60ª Reunião Anual da SBPC




H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 4. Educação Artística

ENSINO DO TEATRO E IDENTIDADE CULTURAL - UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DESENVOLVIDA NO PARQUE SÃO BARTOLOMEU -

Gessé Almeida Araújo1
Luiz Cláudio Cajaíba1, 2

1. Universidade Federal da Bahia - UFBA
2. Prof. Dr.


INTRODUÇÃO:
O trabalho é parte do Projeto de pesquisa-ação desenvolvido pelo PET-Letras: “Memória, diversidade e gestão social”, que tem como propósito realizar investigações e ações sócio-educativas na região do subúrbio ferroviário de Salvador, tendo como referência o Parque São Bartolomeu. Partindo-se da análise de como a arte auxilia na discussão acerca da identidade de um povo, buscou-se contribuir com a referida reflexão problematizando as questões da identidade do povo brasileiro. Partiu-se, para tanto, de uma experimentação prática com teatro/educação com um grupo de jovens da periferia de Salvador, região do Parque São Bartolomeu. O valor histórico dessa localidade está associado a uma série de eventos marcantes do passado: a Batalha de Pirajá, que consolidou a Independência do Brasil, na Bahia em 1822; no século XVI a região de Pirajá foi ocupada pelo primeiro aldeamento indígena organizado pela Companhia de Jesus na Bahia; as matas de Pirajá também abrigaram Quilombos, serviram de refúgio para os negros que buscavam escapar das perseguições escravocratas, e nelas reuniram-se rebeldes que organizaram diversas revoltas libertárias no século XIX. A pesquisa visa resgatar essa memória a partir de experiências com Teatro/educação.

METODOLOGIA:
A primeira fase dos trabalhos, iniciada no ano de 2006, consistiu numa pesquisa bibliográfica acerca da identidade e de metodologias de ensino de teatro. A partir do primeiro semestre de 2007 iniciaram-se as atividades práticas desta pesquisa envolvendo um grupo de oito jovens entre 13 e 20 anos ligados à Associação dos Moradores Unidos do Lobato, entidade membro do Fórum de Movimentos Sociais do subúrbio ferroviário de Salvador, onde se localiza o Parque São Bartolomeu/Pirajá. A partir das atividades propostas por Milet e Spolim em seus respectivos livros, iniciamos um ciclo de oficinas de teatro naquela comunidade, com o intuito de introduzir os jovens no mundo dessa linguagem artística. Para tanto, trabalhamos com o elemento básico da formação de jovens atores: jogos dramáticos e teatrais. Estes propiciaram uma maior integração do grupo, liberdade para a criação cênica e atenção, dentro da metodologia proposta por Milet: AQUECIMENTO - LIBERAÇÃO – PRODUÇÃO – AVALIAÇÃO. Buscou-se também desenvolver a capacidade de “leituras” e interpretações de textos desses jovens com a análise e discussão de alguns vídeos, poemas e crônicas geralmente ligados a temática da identidade.

RESULTADOS:
A utilização dessa metodologia propiciou a iniciação dos jovens no mundo do fazer teatral, desbloqueio de seus corpos e de seus sentidos e um princípio de entendimento dos elementos básicos dessa arte. Conseguiu-se estabelecer um clima propício à criação coletiva de cenas. Desta maneira, durante as aulas de improvisação, obtiveram-se três produtos parciais: duas cenas do cotidiano desses jovens e de suas famílias e uma cena coletiva. O estímulo inicialmente dado foi o de que se buscassem informações sobre quem são seus pais (ou responsáveis), e de onde estes vieram. Como resultado, duas cenas foram produzidas: a primeira intitulada A história de Maria e a segunda, Assalto no Buzu. Inicialmente improvisadas, as cenas foram posteriormente transformadas em textos dramáticos. A partir do questionamento sobre a auto-identidade de cada um, obtivemos depoimentos escritos dos jovens respondendo a essa questão. Em um segundo momento, esses depoimentos individuais foram transformados em uma única cena coletiva intitulada Quem sou seu.

CONCLUSÕES:
A partir da amostragem dos resultados, é possível reiterar o já atestado por diversos autores da educação através da arte: é possível produzir teatro, da melhor qualidade, com jovens não-atores. O entendimento disso talvez seja uma das mais valiosas contribuições dessa pesquisa. Como proposta metodológica, a natureza do trabalho, eminentemente interdisciplinar, demonstra que o ensino de arte deve estar associado às novas tendências pedagógicas, negando, contudo, métodos pré-formatados de aulas e temas a se trabalhar em componente curricular tão preconceituada nos currículos escolares.

Instituição de fomento: MEC/SESu

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Teatro, Educação, Identidade

E-mail para contato: gessept@ig.com.br