60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 7. Música e Dança

O ESTILO INTERPRETATIVO DE JACOB DO BANDOLIM

Almir Cortes Barreto1
Esdras Rodrigues Silva1, 2

1. Departamento de Musica - Unicamp
2. Prof. Dr. / Orientador


INTRODUÇÃO:
Os trabalhos publicados sobre o choro geralmente têm uma abordagem historicista, enfatizando as características sócio-culturais do gênero, a exemplo de Almeida (1942), Kiefer (1977), Siqueira (1970), Tinhorão (1966) Vasconcellos (1984) e Cazes (1998). Apesar da importância dessa contextualização, do ponto de vista musical, necessitamos de um maior aprofundamento em detalhes técnicos da interpretação. Acompanhando o processo de estudo e sistematização de procedimentos da música popular que vêm crescendo de forma significativa nos últimos anos no meio acadêmico, o presente trabalho se propõe a estudar o estilo interpretativo de um dos mais importantes expoentes do choro: Jacob do Bandolim. Jacob Pick Bittencourt (1918-1969) foi uma das personalidades mais influentes no desenvolvimento do choro. Além do seu legado enquanto pesquisador, confirmado através de seu arquivo pessoal, e de sua contribuição na condição de compositor, deixando peças hoje essenciais no repertório chorístico, Jacob teve um papel importante como intérprete, demonstrando através de suas releituras, características peculiares, onde destacamos a sonoridade e a expressão musical.

METODOLOGIA:
Buscamos levantar as características peculiares da interpretação de Jacob do Bandolim por meio dos seguintes procedimentos: uma reflexão acerca de declarações de Jacob, selecionadas principalmente do seu depoimento ao Museu da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro; do estudo de seu contexto sociocultural de atuação, especialmente os aspectos relevantes de sua formação musical; depoimentos de músicos que trabalharam com o bandolinista, tiveram contato pessoal, ou mesmo estudaram sua obra; e com maior ênfase, sobre uma abordagem a respeito dos elementos interpretativos de seu estilo musical, extraídos da análise de suas interpretações em obras escolhidas de dois importantes compositores do choro: Ernesto Nazareth e Pixinguinha.

RESULTADOS:
Estudamos a visão de Jacob do Bandolim sobre o choro, com o intuito de estabelecer parâmetros sobre o universo no qual está inserida nossa pesquisa, e contextualizamos o seu período sociocultural de atuação, situando o bandolinista dentro do processo histórico do gênero. Traçamos um perfil biográfico do intérprete selecionando fatos de sua vida pessoal que estão diretamente ligados à sua formação musical. Para um melhor entendimento deste processo dividimos o mesmo em quatro fases. Fizemos um paralelo entre improvisação e interpretação no choro de acordo com a ótica de Jacob, levantamos dados específicos sobre sua técnica no bandolim e algumas reflexões acerca de seu estilo. Realizamos um levantamento e apresentamos exemplos musicais comentados dos elementos interpretativos da prática musical de Jacob do Bandolim. Apresentamos uma lista de audição (com suas respectivas fontes) das gravações utilizadas na pesquisa, detalhamos algumas especificações técnicas do bandolim e disponibilizamos na íntegra as transcrições musicais por nós elaboradas.

CONCLUSÕES:
A combinação de elementos formativos, visão estética pessoal, contexto sociocultural e percepção aguçada do discurso musical, fizeram de Jacob de Bandolim um veículo eficaz de transformação, que deixou não só marcas históricas ao contribuir para a solidificação e disseminação do choro na música brasileira e na história do bandolim no Brasil, mas também marcas musicais profundas, ao imprimir ao gênero uma nova dimensão interpretativa, através dos seguintes elementos que pudemos levantar nesse trabalho por meio da audição, transcrição e análise musical: ornamentação das melodias com o uso de mordentes, apojaturas, antecipações, grupetos, trinados e trêmulos, que ao serem executados de forma peculiar foram introduzidos na linguagem do choro; expressividade alcançada através de recursos técnicos como rubato, portamento, glissando, vibrato, staccato e notas percussivas, que contribuíram também para a criação de uma escola de bandolim brasileira, hoje seguida pela maioria dos bandolinistas; forma criteriosa de variar as melodias na reexposição, buscando valorizar as idéias propostas pelo compositor; e inserção cuidadosa de material novo nas composições, praticamente reestruturando-as, porém, sem descaracterizá-las.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - Fapesp



Palavras-chave:  Jacob do Bandolim, Interpretação, Choro

E-mail para contato: almircortes@iar.unicamp.br