60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Há pelo menos 30 anos, profissionais de diversas áreas vêm estudando o conceito de resiliência, o qual está relacionado com a capacidade humana de enfrentar, superar e sair fortalecido de situações adversas. Estudiosos, dentre os quais Lisete BARLACH, Isadora GARCIA, E.H GROTBERG, F. INFANTE, Hilma Tereza KHOURY, S.S. LUTHAR e D. CICHETTI, M. RUTTER, Jorgeane Corrêa RIBEIRO, José TAVARES, têm se perguntado o que faz com que algumas pessoas, mesmo envolvidas por adversidades, apresentem um desenvolvimento biopsicossocial saudável e outras não. A presente pesquisa realizada com crianças e adolescentes em situação de direitos violados, atendidos pelo Projeto Crianças e Adolescentes Resilientes – PROCRIAR, enfoca as linguagens artísticas utilizadas como instrumento de intervenção social na realidade. A investigação visou identificar se a arte como ferramenta interventiva se constitui em elemento propiciador de resiliência em crianças e adolescentes excluídos econômica, social e culturalmente e possibilitador de participação em movimentos de luta pela não aceitação das desigualdades sociais e por políticas que viabilizem a efetivação de seus direitos constitucionais

METODOLOGIA:

A pesquisa foi realizada por meio da observação sistemática e da aplicação de 37 questionários semi-estruturados e acessíveis às crianças e adolescentes, permitindo a obtenção de informações que nos permitiram conhecer melhor o poder reflexivo dos mesmos. Foram aplicados ao total dos participantes das oficinas de Teatro, Canto Coral e Balé do PROCRIAR, o qual utiliza a integração dos saberes do Serviço Social, da Arte-educação e da Comunicação como forma de intervenção social junto a moradores de bairro com alto índice de violência e exclusão social. A observação sistemática objetivou apreender o modo como os ministrantes das oficinas interagiam com os participantes inseridos nas oficinas, enquanto os questionários continham questões que visavam identificar aspectos sociais, econômicos e artístico-culturais, relacionando-os aos fatores de proteção e risco envolvidos no processo de desenvolvimento da resiliência. O emprego deste procedimento metodológico aliado à observação sistemática permitiu a análise e avaliação das possibilidades do uso da arte na promoção da capacidade de crianças e adolescentes de enfrentarem, transformarem e saírem fortalecidos de situações adversas, ampliando a perspectiva de se tornarem ou permanecerem resilientes.

RESULTADOS:

Nem todo fator de risco corresponde a um perigo à criança ou adolescente, assim como nem todo fator de proteção corresponde a uma segurança; portanto da mesma forma que é importante sabermos o que cada situação representa para cada indivíduo, ou como cada um vê a sua realidade, temos que entender como cada um avalia projetos sociais a exemplo do PROCRIAR. Constatamos a importância de brincadeiras e dinâmicas de grupo orientadas como instrumentos de trabalho potencializadores de desenvolvimento ou fortalecimento de qualidades humanas que caracterizam a resiliência: inteligência, liberdade, tolerância, justiça, responsabilidade, flexibilidade e solidariedade. Do universo pesquisado, identificamos que, 100% acreditam no trabalho do PROCRIAR, referindo os seguintes motivos: 1. o vêem como uma forma de ajuda; 2. acreditam poder alcançar, através dele, o seu projeto de vida profissional; 3. consideram-no um meio para contrução de amizades através das brincadeiras; 4. gostam de aprender coisas novas; 5. é um direito das crianças e adolescentes; 6. Tira as crianças das ruas, ocupando-lhes o tempo livre ; e 7. pode ajudá-los a realizarem o sonho que alguns têm de ser artista.

CONCLUSÕES:

A Arte tem um surpreendente poder de trabalhar a realidade através da ludicidade. Neste sentido, há necessidade de planejar as técnicas utilizadas nas oficinas de forma a viabilizar momentos de utilização de filmes acessíveis aos atendidos e que retratem problemáticas presentes em sua realidade, com o intuito de, através de comentários e discussões acerca das temáticas, chegarem à otimização dos resultados. A pesquisa confirma haver pessoas com déficit de resiliência, e que, as Ciências Humanas têm muito a contribuir para o desenvolvimento na mente humana e na sociedade das qualidades que a caracterizam. Entender que capacidade humana é essa que faz com que as pessoas mudem suas trajetórias de vida, e em alguns casos transformem uma situação de dor em recompensa é o que alimenta e fortalece a pesquisa. Por isso propomo-nos avançar nos estudos da resiliência, considerando ser um fenômeno que pode ser instituído de forma a garantir valores de eqüidade social, relacionados aos direitos humanos.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Arte, Resiliência, Serviço Social

E-mail para contato: vascocibele@hotmail.com