60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística

PROCESSO DE MONOTONGAÇÃO NO BREJO PARAÍBANO: UMA ANÁLISE VARIACIONISTA

Luana Anastácia Santos de Lima1
Rubens Marques de Lucena1, 2

1. Universidade Estadual da Paraíba - Campus III
2. Prof. Dr. Orientador


INTRODUÇÃO:
Desde muito tempo que a língua vem sendo observada e estudada por lingüistas e especialistas da área. Porém, até o século XX, esses estudiosos, como os neogramáticos, os estruturalistas e os gerativistas, em sua grande parte, não trabalhavam com a variação lingüística, e quando o faziam, descartavam seu caráter natural, considerando-a, assim, apenas um acidente desencadeado através da linguagem em uso. Foi a partir da década de 60, que o estudo da língua passou a ser visto com outros olhos, e a relação língua e sociedade encarado como essencial no estudo da linguagem. Essa inovação no que diz respeito aos estudos lingüísticos foi conduzida por William Labov, que propõe a Teoria da Variação Linguística e esclarece bem a questão da heterogeneidade e dinamismo do sistema lingüístico. Labov desenvolveu a Sociolinguística Variacionista com o propósito de fixar um modelo de descrição e interpretação do fenômeno lingüístico no contexto social, que, além de ter sido impactante para a Linguística Contemporânea, vêm sendo a base dos estudos lingüísticos até os dias atuais. A Sociolinguística trata da diversidade lingüística e acredita que a sociedade pode ser a causa de uma enormidade dessas variações que não podem ser explicadas apenas em termos geográficos (no caso dos dialetos regionais) ou idiossincráticos (no caso dos ideoletos). Há vários estudos realizados nessa perspectiva. Aqui no Brasil, em relação ao português, pode-se dizer que se tem trabalhos, relacionados aos falares locais, de grande contribuição no campo da análise lingüística, tais como, o PEUL; VARSUL e VALPB. Porém ainda é preciso ampliar esses trabalhos voltados para a variação lingüística no Brasil, extendendo-os para o interior dos estados brasileiros, principalmente ao que diz respeito à Região Nordeste. A carência de estudos lingüísticos que favoreçam a maior compreensão da língua falada no interior do Nordeste do Brasil acarreta, muitas vezes, uma rejeição a certas variedades usadas, concretizada na desqualificação de pronúncias, construções gramaticais e usos vocabulares, por parte de não especialistas em linguagem. Como conseqüência desse processo desastroso, tende-se a reagir de maneira preconceituosa. (ALKMIN, 2005, p. 42). Diante dessa realidade nefasta, e afim de saná-la, percebe-se a necessidade de, cada vez mais, fomentar e ampliar pesquisas neste sentido, de modo a proporcionar um conhecimento mais abrangente da língua portuguesa e de suas variações. A sociolingüística tem um papel fundamental nesse estudo, pois é sua função demonstrar e explicar as variações existentes em uma determinada língua e relacionar essas variações lingüísticas observadas à diferentes fatores existentes na estrutura social da comunidade falante dessa determinada língua. Ou seja, a sociolingüística se ocupa do estudo das variações lingüísticas em sua relação com fatores sociais, recorrendo à essas variações para encontrar respostas para os problemas que emergem da variação inerente ao sistema lingüístico. Nessa perspectiva, pode-se perceber que a partir da sociolingüística, passou a se compreender o sistema heterogêneo da língua, o qual está sempre em constante mudança. Diga-se de passagem, que a Sociolinguística apresenta-se como uma reação à homogeneidade e a ausência do componente social do modelo gerativo, insistindo na relação entre língua e sociedade e revelando outras dimensões da realidade heterogênea das línguas. (LABOV, 1972). Além disto, os fatores atuantes na variação lingüística também podem ser classificados em variáveis internas ou lingüísticas onde entram os elementos fono-morfo-sintáticos, os semânticos e os discursivos e em variáveis externas ou extralingüísticas, que se referem aos fatores inerentes ao indivíduo (sexo, idade, etnia), ao espaço sócio-geográfico (região, profissão, classe social) e ao contexto (grau de formalidade e tensão discursiva). Esse modelo variacionista laboviano mantém separado o que é lingüístico e o que é social, não produzindo inovações ao que diz respeito à análise propriamente lingüística, mas somente aproveitando esses tipos de análise (fonológicas, sintáticas e morfológicas), postos à disposição pelo