60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

O processo de feminização da epidemia de HIV/Aids aponta algumas conseqüências relevantes para as questões de saúde pública e qualidade de vida: a transmissão do HIV da mãe para o feto ou bebê, definida como transmissão vertical (TV); a possibilidade de orfandade precoce de crianças filhas de pais portadores; vivências de estigma e isolamento social, trazendo para a discussão nos serviços de saúde questões clínicas, éticas e psicológicas relativas à paternidade e maternidade no contexto do HIV/AIDS. Existem particularidades quando a mãe recebe o diagnóstico de soropositividade durante o pré-natal; e quando ela, sabendo-se portadora do HIV, decide ter um filho. Essas situações apontam para questões importantes a respeito relações entre maternidade, representações sobre maternidade, a possibilidade de vivência de sentimentos de culpa e do estigma, vicissitudes que fazem parte do processo de construção de significados sobre a maternidade no contexto da AIDS. Constituem os objetivos específicos do trabalho investigar os conhecimentos sobre HIV/AIDS, as representações sobre a gravidez, a infecção pelo HIV, o tratamento e as expectativas em relação ao parto e amamentação, a relação com o serviço de saúde e o tratamento recebido.

METODOLOGIA:

A pesquisa pauta-se nos referenciais da Psicologia Social e Saúde Coletiva. O objeto da pesquisa está inserido na relação saúde/doença. Esta abordagem requer uma análise que considere a concepção da saúde coletiva e sua relação com conceitos de gênero e identidade. O referencial metodológico proposto é a representação social, proposta utilizada amplamente em pesquisas nas ciências humanas, especialmente na área da saúde. Minayo (2000, 2002) propõe considerar as diferentes dimensões do fenômeno em estudo, preservando sua dinâmica ao buscar no conteúdo manifesto pela linguagem, a mensagem construída no discurso, que expressa sentidos e significados relacionados ao contexto e às circunstâncias de sua produção. Os significados dizem respeito às representações sociais, que são dinâmicas e possibilitam ao indivíduo situar-se no mundo. Participam do trabalho 15 mulheres portadoras do HIV acompanhadas pelo Programa Municipal de DST/AIDS da cidade de São Carlos, além da equipe de profissionais do mesmo programa, como fonte complementar de dados. Os instrumentos de pesquisa são: observação participante da rotina do serviço de saúde, entrevista semi-estruturada e grupos temáticos com as mulheres, como forma de investigação descritiva e analítica, favorecendo informações sobre as interações entre os sujeitos e os elementos que compõem o processo de construção e transformação das representações sociais.

RESULTADOS:

Esse estudo encontra-se em andamento, sendo que os resultados já obtidos demonstram que grande parte das mães atendidas pelo serviço de saúde tomou conhecimento de seu status sorológico durante a gestação; há maior adesão ao tratamento das crianças do que ao pré-natal e também ficou evidente a grande ansiedade relativa à negativização da carga viral dos bebês. Em relação à equipe de saúde, esta se mostrou muito interessada na qualidade de vida dos usuários do ambulatório, o que possibilita e facilita a implementação de diversas ações. Além disso, foi possível perceber que há necessidade de espaços para a troca de informações e experiências entre as mulheres que vivenciam realidades semelhantes, como por exemplo, os grupos de sala de espera. Também foi evidente o medo de discriminação apresentado pelas portadoras do vírus.

CONCLUSÕES:

A discussão sobre maternidade e AIDS envolve diversos aspectos a serem estudados, em especial pelo pouco tempo desde a descoberta da doença. Este estudo tem no seu objetivo principal a questão relativa à representação tanto da maternidade quanto da doença, como o estudo está em andameto, não se pode concluir, mas seus resultados finais provavelmente possibilitarão a criação de novas perguntas de pesquisa. Entre esses novos temas a serem estudados pode-se pontuar alguns relacionados às crianças infectadas pela transmissão vertical – a revelação do diagnóstico, o convívio social, a representação da doença para as mesmas. Deve-se, também, colocar à luz discussões sobre as redes de apoios presentes no cotidiano dessas mulheres.

Instituição de fomento: PIADRD (Programa Integrado de apoio ao Docente Recém-Doutor) – UFSCar

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: AIDS, MATERNIDADE, REPRESENTAÇÃO SOCIAL

E-mail para contato: bakolstok@gmail.com