60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 80. Serviço Social

IMPACTOS DO AGRONEGÓCIO NA VIDA DO TRABALHADOR RURAL NO CORTE DA CANA-DE-AÇÚCAR.

Gabriela Antunes dos Santos Antonio3
Suellen C. P. B. de Sousa3
Raquel Santos Sant'Ana2

2. Departamento de Serviço Social
3. discente de Serviço Social da FHDSS - UNESP, C. Franca


INTRODUÇÃO:
A proposta do resumo é de discorrer sobre a realidade do trabalhador rural assalariado no corte da cana na região administrativa de Ribeirão Preto, SP, principalmente no período em que vivemos da expansão canavieira e fortalecimento do agronegócio. Os dados parciais aqui apresentados fazem parte da pesquisa: “A reprodução social do trabalhador que tem ou teve como atividade principal o corte da cana – um estudo sobre a relação capital/trabalho na macro-região de Ribeirão Preto, SP” . A pesquisa surge ao passo do desenvolvimento do chamado “Agroneócio” na região, onde o que predomina no campo é a monocultura de produtos de alto valor comercial, em geral para exportação, grandes extensões de terra, utilização de alta tecnologia, porém ainda com muito trabalho, no caso no corte da cana, realizado manualmente, com intensidade na produção e relações de trabalho precarizadas atingindo principalmente o cortador da cana-de-açúcar.

METODOLOGIA:
Para esta pesquisa foram selecionados 16 municípios das 8 regiões administrativas, sendo dois de cada região: Franca - Restinga e Patrocínio Paulista; Ituverava - Aramina e Guará; São Joaquim da Barra - Miguelópolis e Nuporanga; Barretos - Colômbia e Colina; Jaboticabal - Cândido Rodrigues e Terra Roxa; Araraquara - Gavião Peixoto e Motuca; São Carlos - Analândia e Ribeirão Bonito; Ribeirão Preto - Luiz Antonio e Santa Cruz da Esperança. Após a seleção foram realizados: levantamento de dados em sítes de pesquisa sobre os municípios, e entrevistas com assistentes sociais de cada município para coletar dados que possibilitassem uma melhor caracterização local; e apreender a percepção do profissional sobre a interface da questão agrária presente em seu trabalho cotidiano. Assim, partimos para a entrevista semi-estruturada com os trabalhadores rurais do município de pesquisa, que estejam trabalhando ou que já tenham trabalharam no corte da cana-de-açúcar. Até o momento foram realizadas entrevistas nos seguintes municípios: Motuca (Araraquara), Miguelópolis e Nuporanga (São Joaquim da Barra), Patrocínio Paulista (Restinga) e Guará (Ituverava), completando ao todo 09 entrevistas, pois no município de Patrocínio só foi possível a realização de uma entrevista.

RESULTADOS:
Através das entrevistas foi possível perceber que os trabalhadores são submetidos há um intenso ritmo de trabalho para conseguirem atingir uma produtividade, o que lhes garantirá um melhor salário ao fim do mês, pois esses variam de acordo com o que produzem, e lhes garantirá trabalho na próxima safra. Muitos relatam que chegam a cortar 25 ou 26 toneladas por dia. O elemento mais alarmante constatado em todas as entrevistas foi a de problemas de saúde dos próprios entrevistados, relacionadas ao trabalho na cana. Todos apresentaram ter algum problema de coluna, e já tiveram problemas como cãibras fortes e dores pelo corpo decorrentes do excesso de trabalho, muitos citando casos extremos vivenciados ou por eles próprios, ou por colegas de trabalho. Além disso, diversos elementos que comprometem a reprodução social desses indivíduos foram surgindo nas entrevistas: condições de moradia, geralmente espaços alugados, contratação temporária por safra, caso não atinjam mínimo de produtividade ou tenham tido muitos problemas de saúde, não conseguem nova contratação. Ao serem perguntados sobre o que esperam do futuro, a maioria afirma o desejo de condições de criar seus filhos e possibilitá-los do acesso à escola, para que não precisem trabalhar nas mesmas condições que eles.

CONCLUSÕES:
A realidade dos trabalhadores rurais é aviltante, o trabalhador que não consegue produzir o nível esperado é substituído como uma mercadoria, e o trabalhador que está no corte da cana é submetido ao trabalho desumano, que compromete sua saúde diariamente. De 2004 a 2007 foram registradas 19 mortes nos canaviais paulistas por motivos diretamente ligados ao processo de produção canavieira. A situação dos trabalhadores vem à tona, principalmente após essas mortes, que contrapõem a enorme publicidade e investimentos na expansão canavieira e no próprio agronegócio. Os impactos dessa proposta de “desenvolvimento” trazem reflexos degradantes para a vida humana, em especial à dos trabalhadores rurais.

Instituição de fomento: PIBIC / CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  questão agrária, saúde, trabalho

E-mail para contato: gabi_ss_unesp!yahoo.com.br