60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

PROTAGONISMO JUVENIL E GREMIO ESTUDANTIL: A DESPOLITIZAÇÃO DAS PRÁTICAS FORMATIVAS.

MARCILENE ROSA LEANDRO MOURA1
AILTON BUENO SCORSOLINE1

1. Instituto Manchester Paulista de Ensino Superior IMAPES


INTRODUÇÃO:
A proposta de participação no Grêmio Estudantil com base no denominado protagonismo juvenil é tendencial e predominantemente uma prática formativa voltada para a despolitização dos seus sujeitos? A resposta a este questionamento deve considerar duas dimensões que delimitam esse processo: a origem e os desdobramentos históricos do movimento estudantil secundarista e a estratégia reformista, especificamente no âmbito da educação escolar, desenvolvida pelo Estado brasileiro a partir dos anos noventa do Século passado. A produção deste escrito, traduz pesquisa (bibliográfica, documental e exploratória) desenvolvida no ano de 2007, com os Grêmios Estudantis da Cidade de Sorocaba/SP com a finalidade de observar e problematizar o papel da referida entidade estudantil, entendida como um dos espaços que referenciam o processo de formação dos indivíduos. Este estudo, extremamente relevante, propõe não apenas a discussão do papel desempenhado pelos grêmios estudantis nos dias de hoje, como também busca, diante da pouca produção bibliográfica sobre o movimento estudantil secundarista, resgatar esta história.

METODOLOGIA:
A pesquisa foi realizada por meio da observação das reuniões promovidas pela Diretoria de Ensino de Sorocaba com os Grêmios Estudantis durante o ano letivo de 2007, a leitura, compreensão e análise dos textos oficiais produzidos pelo governo do Estado de São Paulo, e de textos auxiliares elaborados pelo Ministério da Educação. Este estudo foi dividido em três etapas, sendo que a primeira se baseou na revisão da literatura existente. A segunda etapa se constituiu no acompanhamento do trabalho desenvolvido pela Diretoria de Ensino de Sorocaba, que desde o ano de 2005 coordena as atividades desenvolvidas pelos Grêmios Estudantis das escolas de ensino fundamental e médio da rede pública estadual, onde por meio de anotações foram registradas as atividades desenvolvidas pelo referido órgão do governo estadual. A análise dos dados ocorreu com a organização de relatórios que possibilitaram o estabelecimento de categorias empíricas que foram posteriormente confrontadas com as seguintes categorias analíticas: protagonismo; cotidiano; objetivação e apropriação.

RESULTADOS:
O protagonismo juvenil tem como cerne o envolvimento dos educando no exercício do voluntariado social. Surge a partir das reformas educacionais como uma proposta de natureza inovadora, ocupando o denominado tempo livro do jovem e é concebido pelos seus defensores como uma prática servidora, crítica, construtiva, criativa e solidária. Neste sentido, a atuação dos jovens estudantes volta-se para a operacionalização de soluções imediatas. É perceptível então, uma nova direção para os debates e as ações desenvolvidas pelo Grêmio Estudantil, propondo a formação de “um novo tipo de cidadão”, inserido nas tansformações políticas, sociais e econômicas da sociedade atual. O protagonismo juvenil institucionalizado e tutelado pelo Estado naturaliza e cristaliza as diferenças sociais e estimula práticas formativas que nem problematizam nem tensionam as relações sociais dominantes enraizadas em processos de exploração e alienação humana. Enquanto ação do Grêmio Estudantil, o protagonismo juvenil assume uma prática conformista e manipulada, centrada no indivíduo capaz de resolver seus próprios problemas.

CONCLUSÕES:
As relações e mediações entre protagonismo juvenil e Grêmio Estudantil têm uma de suas determinantes na política educacional delineada por organismos internacionais e defendida na Conferẽncia Mundial de Educação para Todos. Política essa ratificada no Brasil com o Plano Decenal de Educação, que promove, dentre outras medidas, a gestão democrática nas escolas, estimulando a participação da denominada comunidade nas ações necessárias para o funcionamento da unidade escolar. A participação do Grêmio Estudantil na unidade escolar se dá de forma assistencialista. A prática institucionalizada do protagonismo juvenil, defensora do associativismo articulada ao trabalho solidário e voluntário em prol de uma escola melhor, anula as discussões sobre as origens históricas dos processos. Estas práticas, contribuem para a apropriação da política enquanto objetivação historicamente produzida. Neste sentido, enquanto os integrantes do Grẽmio Estudantil estiverem se objetivando e apropriando de práticas formativas que mantém as relações sociais de dominação de forma naturalizada, estas atividades não promoverão a emancipação ou humanização dos indivíduos.



Palavras-chave:  Grêmio Estudantil, Protagonismo Juvenil, Reformas Educacionais

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