60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 2. Enfermagem de Saúde Pública

PERCEPÇÕES ACERCA DO TRABALHO E LAZER DE PROSTITUTAS DE FORTALEZA

Levânia Maria Benevides Dias1
Ana Izabel Oliveira Nicolau1
Diego Jorge Maia Lima1
Priscila Bomfim Costa1
Priscila de Souza Aquino2
Ana Karina Bezerra Pinheiro3

1. Graduandos em Enfermagem-UFC/ Bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET)
2. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC)
3. Doutora em Enfermagem/Orientadora. Professora Adjunto II da UFC


INTRODUÇÃO:
O trabalho e o lazer podem ter diferentes significados para cada indivíduo, com efeitos sobre a saúde. Muitos aspectos permeiam essas atividades no ambiente da prostituição. Tal trabalho oferece agravos iminentes às prostitutas, visto que lidam com pessoas desconhecidas, além do risco de aquisição de doenças, riscos de violência e instabilidade laboral. O lazer, muitas vezes esquecido, também é relevante para a qualidade de vida das prostitutas. A prostituta apresenta uma gama de especificidade e vulnerabilidades concernentes à sua prática laboral que necessita ser elucidada para o alcance de seu bem-estar bio-psico-social. Na tentativa de compreender as necessidades dessa população no referente ao trabalho e distração, para a atuação profissional junto a essa clientela, decidimos trabalhar um referencial teórico que abrangesse as necessidades humanas. Optamos, então, pelo Modelo de Atividades de Vida desenvolvido por Roper, Logan e Tierney, focalizado em um conjunto de doze atividades de vida, dentre as quais selecionamos a atividade de vida Trabalhar e distrair-se. Para isso, realizamos o presente estudo com o objetivo de compreender o desempenho da atividade de vida Trabalhar e distrair-se por prostitutas de Fortaleza.

METODOLOGIA:
Estudo descritivo com abordagem qualitativa. Utilizamos um roteiro semi-estruturado com perguntas norteadoras acerca das atividades de vida a prostitutas (6) que realizaram consulta de enfermagem em ginecologia previamente. Utilizamos também a observação livre e o registro em um diário de campo para coleta de dados. As entrevistas ocorreram em setembro e outubro de 2007, nos domicílios e locais de trabalho das prostitutas, tendo o Modelo de Roper, Logan e Tierney como referencial teórico. Como critérios de inclusão no estudo selecionamos: ser prostituta associada à Associação de Prostitutas do Ceará (APROCE); possuir idade igual ou superior a 18 anos; e trabalhar nas zonas situadas no Serviluz, Centro da cidade e a Barra do Ceará. Para análise das falas utilizamos estruturas categóricas já prontas, relacionadas às doze atividades de vida. Foram obedecidos os aspectos éticos e legais para pesquisa com seres humanos conforme Resolução 196/96 e o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Ceará.

RESULTADOS:
Algumas falas expuseram a relação presente entre álcool e trabalho: Quando bebo, tem vezes que não uso camisinha. Eu bebo muito porque a gente trabalha num bar e tem que dar lucro pra casa, né (E1). O uso do condom nos programas emergiu nas seguintes falas: Mesmo sendo de muito tempo uso camisinha. E programa sem camisinha não dá pra gente ir não (E2). Eu uso camisinha sim, com os clientes novos, com os homens que eu não conheço. Os que vêm sempre a gente não usa não...(E5). Já em relação ao lazer exercido pelas entrevistadas percebemos a associação realizada por elas mesmas entre depressão e ausência de atividades de lazer, além da percepção do trabalho exercido como um escape à tristeza e depressão: Eu morro de medo de ter depressão. Não tenho nenhum lazer. Vivo triste...(E4). Eu gosto do meu trabalho, eu gosto de me vestir, me arrumar...Eu ficando em casa envelheço dez anos, uma semana que passo em casa. Porque só ouvir música não enche barriga...(E5). Agora tenho lazer, ir pro interior, fico lá mais ele, a gente sai, vamo pra lagoa, tomar banho, passear... (E2).

CONCLUSÕES:
A busca por aspectos qualitativos com a finalidade de compreender os fatos que envolvessem os sujeitos em estudo permitiu revelar aspectos peculiares da sua prática profissional e do lazer, que influenciam diretamente na qualidade de vida das mesmas. Percebemos que as prostitutas possuem riscos profissionais pelo uso flexível do condom, além da ausência de atividades de lazer consistentes, referentes a momentos de descontração, o que poderá incidir sobre a ocorrência de casos de depressão. As ações voltadas a essa população devem estar embasadas no conhecimento das principais necessidades e vulnerabilidades a que estão submetidas. É necessário que o profissional de saúde esteja livre de preconceitos, pois esses poderão influenciar na qualidade do atendimento oferecido a essa população.

Instituição de fomento: Secretaria de Ensino Superior - Programa de Educação Tutorial



Palavras-chave:  prostituição, trabalho, enfermagem

E-mail para contato: levaniadias@hotmail.com