60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

ESTUDO DA CATEGORIA MODO DE PRODUÇÃO DA EXISTÊNCIA NA OBRA DE MARX E ENGELS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A COMPREENSÃO DA PROBLEMÁTICA DO LAZER.

Elza Margarida de Mendonça Peixoto1
José Claudinei Lombardi2
Kátia Oliver de Sá3
Maria de Fátima Rodrigues Pereira4
Andréa Scomparin1
Vanessa da Silva Guilherme1

1. Departamento de Estudos do Movimento Humano – CEFE – UEL
2. Departamento de Filosofia e História da Educação – FE – UNICAMP
3. Faculdade de Educação – UFBA
4. Departamento de Ciências Humanas – UNC


INTRODUÇÃO:
O estado da arte na produção do conhecimento referente aos estudos do lazer no Brasil evidencia íntimas conexões entre a implementação de políticas públicas voltadas à recreação e ao lazer da classe operária e a produção do conhecimento – trata-se da produção de alternativas que garantissem a ocupação do temeroso tempo livre gerado como conseqüência das contraditórias relações de classe no Brasil. Esta íntima conexão coloca aos pesquisadores da problemática do lazer o enfrentamento do contexto político econômico em que se deflagra a preocupação com esta problemática no Brasil. A nosso ver, é a obra de Marx e Engels que fornece o referencial teórico-metodológico mais completo para a compreensão das condições que levam à deflagração da preocupação com a ocupação do tempo livre do trabalhador – que vai ocorrer em todo o mundo e não apenas no Brasil – na medida em que interpretam as motivações que explicam a luta de classes em todo o século XIX: é o modo como os homens estão produzindo e reproduzindo sua existência que determina as condições em que vivem, as políticas que implementam e o conhecimento que produzem. A compreensão da prática social, das políticas públicas e da produção do conhecimento que visam encaminhamentos para a problemática do lazer situa-se neste contexto.

METODOLOGIA:
A nosso ver, torna-se central para a compreensão da problemática do lazer o estudo da estrutura explicativa desenvolvida por Marx e Engels a partir de A ideologia alemã, que explica, à luz da história, o modo capitalista de produção e as correspondentes relações de produção nele predominantes. Desta forma, a partir da revisão da obra de Marx e Engels, busca-se os fundamentos teóricos explicativos dos nexos e contradições da prática social, das políticas públicas e da produção do conhecimento referentes aos estudos do lazer no contexto da consolidação do modo capitalista de produção e reprodução da existência no século XX, especificamente, na etapa do capitalismo monopolista e imperialista vivenciada pelo Brasil neste período. A revisão da obra de Marx e Engels tem sido executada respeitando-se a cronologia das obras que vão expor o processo de construção da categoria modo de produção.

RESULTADOS:
A fim de superar as discussões que naturalizam a prática social do lazer como um impulso do gênero humano (reconhecido genericamente como um impulso lúdico típico de todos os animais e que no homem assume a forma de produção de cultura), trazemos à tona a discussão de que no modo capitalista de produção o lazer assume não só o caráter de mercadoria, mas torna-se um importante meio de circulação de mercadorias e de propagação da hegemonia capitalista. No capitalismo, todas as práticas são direcionadas à produção e veiculação de mercadorias com vistas à reprodução do capital. A fruição do tempo não pode ocorrer descolada desta ordem. O lazer, enquanto tempo de ócio, de fruição da cultura que a humanidade vem produzindo ao longo de sua história, ocorre subsumido à ordem do capital, reduzindo-se todas as necessidades humanas a bens comercializáveis, passíveis de aquisição e usufruto apenas por meio da posse dos meios de lazer, convertidos todos em mercadorias. Ainda que tergiversemos sobre as potencialidades criativas do homem, tais potencialidades se efetivam a partir da atuação concreta sobre objetos da natureza. O grau de distanciamento dos meios utilizados para a fruição do lazer de sua forma natural não anula esta premissa.

CONCLUSÕES:
O trabalho alienado é fruto de relações de produção nas quais o processo produtivo como um todo e as forças produtivas estão sob a propriedade privada da burguesia, e no qual o trabalho realiza-se condicionado e determinado pelos interesses do burguês, na condição de proprietário dos meios de produção. No conflito de interesses que vai determinar a luta de classes no seio do capitalismo, está a explicação para a produção histórica do tempo livre do trabalho explorado e todas as políticas e projetos para este tempo que se delineiam a partir de então. É à luz da luta de classes subjacente ao modo de produção capitalista, no qual os projetos da burguesia e da classe trabalhadora serão sempre antagônicos e conflitantes, que devemos buscar a explicação para a problemática do lazer. É a categoria modo de produção que permite compreender a totalidade das relações contraditórias e dialéticas nas quais o trabalho para a produção da existência se dá alienado; nas quais a fruição do tempo livre (e nele, o lazer) aparece, ao mesmo tempo, como continuidade (na forma do lazer alienado, reduzido ao consumo obsessivo e obcecado de práticas, objetos e símbolos) e possibilidade de ruptura (na forma da constatação da condição miserável na qual vivem os homens no modo capitalista de produção).



Palavras-chave:  Modo de Produção, Tempo Livre, Marx e Engels

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