaltar, que dentre os conceitos mais recorrentes encontramos o de cultura popular. A pesquisa teve como principais fontes de trabalho textos referenciais produzidos pelos movimentos e por intelectuais engajados, artigos de jornais, discursos, cartilhas de alfabetização, depoimentos, entrevistas, músicas, manifestos, documentários. Foram realizadas leituras sistemáticas e fichamentos de bibliografia pertinente ao tema, levando-nos a delinear os liames de uma cartografia simbólica sobre cultura e educação popular.

RESULTADOS:

As reflexões já construídas em torno dos citados movimentos tomados para estudo, permitiram perceber o caráter de democratização da cultura e da educação popular naquele contexto de mobilização reformista que perpassava as ações por eles realizadas, configurando o processo de democratização, então em curso, na sociedade brasileira. Ficou evidenciado que tais ações buscavam a transformação da realidade social. Nesse sentido, observou-se afinidades com o romantismo político de sentido utópico através das seguintes características: recusa da realidade social presente e busca das “raízes culturais” do povo brasileiro, com vistas a libertação do país da dominação imperialista. A pesquisa também apontou divergências quanto à forma de emergência da cultura popular entre os movimentos assinalados, embora o sentido do termo tenha sido empregado para a finalidade de superação da ordem social vigente.

CONCLUSÕES:

Podemos concluir que, para os movimentos estudados, a educação popular era encarada como uma dimensão da cultura popular. Embora ocorram algumas divergências conceituais, prevalecia o sentido de que a cultura popular e a educação popular seriam veículos de libertação do povo brasileiro, importantes para ampliar a democratização e para tornar possíveis as reformas estruturais da sociedade brasileira. É interessante lembrar que, no período 1960 – 1964, o país vivia um intenso processo de mobilização social em favor das reformas de base. Processo que foi interrompido brutalmente, pelo golpe de 1964.

Instituição de fomento: CNPQ; PROPESQ-UFRN

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: educação popular, cultura popular, democratização

E-mail para contato: joicy14@yahoo.com.br