60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

LAZER E MODO DE PRODUÇÂO NO DISTRITO DE SÃO MARTINHO/ROLÂNDIA/PARANÁ

Andréa Scomparin1, 2

1. Escola Municipal Salim Aboriam - Prefeitura Municipal de Londrina
2. Grupo de Est./Pesq. Marxismo, História, Tempo Livre e Educação - EMH/CEFE/UEL


INTRODUÇÃO:
Comunidades sediadas em pequenos distritos apresentam relações de trabalho/lazer claramente configuradas? Esta é a questão que vem norteando uma série de estudos que retratam a rede de lazer de comunidades situadas na Região Norte do Estado do Paraná. Transitando entre estudos etnográficos e a concepção materialista e dialética da história, vimos procurando desvelar os papéis que cumprem nestas comunidades as diferentes práticas reconhecidas na atualidade como “lazer”. Com esta finalidade, realizamos os estudos “A Rede de lazer em São Martinho/Rolândia/Paraná”, “A Festa no Clube 25 de Julho – Festa no Barreiro”, “O papel social dos Bailes de Tulha e de Terreiro que acontecem nas décadas de 1950 a 1970 em São Martinho”. Neste conjunto de estudos vimos procurando compreender as festas, enquanto práticas que antecedem a existência do lazer destacada das relações de trabalho, tal como se processa na modernidade. Trata-se de entender os papéis que cumpriam estas práticas no processo de Colonização da Região Norte do Paraná (a partir de 1930) e os nexos destas festas com os conflitos (relações de produção) decorrentes da distribuição das forças produtivas na região.

METODOLOGIA:
A primeira etapa da pesquisa parte da etnografia com vistas a mapear o modo de viver o tempo do trabalho e das atividades de divertimento (1998). Foram realizadas observações diretas intensivas, com registros em caderno de campo e por meio de fotografias, com a produção de um trabalho final que retratava a rede de lazer da comunidade sãomartinhense. A segunda etapa da pesquisa parte da pesquisa participante para retratar o processo completo de produção da Festa de 50 anos do Clube 25 de Julho - Comunidade Água do barreiro (2001). Colocando-nos como integrantes do processo de produção da festa, realizamos junto com os membros da comunidade todo processo de preparação, participando das reuniões de planejamento, da execução da infra-estrutura, da festa, e do desmonte e limpeza do local. Todas as etapas foram registradas por diversos meios (anotações de campo, gravações, fotografias e filmagens). A terceira pesquisa, em andamento, de caráter bibliográfico e documental, visa, a partir da Concepção Materialista e Dialética da História, caracterizar os papeis socais destes bailes que aconteciam nas tulhas e nos terreiros. Trata-se de reconhecer o vinculo destas práticas com o processo de produção da existência na região, e seus nexos mais amplos com o modo de produção Capitalista.

RESULTADOS:
As atividades de divertimento - as brincadeiras das crianças na rua, a festa, o baile, o acampamento no fundo de casa dos adolescentes, os passeios das mulheres, o crochê, a ida à lanchonete, etc - são mediados por relações de trabalho - nos sítios, na escola, nas casas ou nas cidades vizinhas - que ocorrem sempre em um modo de vida marcado pela identidade e pelos laços de pertencimento, configurando-se uma delicada integração trabalho e lazer entre as diferentes faixas etárias. Este modo de viver se efetiva pelos vínculos de comunidade decorrentes do processo de ocupação dos territórios no Norte do Paraná na década de 1930, formando uma teia social que tem nas práticas sociais de lazer a confirmação reafirmação destas relações. Estas Comunidades reafirmam através da “Festa no Barreiro” sua identidade, ancorando ali seu modo de vida sempre permeadas pelas relações de parentescos e pelas alianças entre os membros das comunidades. O que resta compreender é a base material e histórica que responde a existência destas práticas, de forma a encontrar o cenário real destas práticas.

CONCLUSÕES:
Pode-se dizer que as comunidades não conseguem escapar da dinâmica da industrialização que leva a divisão do tempo e sua fragmentação em tempo de trabalho e lazer. Entretanto, há peculiaridades nestas comunidades, decorrentes das próprias relações de produção que se dão no lugar. Estas relações de produção estão caracterizadas pelo predomínio das relações de parentesco no processo histórico de distribuição dos meios de produção e ocupação do lugar. O trabalho organiza-se nas mesmas relações em que vão, mais tarde, ocorrer as festas. A resistência ao processo de modernização não interrompe as mudanças, mas fortalece os laços de comunidade advindos do processo particular em que se formam e que até hoje permanecem na Região Norte do estado do Paraná.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave:  Estudos do Lazer - Festa, Comunidades, Modo de Produção

E-mail para contato: scomparin29@bol.com.br