60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

O quilombo é o marco vivo da resistência de um povo. As denominações “quilombos”, “comunidades negras rurais”, “remanescentes de comunidades de quilombos”, são expressões que designam descendentes de escravos. O quilombo, hoje, vem lutando pelo reconhecimento e auto-afirmação de cada membro da comunidade, encontrando diversos desafios na luta por seu espaço e seus direitos. Entre as modificações nos currículos escolares inseridas a partir da Lei 9.394/96 e desenvolvidas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais está o reconhecimento da importância das especificidades regionais, propondo conteúdos que contemplem as realidades locais. Recentemente, a Lei 10.639/2003, estabelece a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares. Neste sentido, este estudo consiste em averiguar como os professores da comunidade rural Remanescente de Quilombo Mangal Barro Vermelho que situa-se no município de Sítio do Mato, Bahia, à margem direta do Rio São Francisco, tratam os saberes próprios desse povo, ao currículo da escola e de que maneira a comunidade conserva a cultura deixada pelos seus antepassados.

METODOLOGIA:

Para buscarmos respostas a estas inquietações, recorremos inicialmente a um levantamento bibliográfico da área, (APPLE, 1997; BASTIDE, 1998; BERGER, 2002; CASTELLS, 1999; FOUCAULT, 2001; GEERTZ, 1997; HALL, 1997; SILVA, 1999) entre outros; para fundamentarmos e, elaborar as etapas seguintes do processo metodológico: entrevista semi-estruturada, sendo definidas algumas questões estimuladoras que foram colocadas no transcurso da entrevista e observações participantes (nas salas de aula e manifestações culturais realizadas na comunidade). A importância destes procedimentos está em facilitar a produção de significados fortemente carregados de afetividade. Os sujeitos da pesquisa são professores (as) que lecionam desde a Educação Infantil à 4ª série do Ensino Fundamental e pessoas da comunidade local.

RESULTADOS:

Os estudos mostraram que a escola não possui projeto-político-pedagógico, no entanto, existe uma disciplina no currículo da escola que estuda a história e os costumes dos afro-descendentes. Os /as professores (as) buscam trabalhar a história da comunidade, fomentada pela cultura, por intermédio das discussões travadas na sala de aula, nas palestras proferidas por pessoas da comunidade local, enfocando temáticas relacionadas à cultura negra. Através dos dados coletados, pode-se dizer que a cultura afro-descendente está intrinsecamente presente na educação de cada quilombola, recebendo a história da cultura um tratamento diferenciado em relação a outras culturas. A comunidade preserva os valores deixados pelos ancestrais a partir das suas manifestações culturais e religiosas, modo de vida da comunidade, práticas de sobrevivência (trabalho), mitos, lendas etc., símbolos de que se utiliza para afirmar sua identidade: relembrando o passado, recriando a tradição e adaptando-a à realidade.

CONCLUSÕES:

Em face do estudo, infere-se que a escola, apesar de não possuir o projeto-político-pedagógico, está presente no seu currículo os saberes da cultura afro-descendente. O currículo assim compreendido é um instrumento político a serviço dos excluídos, dos sujeitos tornados invisíveis no processo histórico de produção, distribuição e organização do conhecimento. A inserção do indivíduo quilombola na sociedade se torna possível a partir da compreensão das festas do quilombo como fator formador e re-criador de identidade. Nas danças, cânticos, festejos religiosos, arrumação do ambiente, no vestuário, nas práticas de sala de aula, todos aprendem: crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave: Remanescente de quilombo, Saberes, Currículo.

E-mail para contato: rodrizex@hotmail.com