60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 7. Fisiologia - 5. Fisiologia

COMPORTAMENTO DAS CÉLULAS ENDOTELIAIS DA BARREIRA HEMATOENCEFÁLICA FRENTE AO ENVENENAMENTO SISTÊMICO POR PHONEUTRIA NIGRIVENTER.

Stefania Fioravanti Savioli1
Paulo Alexandre Odorissi1
Catarina Rapôso1
Maria Alice da Cruz-Höfling1, 2

1. Instituto de Biologia, Departamento de Histologia, UNICAMP
2. Orientador


INTRODUÇÃO:
A interface entre o SNC e o sangue tem como principal barreira o endotélio dos vasos cerebrais. Em conjunto com os pés astrocitários, os pericitos e a membrana basal constituem a Barreira Hematoencefálica (BHE), responsável por rigoroso controle no trânsito bidirecional de substâncias entre sangue e cérebro. Em situações adversas a BHE pode ser afetada e a seletividade da mesma comprometida. A quebra da BHE pode ocorrer pela via paracelular ou pela via transcelular do revestimento endotelial dos capilares cerebrais. Estudos recentes mostraram que o veneno da aranha Phoneutria nigriventer (PNV) é capaz de quebrar a BHE. A Conexina-43 (Cx-43), a proteína mais representativa das junções comunicantes existentes entre endotélio e pés astrocitários, é um indicador da integridade das comunicações entre esses dois tipos de células. A MRP-1 (proteína associada a multirresistência a drogas) pertence a um grupo de proteínas responsável pela dificuldade do acesso de drogas terapêuticas ao ambiente do SNC. Este trabalho tem por objetivo estudar a expressão das proteínas Cx-43 e MRP-1 quando o PNV atinge a circulação da vasculatura cerebral, após injeção endovenosa, e assim avançar na compreensão de mecanismos moleculares envolvidos na quebra da BHE causada em acidentes graves com P. nigriventer.

METODOLOGIA:
Ratos Wistar machos (7-10 semanas) foram injetados com dose subletal de PNV (0,85 mg/kg) ou com solução salina 0,9% (controle) pela veia da cauda e sacrificados, sob anestesia, 15 min, 2 e 5 h após (n=5/grupo). Após os cérebros foram dissecados e o hipocampo e cerebelos isolados e preparados conforme protocolo específico para a técnica Western blotting. Os valores densitométricos das bandas imunoreativas (dados bioquímicos) foram analisados usando o software GraphPad Prism. Os resultados foram expressos como média ± erro padrão. Análise de variância (ANOVA one-way) seguida por teste de Bonferroni foi usado para comparar grupos PNV vs grupo Salina. Valores de P<0.05 serão considerados significantes

RESULTADOS:
Os resultados do western blotting mostraram um pequeno mas gradual aumento na expressão da proteína MRP-1 no Hipocampo e no Cerebelo dos 15 min até 5 h pós-envenenamento, em comparação com o controle. A Cx-43 mostrou pequeno declínio no Hipocampo ao longo dos períodos pós- envenenamento, mais evidente no grupo 5 h. No Cerebelo a Cx-43 permaneceu inalterada no grupo PNV-15 min em relação ao controle, porem mostrou diminuição significativa nos grupos PNV-2 e -5 h.

CONCLUSÕES:
O aumento da expressão da MRP-1 é compatível com resultados prévios em que mostramos que a quebra da barreira pelo PNV é aguda, porém transitória, sendo que 2 e 5 h após o envenenamento muitas das alterações da BHE, e os sinais clínicos da intoxicação estão em regressão ou com a normalidade restabelecida (Raposo et al., Brain Ress 1149: 18-29. 2007). A MRP-1 pertence a um grupo de proteínas com ação em mecanismo de bomba para o efluxo de drogas para fora do SNC. O aumento da expressão da MRP-1 poderia explicar um mecanismo de eliminação do agente tóxico desencadeado pela presença do PNV na microcirculação cerebral. A Cx-43 é a principal proteína presente em junções comunicantes com envolvimento na transferência de informações químicas e elétricas entre células adjacente. Os nossos resultados permitem sugerir que o o PNV afeta a troca de informações diferentemente no hipocampo e cerebelo, e que a diminuição da expressão da Cx-43 na BHE dessas regiões cerebrais, sob ação do PNV, pode indicar que a atividade neurotóxica do veneno causou prejuízo na comunicação célula endotelial dos capilares cerebrais-astrócitos. Esse deficit na troca de informações entre dois componentes importantes da BHE poderia contribuir para as alterações de permeabilização da BHE causada pelo PNV sistêmico.

Instituição de fomento: FAPESP, CNPq, FAEPEX/UNICAMP

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Endotélio Cerebral, Transporte paracelular, Neurotoxicidade

E-mail para contato: steunicamp@yahoo.com.br