60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A comunidade negra de Itamatatiua está inserida na categoria de “terras de preto” e “terras de santo”. Diferentemente de outras comunidades negras, Itamatatiua não surgiu a partir dos chamados escravos “fujões”. As terras pertenciam no começo à ordem religiosa dos Carmelitas e à imagem de Santa Tereza d’Ávila. O contexto atual de Itamatatiua a tornou um ambiente sui generis para o desenvolvimento de pesquisas sobre a comunicação oral e a construção da identidade negra. A quase total falta de comunicação com outras comunidades ou mesmo com a zona urbana ajudou Itamatatiua a conservar os traços sócio-culturais da época dos antepassados. As pessoas obtêm o conhecimento do passado, ou mesmo das mudanças atuais, por meio da comunicação oral, das narrativas dos próprios moradores, como os anciões que detêm informações sobre o passado da comunidade, ou de pessoas que saíram do local e obtiveram contato com os acontecimentos externos à localidade. Assim como em outras comunidades, em Itamatatiua, a comunicação oral está vinculada às tradições, festas religiosas e manifestações folclóricas.

METODOLOGIA:

A pesquisa para a produção deste estudo partiu principalmente da utilização da pesquisa de campo ou exploratória. Foi necessário ir buscar conhecimentos em outras áreas para formar uma metodologia para execução desta pesquisa, sendo mais apropriados os oriundos da Antropologia e da História Oral. Foram utilizados ainda conhecimentos adquiridos através de grupos de pesquisa e extensão Da universidade Federal do Maranhão, relatórios da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos e da Organização Não-Governamental Aconeruq. A segunda parte da pesquisa foi o levantamento de estudos sobre comunidades quilombolas e sobre a construção da identidade negra, com ênfase nas pesquisas que tomam como base a memória de remanescentes de comunidades negras. Os trabalhos em campo foram feitos através de visitas regulares à comunidade de Itamatatiua, entre maio e setembro de 2007. Como procedimento metodológico, optou-se ainda por entrevistar as pessoas mais idosas da comunidade, consideradas anciãs e respeitadas pelo conhecimento e experiência.

RESULTADOS:

Na comunidade quilombola de Itamatatiua transitam, atualmente, as mais diversas formas de comunicação, sendo o foco desta pesquisa apenas a comunicação oral. Verificou-se que esse processo de comunicação, sistematizado pela chamada tradição oral, tem sua origem nas manifestações culturais e religiosas, história oral, crenças que ultrapassam o tempo e preservaram uma organização de limites incertos e mágicos, sendo as narrativas passadas de geração a geração a materialização desse processo. Essa comunicação oral preservou ao longo dos anos as histórias de Itamatatiua, ou seja, sua memória, a partir das tradições, das festas religiosas e das manifestações folclóricas. Em Itamatatiua, a comunicação oral faz parte da vida dos moradores, num processo de interface entre a comunicação e a cultura, visto que todas as pessoas participam desse processo de comunicação.

CONCLUSÕES:

Em relação aos processos de construção da identidade do grupo social pesquisado, percebe-se que a comunicação exerce um papel crucial nesta construção de identidade, visto que ela serviu como mediadora das questões culturais na comunidade, representadas aqui pelas narrativas feitas a partir do processo de comunicação oral. Através dessa forma de comunicação, os negros de Itamatatiua se reeducaram, se reconstruíram, reorganizaram uma sociedade própria, construíram sua identidade étnica alicerçada nos segredos seculares preservados pela memória coletiva e repassados pela tradição oral. Isso por que a memória transmitida nesse processo de comunicação oral privilegiou as lembranças dominantes na comunidade. Essa comunicação oral, além de fortalecer relações entre pessoas e comunidade, criou uma rede de transmissão de conhecimento.

Palavras-chave: Comunicação oral, Identidade negra, Cultura

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