60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 1. Ética

A ÉTICA DO OUTRO SEM ROSTO

Guilherme Ferreira Cezar1
Josianne Gomes dos Santos1
Natália Regina Rocha Serpa1
Zilmara de Jesus Viana Carvalho1

1. Universidade Federal do Maranhão


INTRODUÇÃO:
Ao se trabalhar com o conceito de uma moral universal e incondicionada, ou seja, aquela que exclui de seu âmbito todas as possíveis inclinações que interferem no agir racional, a saída é nortear-se por princípio formal e que deva ser o alvo de toda e qualquer pessoa. Nesse intuito Kant constrói sua teoria ética a partir do que ele denomina de “boa vontade”. Em defesa da solidificação de seu princípio moral universalizante afirma que não existe nada que possa ser visto como bom sem limitação que não seja esse querer fazer o bem. Sabe-se que a boa vontade não é pensada como algo bom por aquilo que ela traz como resultados mas que deve ser elevada enquanto princípio guiador pelo fato de expressar uma intenção de fazer o bem. Destarte, a moral tem um apoio em si mesma que se expressa nesse “querer” e assim dispensa toda e qualquer inclinação que motive o agir de determinado modo, inclusive a felicidade que é a soma de todas essas inclinações. Em seguida, com o intuito de fortalecer e solidificar sua proposta, Kant insere o princípio moral supracitado na esfera do dever. Não poderia se dar de forma diferente já que se considera aqui a razão como sendo a responsável por executar as leis morais e, assim sendo, estas devem ser realizadas da melhor forma possível conforme a lógica permita. O dever, contínuo e permanente, de se buscar fazer o bem é então o princípio que se deve seguir para que se instaure a moral defendida por Kant.

METODOLOGIA:
O trabalho realizado consiste em elucubrações teóricas acerca da proposta da Metafísica dos Costumes elaborada por Kant com o intuito de se repensar as possibilidades de sua aplicação bem como as suas conseqüências. A pesquisa foi construída a partir leituras e discussões afins com a temática trabalhada.

RESULTADOS:
Diante do que fora exposto delimita-se então o valor do caráter que, em linhas gerais, consiste em fazer o bem, não por inclinação, mas por dever. Derivam-se ainda três proposições elaboradas por Kant a partir do princípio da boa vontade por ele exposto. Sendo que a primeira afirma que o amor enquanto inclinação não pode ser ordenado, mas fazer o bem por dever é amor prático e este sim é o único que pode ser preceituado. Já a segunda expõe que uma ação praticada po dever tem o seu valor moral não no propósito que por meio dela se quer alcançar, mas na máxima que a determina. Finalizando as proposições é elaborada uma terceira, que nada mais é que decorrência das outras duas, e que indica que o dever é a necessidade de uma ação por respeito à lei. Percebe-se, desde logo, que Kant busca uma legalidade universal das ações em geral e isso desembocará no surgimento de três imperativos. Sendo o primeiro, o imperativo categórico, apresentado pelos seguintes termos: “age só segundo máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Ao passo que o imperativo universal do dever se apresenta como: “age como se a máxima da tua ação devesse se tornar, pela tua vontade, lei universal da natureza”. Por fim Kant apresenta o imperativo prático, que será objeto mais detido do estudo deste trabalho, sendo este: “age de tal maneira que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.

CONCLUSÕES:
A proposta de se tentar universalizar uma ética pode parecer dissonante com a idéia da existência de um pluralismo cultural. Etretanto, defende-se aqui que os princípios elaborados por Kant para guiar a humanidade para uma melhor convivência não implicam em um assaninato da alteridade, mas sim o contrário. Bem verdade que sua tentativa era uma unificação a partir dessas leis que seriam válidas para todo e qualquer ser racional, mas o conjunto de seus imperativos impossibilitaria quaisquer tentativas de imposição arbitrária de uma cultura em relação a outra e assim resguardaria a humanidade do medo da dominação. Ainda que o fim almejado seja a universalização de uma ética não se pode esquecer que uma convivência deve ser viável e possível entre as mais diferentes sociedades pelo simples princípio norteador da “boa vontade”, ou seja, de querer fazer o bem ao outro independetemente de seu rosto.



Palavras-chave:  Kant, Moral Universal, Boa Vontade

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