60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Atualmente, a comunidade negra de Itamatatiua é uma das mais conhecidas do Maranhão. Os habitantes do local estão lá desde o Brasil Colônia, conforme comprovam os registros históricos. Dados oficiais da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos apontam que Itamatatiua teve origem com a desagregação de uma antiga fazenda escravista pertencente à Ordem Carmelita. Itamatatiua está vivendo atualmente uma fase de transição. Antes, a comunicação na comunidade era feita de forma totalmente interpessoal. Os conhecimentos e tradições eram – e ainda são – transmitidos através da comunicação oral, através dos contos, histórias, anedotas, lendas, etc. É a comunicação que serve para a transmissão das manifestações culturais e religiosas, histórias, crenças e valores. Nesse contexto, o processo de comunicação não está ligado somente ao sistema de transmissão/recepção entre meios de comunicação e pessoas, mas sim a interação social entre os indivíduos da comunidade com seu passado, visando preservá-lo para o conhecimento das futuras gerações.

METODOLOGIA:

Este estudo foi realizado, principalmente, através de pesquisa de campo ou exploratória. Optou-se ainda por fazer entrevistas com as pessoas mais idosas da comunidade, devido o conhecimento e respeito que elas possuem na localidade. Os procedimentos oriundos da metodologia da Historia Oral para a realização das entrevistas, principalmente, as que serviram para preservar a comunicação oral. A captação das entrevistas foi feita com um gravador digital para facilitar, num segundo momento, o arquivamento do material. As entrevistas eram realizadas de forma aberta e sem um roteiro de perguntas fixas ou pré-estabelecidas. Fez-se a opção somente por um roteiro de idéias-chaves para conduzir a conversa com as pessoas, visando também uniformizar posteriormente a transcrição do material obtido. Nessa perspectiva, recorreu-se ao estudo de caso da comunidade negra, utilizado instrumentos tradicionalmente ligados à Etnografia, como a observação participante e a entrevista não-estruturada.

RESULTADOS:

Durante os trabalhos verificou-se a existência de três grupos de narrativas constantes na memória dos anciãos da comunidade. O primeiro diz respeito ao número de histórias surgidas a partir da devoção das pessoas à Santa Tereza d’Ávila. Esse primeiro grupo de narrativas reflete o caráter de fé e religiosidade das pessoas. O segundo grupo surgiu a partir das histórias do folclore brasileiro, contudo, neste caso, a comunidade ao longo dos anos adequou essas narrativas de acordo com sua realidade, com suas simbologias, tendo assim assumido características peculiares ao contexto de Itamatatiua. O terceiro grupo diz respeito a princípios deontológicos da comunidade, às regras para convivência em harmonia com a natureza, refletindo ainda um medo a se ter do que não é senso dos moradores.

CONCLUSÕES:

Em Itamatatiua, as narrativas expressam o poder da comunicação oral e como esse processo de comunicação atua na mediação de transmissão de conhecimento, de cultura e tradição, sendo um fator determinante na preservação e na construção da identidade daquelas pessoas. Nessa forma de comunicação, as narrativas deixam de ser parte apenas do imaginário, da chamada espera íntima, e passam a serem discutidas na coletividade, fazendo parte do mundo comum, da comunicação coletiva. Assim, desse povo quase ágrafo, cuja cultura escrita demorou anos para chegar à comunidade, florescem as ricas histórias que fazem parte da cultura afro-brasileira.

Palavras-chave: Comunicação, Cultura, Narrativas

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