60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 1. Fundamentos do Planejamento Urbano e Regional

A INFLUÊNCIA FRANCISCANA NA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM URBANA DO NORDESTE NO SÉCULO XVII.

Catarina Agudo Menezes1
Maria Angélica da Silva2

1. Universidade Federal de Alagoas
2. Profa. Dra. - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - UFAL - Orientadora


INTRODUÇÃO:
O processo de formação das cidades brasileiras sofreu a intervenção de diversos agentes que inseriram suas marcas na configuração urbana do Brasil, já a partir dos primeiros séculos de colonização, com a fundação de pequenas vilas e cidades pelos colonizadores europeus. A chegada dos portugueses, principalmente, trouxe experiências de arquitetura e de cidade cujos aspectos remetiam a diferentes localidades e povos, entretanto, os assentamentos construídos aqui passaram a apresentar especificidades, devido à necessidade de adaptação às novas condições naturais. Dentro das tentativas de implantação de cidades no Brasil, durante o período colonial, merece destaque a atividade da Igreja Católica, através das ordens religiosas, como um dos importantes atores de influência na arquitetura e na paisagem urbana desses núcleos. O presente trabalho pretende investigar a influência das edificações religiosas na dinâmica espacial das primeiras vilas e cidades brasileira, bem como seus vestígios observados até os dias de hoje, tendo como enfoque três conventos franciscanos, localizados em Marechal Deodoro e Penedo – estado de Alagoas – e em Sirinhaém, Pernambuco, antigas vilas da Capitania de Pernambuco, fundadas no século XVII.

METODOLOGIA:
O trabalho desenvolvido teve como suporte a análise de iconografias produzidas no século XVII, que constituem importante fonte de dados quanto à existência e localização dos primeiros elementos edificados das vilas em estudo. Tais iconografias foram confrontadas com relatos de viajantes da época que descreviam os diversos aspectos da paisagem brasileira. Também foram necessárias leituras sobre a Ordem dos Frades Menores, de modo a entender sua filosofia e suas ações; além de leituras sobre arquitetura conventual, imprescindível para a compreensão dos espaços de um convento. Foram realizadas visitas às atuais cidades estudadas bem como aos seus exemplares conventuais franciscanos a fim de verificar “in loco” a ambiência das edificações além das características de seus elementos arquitetônicos e espaços internos. Esta etapa foi realizada com o auxílio das plantas baixas dos conventos.

RESULTADOS:
Os conjuntos conventuais estudados tiveram sua fundação ainda no século XVII, a partir da doação de terrenos por parte de moradores. Os três exemplares apresentam uma continuidade construtiva e arquitetônica que se insere nas características vistas em outros exemplos franciscanos do Nordeste, tanto no que se refere à volumetria – rígida e um pouco austera, quebrada, entretanto, pela simplicidade das linhas – quanto à concepção das plantas baixas – visto que os ambientes estão dispostos de maneira semelhante, em torno do claustro, formando, de modo gral, um quadrilátero, apenas com algumas diferenciações – e também no que diz respeito ao processo construtivo, que se desenvolveu a partir da construção do claustro e das instalações destinadas à moradia dos frades sendo finalizado com a construção do altar-mor. Estes exemplares possuem ainda, grande qualidade artística, vista em trabalhos de cantaria e em azulejaria portuguesa, por exemplo, além de qualidade técnica, através do uso de materiais nobres e soluções inovadoras para a época. A contemplação da paisagem e a interação com o meio natural são percebidas na fluidez entre os espaços internos e externos, dada através de elementos como varandas, mirantes e uma grande quantidade de aberturas.

CONCLUSÕES:
Os conjuntos conventuais analisados constituem claros exemplos das relações exercidas entre os espaços sagrado e profano durante a gênese das vilas mencionadas. Diferentes aspectos ligados à constituição física de tais conventos interferiram na composição urbana inicial das vilas, bem como em seu desenvolvimento. A implantação do convento, por exemplo, requeria a abertura de vias, sendo estas as principais da vila; da mesma forma, a cerca conventual influenciou o divisão das quadras e lotes; também os adros desempenharam importante papel na dinâmica espacial urbana, constituindo hoje importantes praças das cidades. Tais edificações compõem um cenário arquitetônico, urbanístico e paisagístico cujos fundamentos buscam inspirações na idealização do paraíso. Suas vilas iniciais sofreram a inscrição de marcas que ainda são perceptíveis nas cidades de hoje e que influenciaram no desenvolvimento das mesmas. A inserção desses complexos na atual paisagem urbana se dá sem conflitos, ainda que estejam envoltos pela vida contemporânea, porém, sua imponência e significado ainda são capazes de transmitir a harmonia e simplicidade incansavelmente buscadas pelos franciscanos.

Instituição de fomento: CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  urbanismo colonial, arquitetura, convento franciscano

E-mail para contato: catarina.agudo@gmail.com