60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira

A NOVA ANCORAGEM DA VANGUARDA NO PÓS-MODERNISMO: CIDADE DE DEUS DE PAULO LINS

Helena Kelly da Silva Lima1
Luciano Barbosa Justino1, 2

1. Departamento de Letras e Artes / UEPB
2. Prof. Orientador


INTRODUÇÃO:
O projeto de pesquisa “A nova ancoragem da vanguarda no pós-modernismo” que vem sendo desenvolvido com o apoio do Programa Institucional de Iniciação Científica, PROINCI/UEPB/2007, se propõe estudar em que sentido é possível observar uma efervescência sócio-histórica na narrativa brasileira contemporânea que indica diversos projetos de ruptura com os pressupostos da globalização sócio-cultural do pós-modernismo e que possuem fortes traços com as vanguardas artísticas da primeira metade do século XX, sobretudo a partir dos anos noventa. Isto posto, nossa hipótese de base é demonstrar como o romance Cidade de Deus de Paulo Lins retoma alguns procedimentos, tanto formais quanto sócio-políticos, das vanguardas artísticas, tais como a fragmentação da narrativa, a enumeração por vezes caótica, a multiplicidade de planos narrativos, a proliferação excessiva de personagens e de papéis sociais, a dimensão pregnante do espaço da favela etc., com o objetivo de demonstrar como estas rupturas formais, no mais das vezes sutis, só têm sentido quando articuladas a fatores de conteúdo, que são sobretudo contestatórios, críticos de um Brasil supostamente harmônico e democrático.

METODOLOGIA:
O método desta pesquisa partiu da leitura dos principais manifestos de vanguarda, incluindo os manifestos da vanguarda brasileira. Em seguida, fizemos a leitura de textos críticos sobre a pós-modernidade que tratam da vanguarda no contexto contemporâneo, a exemplo de Subirats (1993), Jetrik (1995), Balmann (1998) e Schwartz (2002). Por fim, empreendemos a leitura e a análise do romance de Paulo Lins com o intuito de mapear a permanência da vanguarda no contexto contemporâneo a partir das novas demandas do presente postas no romance e como ele articula tais demandas reconfigurando os pressupostos da vanguarda brasileira e internacional.

RESULTADOS:
Uma vanguarda sempre ultrapassa o elemento estético para levantar questões de ordem política, econômica e cultural, social em toda amplitude. Como disse François Albera (2002, p.169) a respeito de Eisenstein ,” os critérios são menos estéticos, intra-artisticos, do que sociais,já que a arte [da vanguarda construtivista russa] atribui a si mesma uma tarefa de peso, a de organizar a vida, e não decorá-la”. Se a hipótese de base aqui é que, na esteira de Albera, a vanguarda é um questionamento das relações sociais vigentes através da literatura e da arte, pensar o fim da vanguarda, como postula certo pós-modernismo, seria supor um mundo em que todas as satisfações pessoais e coletivas foram satisfeitas ou, o que seria no mínimo trágico, os sujeitos deixaram de postular melhoras pessoais e coletivas e se tornaram complacentes com um mundo que os satisfaz. Nas palavras de Eduardo Subirats, “As esperanças éticas, sociais ou estéticas, que um dia formularam as vanguardas, do “construtivismo” da revolução russa ao “canibalismo” da modernidade brasileira, constituem um legado importante ao qual teremos que recorrer uma vez ou outra para poder reformular um novo projeto civilizatório a partir delas” (1993. p. 21).

CONCLUSÕES:
Embora ressalte a pluralidade, o relativismo, a diferença, o discurso crítico pós-moderno tem sido determinante, quando não determinista, em afirmar a obsolescência da vanguarda hoje. Entendemos que no discurso crítico do pós-modernismo, a nova política da cultura capitalista é a despolitização, daí a necessidade, quase sempre enfática, de afirmar o fim das vanguardas, postulando, paradoxalmente, um autoritarismo do relativo e do plural, não levando em que conta que, se os modelos de ruptura vanguardista já foram institucionalizados, os valores contra os quais e pelos quais as vanguardas lutaram ainda não foram efetivamente quebrados e/ou assimilados. Dito de outro modo, a forma da vanguarda foi incorporada, mas suas demandas políticas por justiça e democracia efetiva ainda não, fato que pode ser comprovado a partir da leitura de um romance como Cidade de Deus e de toda a chamada literatura marginal. Em última, a partir da leitura dos diversos manifestos de vanguarda, entendemos que a utopia vanguardista é não só pertinente hoje quanto se transformou numa urgência crítica contra a uniformização cultural e o caráter excludente do capitalismo de mercado.

Instituição de fomento: PROINCI/UEPB

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Vanguarda, Literatura brasileira, Pós-modernismo

E-mail para contato: helena_kel@hotmail.com