60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

METALÚRGICOS DO BAIRRO JARDIM SANTA CRUZ, SALTO (SP): PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO E TEMPO LIVRE

ROSILENE RODRIGUES DA SILVA1

1. PUC-CAMPINAS


INTRODUÇÃO:
O presente resumo refere-se ao Trabalho de Conclusão de Curso “Metalúrgicos do Jardim Santa Cruz, Salto (SP): precarização do trabalho e vida social”, apresentado à faculdade de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no ano de 2007. Discutir o conceito trabalho nos dias de hoje se faz importante, na medida em que podemos verificar os novos desafios no mundo do trabalho, principalmente em relação à sua precarização, evidenciada em fenômenos regulares como o desemprego estrutural, as diversas formas de subemprego e o trabalho intensivo. A tecnologia inserida nas indústrias metalúrgicas, bem como a política neoliberal acelerada no país na década de 1990, vem proporcionando o desemprego neste segmento, contudo, sem permitir a redução da jornada de trabalho. Neste sentido, a pesquisa teve por objetivo estudar os metalúrgicos da perspectiva da discussão do "tempo livre" e da nova reestruturação produtiva, verificamos como estes trabalhadores vivenciam a “sociabilidade” frente à precarização do trabalho.

METODOLOGIA:
A metodologia foi pautada no levantamento bibliográfico, pesquisa documental e entrevistas realizadas com trabalhadores do bairro Jardim Santa Cruz da cidade de Salto (SP), um bairro operário e com um número expressivo de metalúrgicos. Discutimos os conceitos precarização do trabalho, jornada de trabalho, lazer e tempo livre. A pesquisa documental foi realizada para recuperarmos historicamente o processo de industrialização da cidade de Salto e também a trajetória do bairro Jardim Santa Cruz. Devido à carência de materiais sobre a origem do bairro, esta parte da pesquisa foi desenvolvida a partir do depoimento de um antigo morador. Pesquisamos também documentos que discutem a jornada de trabalho, da perspectiva do movimento sindical. Em âmbito local, nos baseamos nos artigos do boletim Folha Metalúrgica do Sindicato dos Metalúrgicos de Salto, que discute os principais problemas da categoria. Em nível nacional a discussão foi ampliada a partir dos artigos do DIEESE e das centrais sindicais. Por fim, apresentamos a análise das entrevistas semi-estruturadas, entrevistamos cinco metalúrgicos, três homens e duas mulheres, que moram no bairro Jardim Santa Cruz e trabalham nos setores da produção e da manutenção das indústrias.

RESULTADOS:
Estudo realizado pelo DIEESE em 2006 mostrou o aumento exorbitante das horas extras no país a partir de 1988, e concluiu que com a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais e o fim das horas extras, seria possível gerar mais de um milhão de emprego. A pesquisa de campo revelou que os metalúrgicos entrevistados são levados constantemente a exceder a sua jornada de trabalho, e enquanto para uns o motivo das horas extras se concentra na complementação do salário, para outros é uma questão de necessidade da empresa e uma forma de garantir o emprego. Verificamos também o impacto do tempo excessivo de trabalho no tempo livre, que para eles significa desde ficar em casa para descansar a desenvolver atividades ligadas ao lazer, curtir a família a se relacionar com os vizinhos, estudar a participar da política do bairro. Para a maioria, as horas extras aumentaram a partir dos anos 1990, um entrevistado ressaltou a existência do problema também na década 1980. Contudo, o que difere um período do outro é o caráter precário do trabalho, por mais que, as horas extras já fizessem parte da realidade das classes trabalhadoras nos anos 1980, o sindicato pesquisado tinha mais mobilidade e era mais articulado com os operários para reivindicar os direitos trabalhistas.

CONCLUSÕES:
A discussão sobre a jornada de trabalho sob a ótica dos sindicatos, debruça-se principalmente na diminuição do desemprego estrutural. Na nossa concepção, a melhora da qualidade de vida dos trabalhadores que constantemente realizam horas extras, também poderia ser um argumento mais salientado pelos sindicalistas. Todavia, não podemos apontar como a saída para o problema, a redução da jornada de trabalho e o fim das horas extras, sem considerar seus limites, como a redução de salário e o aumento do ritmo de trabalho. Afinal, o tempo livre pode até se tornar mais amplo, porém o poder aquisitivo dos trabalhadores pode diminuir. E a intensificação do ritmo de trabalho poderá resultar num tempo livre designado somente para recuperação (provavelmente só parcial) física e mental do trabalhador. Constatamos o quanto a precarização do trabalho reflete não somente no movimento sindical, mas também na relação familiar, na formação dos filhos, no lazer, na sociabilidade, no estudo e na participação política dos metalúrgicos do bairro Jardim Santa Cruz. Mais do que isso, a nova reestruturação produtiva contribui para uma desestruturação da cultura das classes trabalhadoras, afetando a organização familiar operária, além de precarizar as relações sociais e políticas na sociedade em que vivem.



Palavras-chave:  precarização do trabalho, tempo livre, trabalhadores metalúrgicos

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