estruturalismo e pelo gerativismo, além de estabelecer uma correlação com os fatores sociais. A atuação destas variáveis poderá ser medida através da análise de dados empíricos, o que possibilitará o pesquisador investigar os fatores condicionantes no processo de variação ou mudança lingüística. Labov foi o responsável por atribuir às regras opcionais, já existentes no modelo gerativo, o status de regra variável, incorporando a variação sistemática à descrição lingüística. Para Labov (LABOV, 1972), essa regra variável deve ter freqüência de uso expressiva e estar sujeita à interferência tanto de fatores lingüísticos quanto de fatores extralingüísticos. É através desse modelo matemático teórico criado por Labov, que o pesquisador poderá coletar dados empíricos e proceder a análise dos fatores condicionantes no processo de variação ou mudança lingüística. Diga-se de passagem, que é a partir desse novo modelo teórico que surge a distinção entre os termos mudança e variação, já que antes o primeiro era aplicado para os dois processos. A variação passou, então, a significar a co-existência de duas ou mais variantes com o mesmo valor de verdade, sem que uma delas se sobreponha à outra. A mudança, por outro lado, implica a sobreposição de uma das variantes sobre a outra, o que significa que uma delas deixou ou deixará de existir. A partir das idéias de Labov, toda mudança implica variação, sem, no entanto, toda variação implicar mudança. Para os variacionistas, uma mudança lingüística acontece quando uma variante se generaliza em um subgrupo de uma comunidade e adquire uma certa direção e significado social; o progresso da mudança está associado à aprovação dos valores de um grupo pelos membros de outro. Na primeira etapa de um processo de mudança, as variantes conservadoras raramente são expostas às formas inovadoras. Em um segundo momento, o contato entre falantes favorece a expansão das formas inovadoras, atingindo, então, as conservadoras. A realização da mudança se dá, então, quando uma variante se sobrepõe à outra. Aqui no Brasil, também há vários estudos nessa perspectiva e vários estudiosos nessa área. Esses estudos sociolingüísticos vêm se dando desde a década de 1970 no Brasil, e vêm aplicando os princípios da Teoria da Variação Linguística ao estudo de fenômenos lingüísticos do português do Brasil. Estudos esses que englobam tanto investigações sintáticas, como também fonológicas e semânticas e têm assumido um papel de grande relevância para um conhecimento mais concreto dos fenômenos lingüísticos do português falado no Brasil. A Paraíba também não foge à regra: desde a década de 70, os estudos sociolingüísticos começaram a fazer-se mais presentes e, a partir dos anos 90 houve um crescimento significativo no número de trabalhos publicados nessa área. O fenômeno lingüístico que será o foco central desta pesquisa de iniciação científica é o apagamento do glide em ditongos orais decrescentes, ocorrido no Brejo da Paraíba – processo mais conhecido como monotongação, o qual consiste na redução do ditongo a uma vogal simples, o monotongo. (SOUZA SILVA, 1997, p. 29). Segundo Souza Silva (1997) essa tendência a reduzir o ditongo a uma vogal simples já se dava desde o período arcaico nas línguas derivadas (latim, grego e línguas românicas em geral). O processo de monotongação, no entanto, não é um fenômeno exclusivamente sincrônico. De fato, a tendência a evitar ditongos, transformando-os em vogais simples, é atestada no português ao longo de toda a sua história. Lausberg ( 1981, p. 145-148) afirma que a maior parte dos ditongos do latim clássico passou a ser monotongados no latim vulgar. Atualmente, este processo já foi amplamente atestado em distintas regiões do Brasil em diversos trabalhos sociolingüísticos. Os objetivos deste trabalho são: a) Traçar um perfil de freqüência do processo de monotongação na comunidade lingüística do Brejo Paraibano; b) Verificar a maior freqüência: apagamento ou preservação dos ditongos passíveis de monotongação e estabelecer os fatores que favorecem ao seu apagamento; c) Apresentar uma possível explicação para o fenômeno, com base nas variáveis sociais e estruturais; d) Discutir, com base em estudos já realizados, o processo de monotongação como uma tendência da língua portuguesa em geral, com evidência no falar da comunidade do Brejo Paraibano; Assim sendo, vejamos os resultados relacionados ao processo de monotongação ocorrido no Brejo Paraibano.

