60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho

FLEXIBILIZAÇÃO DO TRABALHO EM SERGIPE: DOS BASTIDORES À FRENTE DOS CALÇADOS - UM ESTUDO SOBRE OS TRABALHADORES DOMICILIARES EM ITAPORANGA D’AJUDA (SE)

Cristiane Montalvão Guedes Botelho1
Tânia Elias Magno da Silva2

1. Prof. MSc. - Departamento de Ciências Contábeis/FAMA
2. Prof. Dr.ª - NPPCS/UFS


INTRODUÇÃO:
o objeto de estudo centra-se na análise de como se processou o trabalho domiciliar em Sergipe, enquanto reflexo da flexibilidade do trabalho, requerida pela fase da reestruturação produtiva da indústria, e como os seus resultados se refletiram no cotidiano dos trabalhadores domiciliares. Estes trabalhadores realizavam, em seus domicílios, uma parte do processo de produção, dentro do programa de terceirização produtiva, que incidia sobre a fase manual da costura dos calçados. Portanto, buscou-se investigar e analisar as relações sociais e de produção que permeavam o referido trabalho domiciliar; compor o perfil do trabalhador informal, relacionado à produção da filial n.º 12 da fábrica de sapatos Azaléia, situada no município sergipano de Itaporanga D’ Ajuda; conhecer as trajetórias profissionais dos trabalhadores domiciliares, verificando a existência de relação com as preferências de trabalho; e analisar a inserção da unidade fabril Azaléia nas expectativas profissionais dos trabalhadores domiciliares.

METODOLOGIA:
a amostra não-probabilística intencional foi composta por moradores das zonas urbana e rural de Itaporanga D’ajuda, envolvidos com a atividade de costura dos calçados, produzidos pela Azaléia. A coleta de dados foi feita a partir da técnica da entrevista semi-estruturada, através de questionamentos-chave, no período de 1999 a 2003. Os critérios para compor a amostra foram: o envolvimento de, pelo menos, três meses dos entrevistados com o trabalho domiciliar; a presença nas entrevistas tanto de mulheres como de homens, pois, não obstante ser considerada tarefa de mulher, a atividade manual com os sapatos utilizou também a figura masculina; a idade mínima de dezessete anos dos trabalhadores domiciliares entrevistados, diante da presença de menores no trabalho externo da Azaléia. Foram entrevistados também três donos de ateliês, que forneceram informações sobre a relação social de produção; cinco operários e um ex-operário da Azaléia para dados sobre a organização interna da fábrica; pessoas ligadas à DIM (CODISE) e à Prefeitura de Itaporanga D’Ajuda; um funcionário do Sindicato dos Trabalhadores (as) Rurais do referido município; dois médicos do trabalho, necessários para explicitar os problemas de saúde, provocados pela tarefa com os sapatos dentro e fora da fábrica.

RESULTADOS:
ao estudar a presença da flexibilização em Sergipe, através da filial da Azaléia, observou-se que o trabalho doméstico atrelado à produção fabril esteve presente como artifício usado pela reestruturação produtiva, configurando-se como forma espúria de terceirização do trabalho e de estímulo ao auto-controle e à auto-exploração, acompanhada de flexibilização dos direitos trabalhistas.

CONCLUSÕES:
a análise de como se processou o trabalho domiciliar em Sergipe e dos reflexos sobre a vida dos seus trabalhadores aponta que a tarefa manual de costura auxiliava no orçamento doméstico e potencializava a exploração sobre os trabalhadores subcontratados. A terceirização da Azaléia atingia a atividade-fim, transferindo a fase manual dos calçados para os trabalhadores em domicílio. O trabalho domiciliar baseava-se no salário por peça, em aspectos manufatureiros da produção e na intermediação dos donos dos ateliês. Estes eram os responsáveis diretos pelo aumento da precariedade da relação de trabalho ao manterem a informalidade e ao repassarem uma parte ínfima do pagamento feito pela fábrica, os prejuízos na produção, o controle sobre a qualidade dos calçados e o tempo de entrega das peças pelos trabalhadores domiciliares. Trabalhar em casa, organizando o tempo de trabalho, sem a presença de uma hierarquia de dentro da fábrica criava, nos trabalhadores, um sentimento de liberdade, que, na realidade, era ilusória, pois a presença da fábrica era presente ao estimular o autocontrole e a auto-exploração. E mesmo com o horário fixo e a vigilância constante, a Azaléia aparecia nas suas aspirações profissionais, frente à necessidade de acesso aos direitos trabalhistas.



Palavras-chave:  flexibilização produtiva, trabalho domiciliar, reestruturação produtiva

E-mail para contato: cristianemontalvao@yahoo.com.br