60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 80. Serviço Social

A METAMORFOSE DE KAFKA VERSUS GEROFOBIA.

Gisele Joicy da Silva Guimarães1
Jacqueline Tatiane da Silva Guimarães3
Natalia Bezerra Prazeres2
Heliana Baia Evelin4

1. Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo - UFPA
2. Acadêmica do curso de Serviço Social - UFPA
3. Acadêmica do curso de Serviço Social - UFPA
4. Professora Doutora da Faculdade de Serviço Social - UFPA - Orientadora


INTRODUÇÃO:
Utiliza a leitura do livro “A Metamorfose” de Franz Kafka como foco de discussão sobre a incidência da mudança / transformação / metamorfose do tempo sobre a pessoa humana, a fim de verificar a compreensão das pessoas sobre o processo de envelhecimento, oferecendo subsídios para a discussão do preconceito contra o velho e o envelhecimento. Na obra de Kafka, um jovem rapaz chamado Gregor Samsa, caixeiro-viajante mora com seus pais e irmã Grete, sustentando-os. Certo dia, ao acordar, não consegue levantar-se da cama e dá-se conta de que na mesma há um inseto, dando início à uma complexa e bizarra narrativa, onde o personagem percebe-se metamorfoseado em um grande inseto de couraças e inúmeras pernas finas e minúsculas em relação ao corpo; sendo a metamorfose um processo que ocorre por pequenas mudanças que levam à grandes transformações, aos poucos Gregor foi sentindo os sintomas da sua transformação, incluindo a perda da voz. Por ser o provedor da família tal situação preocupa seus familiares, pois quem iria exercer o papel de Gregor de provedor da família? Onde ele ficaria? Numa atitude de espanto, medo e desespero seus pais e irmã mantêm-no trancado no quarto, levando comida durante a noite ou quando achavam que Gregor estava dormindo. Ao acontecer a metamorfose biológica de Gregor, a família é obrigada a realizar sua própria metamorfose onde todos teriam que assumir o sustento da casa, havendo a troca de papéis: eles teriam a obrigação de cuidar de Gregor. E este caráter de obrigação fica bastante claro com a sua morte, que produziu alívio em seus familiares que não teriam mais que cuidar dele - aquele monstro terrível (!) - ou ter medo do escândalo.

METODOLOGIA:
A enquete realizada no dia 21 de outubro de 2007, no período das 8h. às 18h. em uma praça de Belém, com 60 pessoas - com idades que variavam de 30 a 60 anos teve por objetivo coletar informações sobre o significado do envelhecimento, utilizando-se formulário com perguntas fechadas e abertas; na análise dos dados identificou-se os participantes por: grupo do sexo, sendo 35 do SF e 25 do SM.

RESULTADOS:
Percebeu-se a dificuldade dos entrevistados em assumirem-se em processo de envelhecimento (ou até mesmo como um ser já envelhecido), fato observado na negação em falar sobre o tema: “Não [...] eu prefiro nem pensar nisso”. (Informante do SF; Desempregada; de faixa etária entre 36 a 40 anos); não fugindo à lógica capitalista foram freqüentes respostas que tornaram perceptíveis a introjeção das idéias que indicam o ser enquanto objeto disponível no mercado: A pessoa está mais batida [...] mais usada [...] a pessoa não consegue fazer nada” ((Informante do SF; Vendedora e Artista Plástica; de faixa etária entre 46 a 50 anos); constatou-se que a própria idéia de valorização do idoso se apresenta de maneira contraditória. Acham “bonitinho” o idoso, mas nem conseguem se imaginar na situação de velho. A metamorfose que ocorre é temida e ao mesmo tempo esperada e os sujeitos buscam através de esportes, alimentação balanceada e outros métodos, evitar ou mesmo amenizar os efeitos do processo de envelhecimento. Verificou-se que a negação do processo de envelhecimento, ocorreu com mais freqüência entre as mulheres, onde apresentou-se mais ligado a questões estéticas. O desejo de independência está presente também no que concerne à questão econômica (preocupação semelhante a de Gregor), priorizando a visão de um envelhecer tranqüilo que retire da família qualquer responsabilidade com o seu sustento: “Me preocupo com a aposentadoria” (Informante do SM; Diarista e Ambulante ; faixa etária entre 36 a 40 anos). A velhice ainda é vista levando-se em consideração à fragilidade existente, o declínio das funções do organismo, as rugas aparentes, as dificuldades de locomoção e o “empecilho” que ela representa na vida de outros familiares. Nas falas dos participantes foi constante a associação do processo de envelhecimento com doenças: “Haaa! [...] a velhice [...] muitos problemas, problemas com doenças” (Informante SM; Vigilante; faixa etária entre 36 a 40 anos). Tais idéias e concepções sobre o envelhecimento geram outros medos identificados nos discursos dos participantes, em que deixam transparecer o sofrimento antecipado de ter que se “submeter” a uma velhice triste e solitária. Demonstraram não ter domínio ou influência quanto ao seu próprio futuro, como se a tristeza e a solidão fossem situações imanentes à velhice: “Tem que se acostumar, quem se acostuma não sofre” (Informante SF; Dona de casa; faixa etária entre 51 a 55 anos).

CONCLUSÕES:
Constatou-se que a velhice é encarada como processo natural, uma etapa que todos terão que passar. Porém, dos idosos entrevistados grande parte expôs que não era velho, pois sempre estiveram “na ativa” ou os mais jovens diziam que nunca iriam envelhecer, pois buscariam sempre manterem-se alegres e ativos: “[...] eu ainda tô jovem, quero envelhecer jovem” (Informante SM; Autônomo; faixa etária entre 36 a 40 anos). Conclui-se, pelas respostas dos entrevistados, que esta é uma etapa repleta de preconceitos e discriminações, onde não são, muitas vezes, valorizados e respeitados os anos e as experiências, legando ao idoso o cuidado por compaixão e obrigação, justamente como aconteceu com Gregor que se achava indigno dos cuidados de sua família, um verdadeiro estorvo, desconsiderando e ignorando os seus próprios sentimentos enquanto ser, pois se magoava (com atitudes e palavras dos seus familiares) e se alegrava (com as pequenas coisas da vida, que antes nunca havia percebido). Enquanto Gregor ocupava o papel de sustentáculo e arrimo familiar, seus pais e irmã tinham-no como alguém importante e necessário ao convívio, porém quando o mesmo metamorfoseou-se, seu papel e sua função dentro do seio familiar ganhou outro contorno. Em nosso cotidiano, constantemente nos deparamos com situações em que os idosos, mesmo mantendo financeiramente os seus descendentes, são vítimas de atitudes preconceituosas e desvalorizantes do ser e de toda sua história de vida.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Envelhecimento, Metamorfose, Gerofobia

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