METODOLOGIA:
A metodologia tem um papel primordial dentro do modelo teórico da sociolingüística quantitativa. Ela é composta de vários estágios, dentre os quais destacam-se: (i) seleção de informantes; (ii) identificação das variáveis lingüísticas e suas variantes; (iii) processamento dos números, visto que se trata de uma análise estatística; (iv) interpretação dos resultados, analisando os possíveis fatores condicionadores (lingüísticos e extralingüísticos) que favorecem o uso de uma variante sobre outra. A seleção de informantes envolve decisões de extrema importância na sociolingüística variacionista. Para que todas as hipóteses formuladas possam ser testadas com exatidão, há que se fazer um recorte correto da comunidade em estudo. Se a hipótese prevista é a de que mulheres utilizam a forma padrão com mais freqüência do que homens, há que se selecionar mulheres com diferentes níveis de instrução e de faixa etárias distintas. Do contrário, outros fatores (e não o fato de serem mulheres) influenciarão o resultado. Além disso, já que o trabalho se trata de um estudo de língua falada, os dados devem ser coletados em situações naturais de comunicação, procurando minimizar ao máximo a interferência do pesquisador na naturalidade da conversação. Como a metodologia utilizada nesta pesquisa tem como base o modelo teórico-metodológico da sociolingüística quantitativa, faz-se necessário o levantamento de um corpus de língua falada, que represente adequadamente a comunidade do Brejo Paraibano. Os dados para esta pesquisa foram extraídos de um corpus composto por registros de fala de 6 informantes residentes na região paraibana do Brejo da Paraíba. As entrevistas, gravadas em situações naturais de interação social, foram realizadas com base em questões voltadas para os interesses de cada informante, de acordo com as informações contidas em uma ficha social, com perguntais pessoais, anteriormente aplicada. Após a aplicação da ficha social com estes 6 informantes, foram elaborados questionários individuais e cada informante foi entrevistado durante cerca de 30 minutos. As entrevistas, gravadas em situações naturais de interação social, foram realizadas com base em questões voltadas para os interesses de cada informante, de acordo com as informações contidas na ficha social. Para a escolha destes informantes, foram observados os seguintes requisitos: i) ser natural da região do Brejo ou morar na região desde os cinco anos de idade; ii) nunca ter passado mais de dois anos consecutivos fora da região. Os informantes foram selecionados de forma aleatória. O corpus foi estratificado por sexo, com informantes entre 19 e 25 anos, de nível universitário. Após esta primeira etapa metodológica, os dados coletados foram submetidos a um tratamento computacional, específicos para pesquisas de sociolingüística quantitativa. Vários modelos estatísticos foram desenvolvidos para o estudo da variação lingüística, mas o que se tem destacado mais em pesquisas desta natureza é o modelo introduzido por Rousseau e Sankoff em 1978 (ROUSSEAU, P. & SANKOFF, D., 1978). Baseado neste modelo estatístico, Sankoff desenvolveu um programa computacional para pesquisas variacionistas. Este programa foi posteriormente adaptado para microcomputadores do tipo IBM por Susan Pintzuk em 1988 e 1992, passando a denominar-se VARBRUL 2S. Hoje em dia, um novo modelo denominado GOLDVARB X foi criado para a plataforma Windows. Será este o programa computacional utilizado nesta pesquisa. O programa GOLDVARB X é, na verdade, um conjunto de programas computacionais, entre os quais se destacam o CHECKTOK, o READTOK, o MAKECELL, o IVARB, o TVARB e o MVARB. Antes de submeter os dados ao primeiro programa da série, faz-se necessário digitá-los, codificá-los (a partir de códigos atribuídos pelo próprio pesquisador) e armazená-los em um arquivo de texto. Realizada esta etapa, executa-se o primeiro programa do pacote, o CHECKTOK. Este programa tem a função de localizar erros de digitação ou de codificação existentes no arquivo de texto. Após a conferência, o programa gera um arquivo que vai servir de entrada para o segundo programa, o READTOK. O READTOK