60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

PEDAGOGIA ASSISTENCIALISTA VERSUS CULTURA POPULAR: UM ESTUDO DE CASO EM UMA INSTITUIÇÃO BENEFICENTE

Bruna Vianna da Cruz1
Suziane Santana Vasconcellos1
Luís Paulo Cruz Borges1
Deborah Orlandini Ferroco1
Paula Almeida de Castro1

1. Universidade do Estado do Rio de Janeiro


INTRODUÇÃO:
A pedagogia assistencialista e a influência da cultura popular nas atitudes das crianças oriundas das classes desfavorecidas há muito se tornaram objeto de estudo na área de educação (KUHLMANN, 1998). Neste contexto a educação popular preconiza uma prática política que está permutada com a tarefa educativa (FREIRE, 2002). Neto (2006) corroborando esta idéia nos afirma que temos que encarar as crianças como sujeitos em desenvolvimento, ou seja, como indivíduos sociais plenos de direitos. Objetivamos com este estudo analisar o cotidiano de crianças e adolescentes que são clientela de uma fundação beneficente da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, onde funciona um projeto complementar para essas crianças e adolescentes permanecerem no período não escolar e, que apregoa um modelo de pedagogia assistencialista, atendendo a crianças das classes populares.

METODOLOGIA:
Utilizamos como metodologia a observação participante (ANDRÉ, 1995) e a descrição densa, que pressupõe uma contribuição para a investigação científica. Este instrumento de pesquisa pode ser caracterizado não como "um poder, algo a quem pode ser atribuída a causa de eventos sociais, comportamentos, instituições ou processos: é um contexto, algo dentro do que os símbolos podem ser inteligivelmente - ou densamente - descritos" (GEERTZ, 1989, p. 4 ). Estas observações são consubstanciadas através de análises dos princípios do dálogo, da participação ativa e da transformação do indivíduo e do mundo através da práxis, compreendida como "a ação e reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-lo"(FREIRE, 1970, p. 58).

RESULTADOS:
De acordo com nossos resultados podemos verificar que essas crianças vivem em um ambiente de constante risco social, haja vista a violência que permeia os espaços da casa, da escola e da instituição beneficente. Percebemos também que a instituição tem como objetivo “proteger” as crianças dos perigos das ruas, mas não possibilita uma criticidade e uma autonomia para o enfrentamento da realidade vivida. Neste contexto a instituição passa a ser considerada um favor aos pais que podem trabalhar e, enquanto isso, deixam seus filhos assegurados por uma educação que os assiste. Kuhlmann (1998) já falava sobre a diferença no trato pedagógico, que varia de acordo com a classe a quem é destinada. Ou seja, existe uma educação para que os excluídos permaneçam na posição de submissão e, por fim, depois de convencer o indivíduo de sua própria incapacidade e merecimento de piedade, oferece o acesso à educação como um “presente gracioso” que apenas poucos recebem.

CONCLUSÕES:
Constatamos que esta instituição cultiva as desigualdades existentes na sociedade, onde as crianças pobres não obtêm condições necessárias para transformar suas realidades, nem um atendimento educativo eficaz. Encontramos uma educação que parte do preconceito dos pobres que por meio de um atendimento que não possui qualidade, mantém indivíduos estagnados em seus lugares sociais, sem perspectivas de transformação. Neste ínterim acreditamos que a educação está interligada com as nossas vivências cotidianas, ou seja, educação é um processo, não um fim, ela está ligada à prática cotidiana de cada sociedade. Entretanto, esta relação ocorre através de uma percepção de educar para a mudança, ou seja, “mudança de percepção, que se dá na problematização de uma realidade concreta, no entrechoque de suas contradições, implica um novo enfrentamento do homem com sua realidade” (FREIRE, 1983). Esta é a educação que se deve priorizar uma educação transformadora da sociedade, formando cidadãos autônomos e críticos, com saberes de real interesse de seu sujeito, contribuindo desta forma para a que sociedade tenha democracia, inclusão e o respeito às diferenças, como tripé edificante.



Palavras-chave:  Cultura popular, Pedagogia Assistencialista, Educação popular

E-mail para contato: vianna_bruna@yahoo.com.br