60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

CONSTRUINDO O DICIONÁRIO TERMINOLÓGICO ESCOLAR PORTUGUÊS-MUNDURUKÚ/ MUNDURUKÚ-PORTUGUÊS: AGROFLORESTA, ENFERMAGEM E MAGISTÉRIO

Kelly Bacelar Pereira1
Aline de Almeida Costa Ribeiro1
Joice Oliveira Ventura1
Dioney Moreira Gomes2

1. Departamento de Lingüística, Português e Línguas Clássicas – LIP/UnB
2. Prof. Dr. - Departamento de Lingüística - UnB - Orientador


INTRODUÇÃO:
O povo indígena Mundurukú encontra-se nos estados do Pará (Rio Tapajós) e Amazonas (Rio Madeira). São hoje cerca de 10.000 pessoas que, em sua maioria bilíngüe, têm sentido, cada vez mais, a necessidade de dominar a língua portuguesa em níveis avançados de Letramento. Recentemente, iniciou-se um processo de implantação de escolas de Ensino Médio nas aldeias dos Mundurukú do Pará (cf. Ramos 2006), demanda dos próprios índios, que exigem condições de paridade com a sociedade circundante. Porém, não almejando um ensino comum, os índios propuseram que o Ensino Médio fosse integrado ao Ensino Profissionalizante, de modo a obter formação nas áreas de Agrofloresta, Enfermagem e Magistério, áreas de vital importância para a sustentabilidade social, cultural e ambiental da comunidade atualmente. Uma vez que essas áreas técnicas exigirão leituras especializadas, urge a necessidade de elaborar um dicionário de termos técnicos. Além disso, a construção de tal obra será crucial para a manutenção da língua Mundurukú, evitando-se a entrada e a proliferação indiscriminada de termos do Português nas comunidades indígenas. Portanto, o objetivo maior deste projeto é a construção de um dicionário terminológico escolar bilíngüe Português/Mundurukú, que atenda às necessidades dos alunos Mundurukú.

METODOLOGIA:
Com base na Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), na Terminologia Textual e na Lingüística de Corpus, pretende-se identificar o léxico especializado em textos de nível médio e técnico, para a criação de um dicionário. Segue-se, portanto, um parâmetro lingüístico-textual, buscando uma terminologia in vivo, em consonância com a atual tendência de um reconhecimento terminológico em corpora textuais. O foco deste trabalho são o termo e a fraseologia, além, é claro, do conceito/definição. Buscamos identificar o que já foi descrito e registrado pela literatura especializada em cada área fim, sobretudo em nível de Ensino Médio. A identificação e/ou criação de equivalentes em Mundurukú será uma constante, enquanto as adaptações de conceitos ao nível dos alunos ocorrerá sempre que necessário. Este trabalho conta com o levantamento de bibliografia especializada sobre a língua Mundurukú, tanto a respeito de sua gramática quanto, principalmente, de seu léxico. Sobre a coleta de dados em terra indígena, vale ressaltar que ela está se dando com quem pratica a língua maternalmente e que estamos dando prioridade aos falantes bilíngües e especializados nas áreas de cultivo, plantio, coleta de frutas, manejo de animais, saúde e ensino.

RESULTADOS:
Até então, já realizamos as primeiras fases do trabalho. Foi feito o estudo do Projeto de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional Técnica para o povo Mundurukú: Agrofloresta, Enfermagem e Magistério (cf. Ramos 2006), tendo em vista que a elaboração do dicionário técnico será efetuada para suprir as necessidades deste projeto. Partimos do referencial teórico básico sobre Terminologia e Terminografia para realizarmos uma coleta de termos em textos selecionados a partir de um criterioso levantamento bibliográfico das áreas técnicas mencionadas. Iniciamos o estudo lexical da língua Munduruku a fim de selecionar possíveis termos já existentes no seu léxico e, se necessário, criar novas palavras a partir do conhecimento de sua estrutura lexical, supervisionados pelos próprios falantes nativos. Além disso, selecionamos conceitos em dicionários especializados de cada área técnica (no mínimo 2, preferencialmente 3) para posterior julgamento e adequação ao público-alvo indígena. Dessa maneira, temos, como resultado dos estudos relatados, um acervo bibliográfico das áreas de Agrofloresta, Enfermagem e Magistério, a criação de fichas terminológicas que, posteriormente, servirão de consulta para a estruturação dos verbetes do dicionário, e um dicionário-piloto.

CONCLUSÕES:
A elaboração do projeto tem o intuito de preservar a língua, a cultura e a identidade do povo Mundurukú, reconhecendo o valor que tem a sua língua materna, mediante o desenvolvimento de políticas lingüísticas normalizadoras, com vistas à tradução de termos, estabelecimento de padrões de estrutura de neologismos e, acima de tudo, recomendação do uso de determinados termos da própria língua Mundurukú em detrimento de empréstimos do Português, sem desconsiderá-los contudo. O projeto encontra-se em andamento. É importante ressaltar que uma das principais etapas a ser cumprida é a coleta sistemática de termos e/ou criação de termos equivalentes, em terra indígena, dada a importância da participação da comunidade Mundurukú para que o projeto responda às suas reais necessidades. Após a coleta de termos, estaremos substancialmente munidos de dados para elaborar o dicionário pleno, uma vez que já temos preparados a micro e a macroestrutura dos verbetes e, também, um dicionário-piloto. As etapas cumpridas foram de suma importância para dar impulso ao desenvolvimento do projeto em questão; nas fases seguintes, concluiremos, então, o que será uma obra de referência para a educação e também para a própria reflexão lingüística a respeito do valor da terminologia bilíngüe para o ensino.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq e Universidade de Brasília

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  dicionário terminológico escolar, línguas indígenas, Língua Mundurukú

E-mail para contato: dioney98@unb.br