60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

RESSIGNIFICANDO O ENSINO DE CIÊNCIAS: CAMINHOS ALTERNATIVOS APONTADOS POR ESTUDANTES DE UMA ESCOLA DE APLICAÇÃO

Eulalia Soares Vieira1, 2
Rosalia Maria Ribeiro de Aragão1, 3

1. NÚCLEO PEDAGÓGICO DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO/NPADC-UFPA
2. MESTRANDA EM EDUCAÇÃO EM CIENCIAS E MATEMÁTICAS
3. PROFA. DRA. / ORIENTADORA


INTRODUÇÃO:
A problemática apontada pelas pesquisas da área e pelos mecanismos de avaliação quer nacional quer internacional, que qualifica o ensino de Ciências como de baixa qualidade educativa, exige a renovação das práticas docentes nessa área de forma a permitir não só a interpretação do mundo pelos estudantes, mas também sua atuação crítica no contexto em que estão inseridos. Nessa perspectiva, o presente estudo é relativo ao Ensino de Ciências assumindo, como premissa, que os alunos possuem idéias, percepções e concepções acerca do processo de ensino e de aprendizagem, independentemente dos limites e possibilidades do ensino que recebem. Sendo assim, este estudo tem como objetivo identificar nas vozes dos estudantes de 5ª a 8ª séries de uma Escola de Aplicação, elementos de diferenciação da prática de ensino de ciências, possibilitando melhor compreensão da aprendizagem nessa área, fazendo aflorar certos conceitos, concepções e práticas desejáveis às aulas.

METODOLOGIA:
Trata-se de um estudo qualitativo na modalidade narrativa de pesquisa, que potencializa um olhar multidimensional da realidade, representando uma alternativa para o entendimento da complexidade do pensamento no tempo presente. Além disso, devido a seu potencial formativo a experiência narrada acena para a possibilidade de desencadear um processo reflexivo sobre a prática de ensino, elemento basilar para qualquer perspectiva de mudança no trabalho docente do professor de Ciências. Para realização do estudo, foram aplicados questionários para 20% dos estudantes de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental da escola de aplicação lócus da pesquisa, e realizadas entrevistas com um estudante de cada uma das 23 turmas desse nível de ensino. O questionário constou de cinco perguntas para que se obtivessem dados que possibilitassem compreender a visão dos estudantes sobre o ensino de ciências, bem como as possibilidades vistas por eles de melhoria desse ensino. A análise dos dados obtidos consistiu na observação e análise das recorrências, destacando-se de um lado, as comunalidades, ou seja, os aspectos comuns nas falas e, de outro lado, as divergências e contradições entre idéias e posicionamentos manifestos pelos estudantes.

RESULTADOS:
Predominou nas proposições dos estudantes para ressignificação das aulas de Ciências, a necessidade do redimensionamento metodológico dessas aulas, sendo que para a maioria dos sujeitos o critério definidor da melhoria do ensino de ciências é a realização de atividades experimentais. Trabalhos em grupo, pesquisas e excursões, bem como a apresentação de trabalhos pelos estudantes com orientação do professor são outras possibilidades metodológicas definidoras de melhor qualidade das aulas de ciências do ponto de vista do alunado. Para eles, a temática das aulas de ciências precisa oportunizar reflexões e debates sem exigência constante da memorização de nomenclaturas e da reprodução de respostas prontas por eles. Na redimensão das aulas são apontados, sobretudo, aspectos de natureza pedagógica - além da natureza científica e social dos temas das aulas - atinentes às dinâmicas do trabalho docente para determinar ou impedir a interação positiva e a aquisição de conhecimento na área de ciências. Propõem a explicitação dos critérios avaliativos usados pelo professor para conhecimento dos alunos, evidenciando desacordo da prática de avaliação usual desse ensino em que o professor é o único detentor da nota do aluno, usando critérios geralmente desconhecidos por eles.

CONCLUSÕES:
Os estudantes em suas manifestações propõem um ensino de ciências que deve se diferenciar positivamente pelo caráter prazeroso, dinâmico e criativo que precisa assumir. A ênfase na realização de experiências como base para um ensino de qualidade pressupõe que tais atividades sejam realizadas não na perspectiva de mera transmissão de informações, mas de questionamento e de confronto desses conhecimentos com os já possuídos pelos estudantes. Ao valorizarem a interação grupal como facilitadora da aprendizagem significativa, os estudantes apontam para a necessidade de que as aulas de ciências sejam ressignificadas de forma tal que se possa cuidar da formação de sujeitos cooperativos, participativos e críticos, conforme as exigências dos tempos atuais. As possibilidades e os limites do ensino de Ciências evidenciados pelos estudantes põem em questão o ensino usualmente praticado nessa área e colocam desafios para a escola e para os professores de ciências, no sentido de estes refletirem coletivamente sobre a reorientação dos rumos desse ensino, na perspectiva de construção da aprendizagem dos estudantes preparando-os, de fato, pela aquisição de conhecimento científico para o exercício efetivo da cidadania.



Palavras-chave:  ensino de ciências, aprendizagem significativa de ciências, ressignificação do ensino por alunos

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