efetua leves modificações nos dados corrigidos pelo CHECKTOK, criando um novo arquivo que contém apenas as codificações, excluindo qualquer outro tipo de informação que o pesquisador colocou no arquivo de texto. Esse novo arquivo servirá de entrada para o programa seguinte: o MAKECELL. O MAKECELL realiza a contagem das ocorrências e calcula, em porcentagem, as freqüências de aplicação de cada fator. Os valores percentuais refletem a relação entre as variantes estudadas e os grupos de fatores controlados. No entanto, o pesquisador não pode se apoiar apenas nos valores percentuais, já que eles não retratam o nível de significância de cada grupo de fator sobre a variável. É por esta razão que é necessário um programa de regra variável que faça a análise dos pesos relativos, ou seja, a análise probabilística dos dados. Essa tarefa é realizada pelo IVARB, TVARB ou MVARB, dependendo do número de variáveis que são trabalhadas. O IVARB trabalha com a análise de pesos relativos na forma binária, ou seja, com duas variantes. O TVARB executa cálculos para três variantes e o MVARB, para quatro ou cinco variantes. É importante salientar, no entanto, que se durante a execução do MAKECELL ocorrer um índice percentual de 0% ou 100% para algum fator, o programa acusará knock-out, inviabilizando o prosseguimento para os programas de regra variável. O knock-out indica que o fator não tem comportamento variável, o que vai de encontro ao propósito do programa. Nestes casos, surge a necessidade de o pesquisador realizar amalgamações em alguns fatores até tornar viável a execução do programa. Obviamente, os knock-outs não podem ser desprezados pelo pesquisador, pois indicam que tal fator inibe completamente a ocorrência de variação lingüística. O IVARB, além desta função, também realiza um processo que não pode ser feito através de uma rodada ternária: o step-up e o step-down. O step-up é a seleção dos grupos de fatores mais relevantes para que determinado fenômeno lingüístico ocorra. O step-down, por outro lado, mostra ao pesquisador quais os fatores que não são relevantes para tal fenômeno lingüístico. O step-down, desta forma, é o complemento do step-up. O ideal é que a seleção feita pelo step-up e a eliminação, pelo step-down, apresentem distribuição complementar: os grupos de fatores não selecionados são também eliminados. Caso isto não ocorra, os grupos de fatores apresentam status estatístico indefinido e merecem uma análise lingüística mais detalhada. Tomando por base uma escala de valores entre 0 e 1, o modelo ternário estabelece que 0.30 representa a neutralidade da influência de determinado fator sobre a variável dependente. Quando o número for superior a 0.30 significa que ele favorece a aplicação da regra e, se for inferior, a inibe. No caso da rodada binária, o ponto neutro é de 0.50. Da mesma forma, valores acima de 0.50 são interpretados como favorecedores à aplicação da regra; abaixo de 0.50, como inibidores. O peso relativo 0.50 indica que há uma possibilidade de que o fato ocorra 50 vezes em cada 100 casos. Apesar de o programa computacional ter um papel muito importante neste modelo de pesquisa, ele não pode ser categórico. Na verdade, os resultados probabilísticos apenas proporcionam diretrizes para que o pesquisador analise o fenômeno e relacione-o a outros fenômenos da língua. Os números fornecidos pelo computador, em si, só têm valor estatístico e, por esta razão, não isentam o pesquisador de qualquer outro tipo de análise. Cabe ao pesquisador atribuir explicações lingüísticas para cada um dos processos encontrados nas estatísticas. Os resultados da pesquisa foram confrontados com as hipóteses levantadas, analisando se realmente as hipóteses foram pertinentes, e a partir de então buscaram-se as possíveis explicações para a influência de determinados fatores em detrimento de outros. O estudo sobre o processo de monotongação na comunidade lingüística que compreende o Brejo da Paraíba toma por base o fato de que a língua é um fato social e que nenhuma língua natural humana é um sistema em si homogêneo e invariável e buscará possíveis explicações para o acontecimento deste referido fenômeno.

