60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 4. Saúde Pública

ATIVIDADE INIBITÓRIA DE COMPOSTOS ORGANOESTÂNICOS NA ECLOSÃO DE OVOS DE ACHATINA FULICA

Marísia Muniz Alves Aguiar1
Maycon Bruno de Almeida1
Roberto Santos Barbiéri1, 2
Mônica Irani de Gouvêia1, 3

1. Faculdade de Minas - FAMINAS Muriaé
2. Faculdade de Minas - FAMINAS Muriaé - Prof. Dr. / Orientador
3. Faculdade de Minas - FAMINAS Muriaé - Prof. Ms. / Orientadora


INTRODUÇÃO:
O Achatina fulica, conhecido como caramujo gigante africano, é um molusco pulmonado terrestre originário da África. Sua inserção no território brasileiro, deveu-se ao cultivo e ao comércio de “escargots” para a alimentação exótica em restaurantes de todo o litoral. Na agricultura, esse molusco tem se tornado uma praga nas duas últimas décadas, com redução na produtividade e na qualidade dos produtos da horticultura brasileira. Parasitologicamente, o A. fulica está envolvido na transmissão de Angiostrongylus cantonensis, nematódeo causador da angiostrongilíase meningoencefálica no homem. Os compostos organoestânicos são caracterizados por uma ou mais ligações estanho-carbono. Dentre eles destacam-se o cloreto de trimetilestanho e dicloro de dimetilestanho que têm demonstrado possuir características biocidas, e o cloreto de tributilestanho que possui a vantagem de ser degradado em dióxido de estanho (SnO2) sendo atóxico para o meio ambiente. Nesse contexto, fez parte do escopo do presente estudo analisar e comparar a atividade inibitória das concentrações de 10 mg L-1, 100 mg L-1 e 1000 mg L-1 do cloreto de trimetilestanho, do dicloro de dimetilestanho e do cloreto de tributilestanho na eclosão de ovos de A. fulica.

METODOLOGIA:
O presente trabalho foi desenvolvido no Laboratório de pesquisa da Faculdade de Minas - FAMINAS, Muriaé - MG, onde a umidade relativa do ar oscilou entre 80 e 90% e a temperatura variou entre 20 e 30 ºC. Os ovos utilizados foram obtidos a partir da criação matriz de moluscos coletados em hortas e jardins do município de Muriaé. Os ovos de A. fulica foram retirados do terrário-matriz no dia da oviposição e acondicionados em recipientes plásticos de 12,0 cm de diâmetro por 9,0 cm de profundidade, contendo 90,0 gramas de terra vegetal esterilizada (120 ºC/1 hora). Em cada terrário-filho foram colocados 20 ovos, sendo o experimento realizado em triplicata, para as concentrações de 10 mg L-1, 100 mg L-1 e 1000 mg L-1 dos compostos cloreto de trimetilestanho, dicloro de dimetilestanho e cloreto de tributilestanho, em temperatura ambiente. Foram adicionados ao meio 10 mL de solução aquosa dos compostos estânicos em análise nas três concentrações mencionadas no tempo zero (T1) e 24 horas após a primeira aplicação (T2). Foram utilizados dois grupos-controle, um em temperatura ambiente e outro em estufa a 23 ºC. Aos controles foram adicionados 10 mL de água destilada, nos mesmos tempos acima citados. Após a eclosão dos ovos nos controles, avaliou-se a ruptura dos mesmos nos terrários-filhos. A média dos valores foi analisada utilizando-se o teste t de Student.

RESULTADOS:
A eclosão dos ovos pertencentes aos controles ocorreu nove dias após a oviposição, sendo que no controle em temperatura ambiente, 90% eclodiu e no controle em temperatura constante (23 ºC), a eclosão teve 100% de eficiência. No mesmo período de tempo, nos terrários-filho submetidos ao tratamento com cloreto de trimetilestanho na concentração de 10 mg L-1, observou-se a eclosão incompleta de 10% dos ovos de A. fulica, enquanto nas concentrações de 100 e de 1.000 mg L-1, não foi observada a eclosão de ovos. Em relação ao tratamento com dicloro de dimetilestanho na concentração de 10 mg L-1, observou-se a inibição da eclosão de 57,5%, enquanto nas concentrações de 100 mg L-1, o índice de inibição foi de 50% e sob 1.000 mg L-1, foi de 67,5%. Sob a concentração de 10 mg L-1 de cloreto de tributiestanho, observou-se a inibição da eclosão de 82,5% dos ovos e sob as concentrações de 100 e de 1000 mg L-1 houve inibição da eclosão de 95%. A partir dos resultados observou-se uma considerável variação na eficiência inibitória em relação aos compostos testados e suas concentrações. O cloreto de trimetilestanho foi o mais eficiente em todas as concentrações se comparado aos outros compostos. Em relação às análises sob concentração de 100 mg L-1, observou-se que os cloretos de trimetil e tributilestanho obtiveram sua máxima atividade inibitória, em contrapartida, nesta mesma concentração, o dicloro de dimetilestanho apresentou a menor atividade inibitória se comparado com as outras concentrações testadas do mesmo.

CONCLUSÕES:
A presente pesquisa possibilitou verificar que os compostos organoestânicos apresentam atividade moluscicida sendo coerente a utilização destes na fase de oviposição de Achatina fulica. A atividade inibitória dos compostos mostrou-se diferenciada a partir das variações moleculares existentes entre eles, demonstrando assim que, aliado à atividade do grupamento carbono-estanho, os grupos substituintes exercem um papel determinante na atividade inibitória total do composto. A solução aquosa dos compostos organoestânicos analisados no presente trabalho é de fácil aplicação e pode ser usada com pulverizadores manuais e mecanizados para o eventual controle desses moluscos na agricultura e em serviços de vigilância epidemiológica. Uma vantagem do cloreto de tributilestanho é que seu uso na horticultura será viável porque o produto de sua decomposição é atóxico. A importância do trabalho é mais significativa ainda pelo fato de que a inibição da eclosão dos ovos da A. fulica é uma forma de controle também do Angiostrongylus cantonensis que encontra no caramujo gigante seu hospedeiro.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Achatina fulica, Atividade inibitória

E-mail para contato: marisia_aguiar@yahoo.com.br