60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

A inclusão é um tema que a cada dia ganha importância não apenas na sociedade brasileira, mas também no cenário internacional. Isso tem feito com que esta seja uma das questões mais discutidas ultimamente nos meios acadêmicos, entre os formuladores e executores de políticas publicas e nos programas de formação de professores e gestores de unidades e sistemas educacionais e empresariais. Buscando colaborar com essas discussões, este trabalho tem como objetivo discutir as condições necessárias para elaboração e desenvolvimento de um projeto de educação inclusiva em uma escola da rede pública estadual, estudar a influência das representações dos professores sobre inclusão nas práticas educativas desenvolvidas com determinados alunos e identificar pistas para a elaboração e desenvolvimento de projetos de educação inclusiva em unidades e sistemas de ensino. Considerando a minha experiência enquanto educadora preocupada com a educação inclusiva, creio que esta pesquisa tem grande relevância pessoal e social. Primeiramente por ampliar meu conhecimento sobre o tema e permitir organizar o meu trabalho de forma coerente com as propostas de educação inclusiva e, em segundo lugar, porque pode contribuir com a discussão sobre a educação escolar como direito de todos, inclusive daqueles que se encontram à margem do sistema social educacional em função de sua origem regional, de sua etnia ou de sua condição social, física ou mental.

METODOLOGIA:

Para alcançar os objetivos propostos, a pesquisa foi feita no contexto de uma escola pública, considerada de classe média, em um bairro da zona sul de São Paulo que trabalha com alunos do ensino fundamental II e ensino médio, porém o foco da pesquisa foram apenas os professores que trabalhavam com os alunos do Fundamental II (5ª a 8ª), e o coordenador pedagógico desse período. A pesquisa foi feita dentro de uma abordagem etnográfica, a qual permite uma reflexão constante e profunda sobre a realidade, facilitando a descrição e interpretação dos dados a partir da própria perspectiva dos sujeitos objetos da pesquisa. As entrevistas foram realizadas individualmente com dez professores e o coordenador pedagógico, seguindo o modelo de entrevista não-estruturada, o que não inviabilizou a utilização de um roteiro com as principais questões que foram abordadas na entrevista. A escolha do modelo de entrevista não-estruturada justifica-se pelo seu caráter flexível, e os participantes terem maior liberdade em formular suas respostas. Mesmo sendo elaboradas, antes de realizar a entrevista, algumas perguntas foram modificadas e adaptadas às mais diversas situações e às características dos entrevistados.A proposta era obter dados de forma tão casual que os entrevistados não se acautelassem, tornando suas respostas o mais próximo possível de suas concepções pessoais do assunto. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas de acordo com autores e documentos referentes ao tema.

RESULTADOS:

Os resultados das entrevistas mostram que apenas três professores já participaram de algum evento sobre educação inclusiva, dois participaram de um planejamento em que foi debatida a questão da inclusão e um participou de um projeto na diretoria de ensino sobre inclusão. Os outros sete professores, apesar de dizerem que conhecem a temática da inclusão, nunca participaram ou fizeram algum curso sobre educação inclusiva. Em relação à formação acadêmica dos dez professores entrevistados, os que se formaram há muitos anos , não se lembram de ter estudado alguma disciplina referente á educação inclusiva ou como eles próprios denominaram educação especial, os que se formaram mais recentemente, disseram que não constava na grade curricular de seus cursos alguma disciplina referente ao assunto. Apenas uma professora que leciona biologia, também formada em Pedagogia, dissera ter dito uma disciplina sobre as necessidades educativas do aluno especial no curso de Pedagogia. Sobre o conceito de inclusão, alguns professores disseram ter noções baseadas no que eles ouviam ou às vezes liam em alguma revista sobre alunos com necessidades especiais. A maioria dos professores entrevistados entende que educação inclusiva está relacionada com distúrbios físico ou mental e que se não houver essas características determinantes, não há necessidade de um ensino diferenciado ou mesmo de uma atenção especial.

CONCLUSÕES:

A pesquisa revela que alguns professores ainda produzem concepções de uma educação tradicional e restrita a conceitos já conhecidos de para quem e o que ensinar. Suas representações sobre educação inclusiva se limitam ao antigo modelo de assistencialismo aos portadores de deficiência física ou mental, excluindo aqueles que, apesar de não terem deficiências físicas ou mentais estão à margem da sociedade. O que percebemos é que, para a educação inclusiva se tornar um projeto de todos para todos, é preciso um trabalho voltado para mudanças, porém essas mudanças, não se restringem somente a cursos ou mesmo orientações legais, as mudanças devem ocorrer na escola e na forma de ensinar do professor de uma maneira geral. Segundo Alarcão (2001), é preciso envolver o elemento humano, as pessoas e, através delas mudar a cultura que se vive na escola e que ela própria inculca. O professor, enquanto sujeito ativo do espaço da escola, faz com que suas práticas, concepções, sentimentos, representações e escolhas assumam uma importância vital nos resultados de seu trabalho e no desenvolvimento do aluno que o copia e admira, por isso, sua prática deve ser reflexiva. O que podemos concluir diante dessa pesquisa é que, para o professor atuar com a educação inclusiva ,é preciso antes de conhecer técnicas e desenvolver competências, reconhecer a si e seus valores como pessoa, pois esses não estão desvinculados de sua prática.

Trabalho de Professor do Ensino Básico ou Técnico

Palavras-chave: educação inclusiva, representação social, formação de professores

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