RESULTADOS:
De acordo com os dados coletados e submetidos ao programa computacional GOLDVARB X, obteve-se os seguintes resultados parciais. Ao término das rodadas do programa foram detectadas 235 ocorrências do fenômeno em questão. Dessas ocorrências, 93 (39%) foram de manutenção do glide, ou seja, de ditongos e 142 (60%) foram do apagamento do glide, ou seja, monotongos. Neste primeiro resultado, percebe-se que apesar dos falantes universitários tenderem a usar a variedade padrão, eles monotongam em maior proporção. Para chegar-se às variáveis selecionadas como relevantes para a análise do fenômeno, a pesquisa passou por algumas etapas, que serão mencionadas a seguir. Numa primeira rodada dos dados, foram detectados quatro knock-outs, que é a não existência de variação em alguma variável e que inviabiliza a continuação do programa computacional, por isso faz-se necessário a realização de amalgamações nos fatores que apresentaram knock-outs para dar prosseguimento à execução do programa. Para solucionar os casos de knock-outs foram realizados os seguintes procedimentos: a) Na variável “Contexto-fonológico seguinte” foram observados três knock-outs: pausa, vibrantes e laterais. Nos dois primeiros grupos não foram observadas a aplicação de glide nos ditongos, ou seja, os dados revelaram 100% de apagamento de glide nos ditongos: pausa (#) com 1 ocorrência e vibrantes (b) com 36 ocorrências. Já no grupo das laterais, ocorre exatamente o contrário, não foi observado o apagamento de glides em ditongos, ou seja, os dados revelaram 100% de aplicação de glide nos ditongos: laterais (l) com 3 ocorrências. Assim, os três fatores foram amalgamados, de modo que o fator “pausa” foi eliminado e os fatores “vibrantes” e “laterais” resultaram em um novo fator. Dessa forma, o grupo ficou da seguinte maneira: I) Líquidas (vibrantes + laterais) b) No contexto “Contexto-fonológico anterior” também foi observado um knock-out no grupo das laterais, no qual não foi observado aplicação de glide nos ditongos, ou seja, os dados revelaram 100% de apagamento do glide. Desse modo, o subfator “Laterais”, com 6 ocorrências, foi amalgamado juntamente com o sub-fator “Vibrantes”, resultando assim no novo sub-fator “Laterais”. Após as modificações acima e a solução de todos os casos de knock-outs, procedeu-se uma nova rodada dos dados. Desta vez, não foi observado nenhum caso de knock-out. Na rodada final dos dados, o programa selecionou como mais favoráveis ao apagamento de glide em ditongos orais decrescentes, os seguintes fatores, listados em ordem de relevância: contexto-fonológico seguinte, classe de palavras, sexo, extensão do vocábulo e contexto-fonológico anterior. A variável “tonicidade” foi descartada pelo programa como irrelevante para o fenômeno da monotongação e portanto, não será analisado nesse trabalho. Vejamos a seguir os resultados e as análises das variáveis lingüísticas e sociais selecionadas e amalgamadas: Contexto-Fonológico Seguinte - O fator “Contexto-Fonológico Seguinte” foi o primeiro a ser selecionado pelo programa computacional. Esse resultado corrobora com os resultados de Souza Silva (1997), nos quais é apresentado o grupo “contexto-fonológico seguinte” como o que exerce maior influência no processo de monotongação dos ditongos [aj] e [ej] na fala pessoense. Nesse fator, é no grupo das nasais que ocorre o maior índice de apagamento do glide em ditongos (62,1%). No item no qual se encontra as “nasais”, o maior índice foi o de preservação de ditongo. Essa ocorrência apresenta um peso relativo de 0.86, indicando uma maior probabilidade de ocorrência de ditongo nesse fator. Porém, o maior índice de apagamento do glide em ditongos ocorre no fator “laterais”, que apresenta um peso relativo de 0.2 e indica que nesse fator a probabilidade maior é de monotongação. Classe de Palavras - O fator “Classe de Palavras” foi selecionado pelo programa computacional como a segunda variável mais importante pra esse estudo. Essa variável apresenta os “não-verbos” como o fator que está mais propenso à manutenção do glide em ditongos (0.67) do que ao apagamento. Por sua vez, os verbos se apresentaram dentro dessa variável como fator mais propenso à monotongação, apresentando-se com peso relativo 0.27. De acordo com os dados em relação ao fator “Classe de Palavras”, os resultados parciais confirmam a hipótese apresentada de que as formas verbais tendem a sofrer em maior proporção o processo de monotongação do que os não-verbos. E diga-se de passagem que o índice de preservação do ditongo em não verbos é bem significante para essa pesquisa, pois apresenta peso relativo 0.67, o que indica uma enorme probabilidade de manutenção do glide em ditongos orais decrescentes. Sexo - O fator “Sexo” foi selecionado pelo programa computacional como a terceira variável mais importante e a única variável social de