60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 2. Economia e Sociologia Agrícola

IMPACTOS ECONÔMICOS DAS POSSÍVEIS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA CULTURA DO FEIJÃO NOS ESTADOS DE GOIÁS E MINAS GERAIS.

Natalia Pivesso Martins1
Eduardo Delgado Assad2

1. Graduanda em Geografia, Instituto de Geociências - Unicamp. Bolsista Embrapa
2. Engenheiro Agrícola,Pesquisador, Bolsista do CNPQ, Embrapa CNPTIA - Orientador


INTRODUÇÃO:
O feijão é considerado como alimento básico na dieta da população brasileira, sendo o país, um contribuinte considerável na produção mundial desta cultura, mas também um grande consumidor. Sabe-se que dentre os parâmetros climáticos que mais influenciam a produtividade do feijoeiro, destacam-se a temperatura do ar e a radiação solar. A temperatura do ar é o parâmetro climático que mais exerce influência sobre a porcentagem de vingamento de vagens e, de maneira geral, prejudica o florescimento e o enchimento de grãos. Para que o feijoeiro possa atingir seu rendimento potencial, a temperatura do ar deve oscilar entre 12°C, 21°C e 29°C, nos valores mínimo, médio e máximo, respectivamente. A radiação solar influencia consideravelmente as taxas de fotossíntese do feijoeiro. Tanto no Estado de Goiás como no de Minas Gerais, o cultivo do feijão é de grande importância, dessa forma decidiu-se analisar os impactos das possíveis mudanças climáticas no zoneamento de risco climático do feijão nesses Estados.

METODOLOGIA:
Basicamente os estudos foram fundamentados nos resultados de Farias et al. (2001), Meireles et al. (1997,2001,2002,2003), e dos impactos das mudanças climáticas na agricultura apresentados por Assad et al (2004), Nobre et al. (2005). Onde utilizam-se como parâmetros, para essa cultura em ambos estados, fatores como: precipitação pluviométrica diária (dados de 121 estações – 25 anos); evapotranspiração potencial; coeficiente de cultura; ciclo e fases fenológicas do feijoeiro (90 dias de ciclo); disponibilidade de água no solo (baixa, média e alta capacidade de armazenamento) e foram efetuadas simulações para 15 épocas de plantio (outubro-fevereiro). Para a espacialização dos resultados utilizou-se a freqüência de 80%, ou seja somente são admitidas como datas de plantio de baixo risco quando o valor da ETR/ETM for maior que um valor de corte, em 80% dos casos. Cada valor de ETr/ETm (evapotranspiração real/evapotranspiração máxima, ou no caso desse trabalho ISNA – Índice de satisfação de necessidade de água) na fase de enchimento dos grãos, foi associado à localização geográfica da respectiva estação pluviométrica, para posterior elaboração dos mapas utilizando-se um Sistema de Informação Geográficas. A definição do risco climático foi feito através de três classes de ETr/ETm, como segue: ETr/ETm >0.60 – favorável, ETr/ETm ≥ 0.50 e < 0.60 – intermediário, e ETr/ETm < 0.50, desfavorável.Para avaliar os impactos das mudanças climáticas, novas simulações foram feitas calculando-se a ETp (evapotranspiração potencial) com o acréscimo de 1, 3 e 5.8°C. Após as novas estimativas do ISNA, foram restabelecidos novos zoneamentos de risco climáticos e comparadas à produção atual com as possíveis mudanças na produção face aos cenários de aumento de temperatura. Para avaliar os impactos no aspecto econômico, obteve-se dados da CORREPAR (www.correpar.com.br - 10/2006), utilizou-se o preço médio dos valores cotados (mínima e máxima) da saca do feijão, onde seu valor estimado de R$ 64,00 a saca de feijão, utilizando-os como base para os cálculos relacionados a produção.

RESULTADOS:
No Estado de Goiás, com aumento de 5,8ºC, verifica-se um forte impacto com redução de 99% na área de plantio do feijão com baixo risco climático. Aumentando a temperatura média em 3ºC, a redução é de 74% da área de baixo risco. Além dos reflexos na atividade evapotranspirativa e maior sensibilidade ao déficit hídrico, para se aumentar a temperatura média em 3ºC, a concentração de CO2 deve chegar a 550 ppm, o que é fitotóxico para o feijão. Em termos absolutos a redução na produção é de 210 mil toneladas o que equivale a R$ 222 milhões de reais que não fariam mais parte da cadeia produtiva do feijão para essa região. Em Minas Gerais, a redução é de 98% da área de baixo risco, refletindo em termos financeiros com uma redução de 366 milhões de reais na produção final. Esses impactos mostram a vulnerabilidade da agricultura tropical, quando submetida aos possíveis efeitos do aquecimento global. A situação é consideravelmente preocupante, caso sejam mantidas as características genéticas das cultivares de feijão plantadas hoje. Importantes pesquisas em biotecnologia visando adaptabilidade dessas cultivares devem ser feitas no sentido de se obter materiais mais tolerantes a deficiência hídrica e a temperaturas mais elevadas.

CONCLUSÕES:
Baseado nos resultados obtidos e analisados da produção do feijão (Phasealus vulgaris) e os cenários feitos com o aumento da temperatura do ar nos próximos 100 anos, previsto pelo IPCC, há uma sensível redução de áreas de baixo risco para o plantio dessa cultura, nos estados de Goiás e Minas Gerais. Em ambos os casos, no cenário mais extremo, ou seja, de aumento de temperatura de 5,8ºC, é possível que haja uma redução nas áreas de baixo risco de plantio de feijão, em mais de 97%. Os impactos econômicos seriam de 222 milhões de reais de redução da produção no estado de Goiás e de 366 milhões de reais no Estado de Minas Gerais.

Instituição de fomento: Trabalho financiado pelo CNPq e Embrapa.



Palavras-chave:  Mudanças climáticas, Zoneamento de risco climático, Agricultura Brasileira: Feijão

E-mail para contato: natalia.pivesso@ige.unicamp.br