60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 3. Toxicologia

ESTUDO DOS ACIDENTES POR SERPENTES NÃO PEÇONHENTAS NO ESTADO DA PARAÍBA.

Fagner Neves Oliveira1
Thaíse Dantas Almeida2
Rodrigo Lins Rodrigues3
Sayonara Maria Lia Fook4
Helder Neves de Albuquerque5

1. Dep.de Biologia – Plantonista do Ceatox-CG/Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
2. Aluna do Mestrado em Saúde Pública-UEPB
3. Departamento de Estatística-UEPB
4. Professora do Departamento de Farmácia-UEPB e CEATOX-CG / Orientador
5. Professor do Departamento de Biologia-UEPB / Co-orientador


INTRODUÇÃO:
As serpentes áglifas e opistóglifas são consideradas não peçonhentas. As primeiras possuem dentes iguais, maciços, sem nenhuma ligação com a glândula de veneno, por isso não apresentam perigo ao homem quanto ao empeçonhamento, podendo causar apenas ferimentos traumáticos, que podem evoluir para infecção se não for devidamente tratado. Já as opistóglifas possuem os dentes do maxilar aproximadamente do mesmo tamanho, mas apresentam, posteriormente, um ou mais pares de dentes maiores e sulcados longitudinalmente, uma vez que esses dentes posteriores maiores e caniculados estão ligados às glândulas produtoras de veneno, podendo inocular veneno quando a serpente morde e se fixa no local atingido, movimentando alternadamente os maxilares direito e esquerdo, ao mesmo tempo em que a peçonha é liberada aos poucos pelas glândulas e escorre pelo sulco do dente. Os gêneros considerados não peçonhentos, capazes de causar intoxicação, são Philodryas, Clélia e Boiruna. A maioria dos trabalhos sobre ofidismo aborda o problema apenas das serpentes peçonhentas, ignorando ou apenas citando as demais. Este trabalho teve como objetivo avaliar a clínica dos acidentes causados por serpentes consideradas não peçonhentas, tendo em vista a possibilidade existente de empeçonhamento.

METODOLOGIA:
Foi realizado um estudo prospectivo com abordagem quantitativa de todos os casos de acidentes com serpentes não peçonhentas, atendidos nos Centros de Assistência Toxicológica da Paraíba (CEATOX-CG e CEATOX-PB), localizados respectivamente no Hospital Regional de Urgência e Emergência de Campina Grande e Hospital Universitário Lauro Wanderley em João Pessoa, entre julho e dezembro de 2007. Os dados foram coletados nas fichas do Sistema Nacional Notificação de Agravos (SINAN), do Ministério da Saúde. Para o preenchimento da ficha, foram realizadas entrevistas com os pacientes e/ou os representantes legais dos mesmos, em que foram coletados dados clínicos da vítima, além de dados sobre o animal agressor. Os dados foram analisados através de estatística descritiva com base no programa Epiinfo, versão 2002. Os casos foram acompanhados até a evolução clínica final. Esta pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), registrado sob o protocolo de nº 0063.0.133.000-07.

RESULTADOS:
No período estudado foram atendidos 165 casos de acidentes ofídicos, sendo 51 (30,9%) causados por serpentes não peçonhentas. O gênero Philodryas foi o mais prevalecente com 26 casos (50,9%), seguido de Oxirhopus com 7 casos (13,7%) e Epicrates 5 (9,8%). Em 13 casos (25,5%) não houve identificação da serpente. As espécies identificadas foram Philodryas olfersi em 5 ocorrências (9,8%), Philidryas nattereri e Oxyrhopus trigeminus em 2 (3,9%), e Epicrates Cenhria em 1 (1,9%). Houve envenenamento em 12 casos (23,5%), sendo 11 deles (91,6%) pelo gênero Philodryas e 1 (8,4%) pelo gênero Oxirhopus. Nos envenenamentos por Philodryas, os pacientes apresentaram: dor (100,0%), edema (6 casos-54,5%), cefaléia (4 casos - 36,3%), eritema e parestesia (2 casos - 18,2%) e equimose e náuseas (1 caso-9,1%). Estes sintomas são semelhantes aos apresentados nos envenenamentos Botrópicos. O veneno das Philodryas possui atividade hemorrágica, edematogênica, fibrinogenolítica, fibrinolítica e miotóxica, contudo, não houve distúrbios hemorrágicos. No envenenamento por Oxirhopus o paciente apresentou dor local e discreto edema. Os pacientes foram tratados com anti-histamínico, corticóide e soro antibotrópico no envenenamento com Philodryas, e soro anti-elapídico no envenenamento com Oxirhopus.

CONCLUSÕES:
No período estudado, cerca de um terço dos acidentes ofídicos ocorreram com serpentes não peçonhentas. Apesar de serem consideradas não peçonhentas, foram capazes de causar envenenamentos, demonstrando que esses acidentes não podem ser ignorados e que estes animais devem ser considerados como serpentes de importância médica, pelo risco e perigo que representam. Verificou-se a utilização de soroterapia em acidentes sem sinais de envenenamentos e acidentes com sinais de envenenamento, mas a administração da soroterapia não foi indicada. A ocorrência de acidentes com serpentes não peçonhentas, principalmente as com dentição do tipo opistóglifa, apesar de poderem causar envenenamento não tem sido muito divulgada. Considerando este fato, faz-se necessário que as autoridades em Saúde desenvolvam programas que capacitem os profissionais para prestarem assistência à população com maior segurança e efetividade a este tipo de acidente que por muitas vezes são subestimados por falta de conhecimento.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Serpente não peçonhenta, Ofidismo, Soroterapia

E-mail para contato: fagnerbiologo@gmail.com