maior relevância para o estudo do referido fenômeno. Segundo vários estudos de diversos autores, a variável “sexo” tem sido de grande relevância para o estudo da variação lingüística e para possíveis explicações de diferenças lingüísticas entre homens e mulheres. (LUCENA, 2006). Lucena (2006) afirma ainda que diversos estudos sociolinguísticos apontam a variável sexo como um dos fatores condicionantes da heterogeneidade linguística, indicando que homens e mulheres possuem, de fato, comportamento lingüísticos distinto. Os dados revelados não corresponderam às expectativas da hipótese levantada a respeito do fenômeno em questão. A hipótese era de que o sexo feminino utiliza a forma padrão com mais freqüência do que o masculino. Porém, os resultados parciais encontrados foram de que na comunidade masculina há um índice mais elevado de preservação nos ditongos (0.62) e na comunidade feminina há um índice maior de monotongação (0.34). Extensão do Vocábulo - O contexto “Extensão do Vocábulo” foi selecionado como a quarta variável de relevância para o estudo do fenômeno em questão. Para esse fator, a hipótese levantada foi a de que quanto maior o vocábulo, maior a probabilidade de monotongação. Porém, os resultados parciais obtidos não corroboram com a hipótese levantada, pois os dados da tabela 4, como veremos a seguir, mostrarão que vocábulos grandes, a partir de três sílabas, estarão propensos a forma padrão preservando os ditongos (43%). Ao analisar os dados revelados, pode-se constatar que vocábulos grandes (a partir de 3 sílabas) surpreendentemente favorecerão à manutenção do glide em ditongos, ou seja, favorecem a aplicação do ditongo (0.66), enquanto que vocábulos curtos (monossilábicos ou dissilábicos) favorecerão ao processo de monotongação, apresentando respectivamente pesos relativos 0.40 e 0.35. Contexto-Fonológico Anterior - O fator “Contexto-Fonológico Anterior” foi o último fator selecionado em termos de relevância para o estudo do fenômeno de monotongação no Brejo Paraibano. Como veremos na tabela 5, nessa variável, o fator que mais se sobressaiu a favor da manutenção do glide em ditongos, foi o fator nasal (46,3%). Conforme os dados atestam, o fator “nasais” se mostrou mais propenso à manutenção (0.70) do que ao apagamento do glide em ditongos, e sendo assim, o resultado parcial que se tem em relação a essa variável, é de que o glide será preservado quando o elemento que o antecede é uma consoante nasal. Porém, quando o elemento que o antecede for uma vogal, o glide será apagado, ocorrendo assim, a monotongação.

CONCLUSÕES:
De acordo com todas as pesquisas e estudos feitos até aqui a respeito do processo de monotongação no Brejo da Paraíba, o que se tem até agora são apenas restultados parciais em relação ao fenômeno estudado. Esses resultados descrevem inicialmente o comportamento lingüístico de falantes jovens e universitários na região do Brejo Paraibano e que serão aprofundados para que se tenha um perfil completo da atuação desses falantes nessa região, na perspectiva da monotongação. Esse fenômeno está sendo estudado nesse projeto de pesquisa sob duas perspectivas: manutenção do glide em ditongos, de maneira a ocorrer o ditongo propriamente dito e o apagamento do glide em ditongos, de maneira a ocorrer a monotongação. Porém, o processo do apagamento aqui, não está sendo estudado como uma variedade menos valorizada por não ser uma variedade falada tipicamente pelas classes sociais mais altas, pelo contrário, está sendo alvo de estudos e pesquisas, por se caracterizar como outro modo de falar em circulação em determinando grupo social. É a partir daí, que esse projeto buscou explicar esse fenômeno, mostrando quais os fatores que favorecem e que inibem o processo de apagamento do glide em ditongos, ou seja, que fatores favorecem e inibem o processo de monotongação. Esse fenômeno sofre influência de fatores lingüísticos e extralingüísticos, e dentro desses fatores tivemos como mais relevantes nesse primeiro momento: a) Contexto-Fonológico Seguinte; b) Classe de Palavras; c) Sexo; d) Extensão do Vocábulo; e) Contexto-Fonológico Anterior. Os resultados parciais mostraram que apesar do corpus ser constituído por universitários, o apagamento do glide em ditongos orais no Brejo Paraibano ocorreu em maior proporção. Uma possível explicação, é que o apagamento do glide em ditongos orais não se trata de uma variação estigmatizada. Porém, para resultados mais concretos, serão aprofundadas as pesquisas, será amplificado o corpus e poder-se-ia analisar se o fenômeno estudado caracteriza-se uma variável estável ou uma variação em mudança.

Instituição de fomento: UEPB/PROINCI/CNPq (Projeto de Iniciação Científica)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Variação Linguística, Monotongação, Heterogeneidade Linguística

E-mail para contato: luana_lima18@hotmail.com