60ª Reunião Anual da SBPC

INTRODUÇÃO:

Este trabalho dedica-se à questão das metáforas, pois entendemos que esses fenômenos não são elementos de enfeite lingüísticos e estão presentes em todas as formas discursivas com as quais nos confrontamos. Além disso, a discussão do tema é de grande relevância, tendo em vista que muitos dos problemas que ocorrem no trabalho com a língua em sala de aula e no nosso dia-a-dia, seja na leitura ou na produção textual, devem-se de modo claro a questões de multiplicidade de sentidos ou de sentidos produzidos com estratégias cognitivas complexas. De modo mais explicito, visa-se a: (a) identificar a incidência desse fenômeno no gênero textual selecionado e (b) sugerir formas de tratamento e análise. Aqui tomamos como alicerce a visão de língua como atividade sócio-interativa histórica situada de caráter essencialmente cognitivo, tal como proposto por Marcuschi (2004). Ademais, nos apoiamos teoricamente nas contribuições advindas da Semântica Cognitiva, em especial na teoria da Metáfora Conceptual defendida por Lakoff (1980) e colaboradores.

METODOLOGIA:

Como corpus de análise, utilizamos 10 exemplares textuais do gênero Letra de Música escolhidos aleatoriamente do cancioneiro da Música Popular Brasileira (MPB) contemporânea. Prezamos por uma análise qualitativa dos dados, observando-se a relação entre atividades lingüísticas e atividades cognitivas. A escolha do gênero não se deu de forma acidental, mas pela substancial recorrência do fenômeno abordado. Definido o corpus, a pesquisa seguiu as seguintes etapas: (a) as metáforas encontradas foram classificadas em orientacionais, ontológicas e estruturais, com o objetivo de validar a teoria sobre a qual nos debruçamos; (b) foram observados os modelos culturais que operam ou convergem com as metáforas encontradas e, finalmente, (c) tentamos esboçar alguns traços característicos da formação discursiva estudada, no que se refere à temática aqui abordada.

RESULTADOS:

Seguindo a nomenclatura de Lakoff (1980) e colaboradores, a maioria das metáforas encontradas pode ser definida como metáforas ontológicas ou estruturais e uns poucos exemplos como metáforas orientacionais. Na maior parte dos textos, as metáforas estavam dispostas como numa rede, ligando-se umas às outras, de forma que seu entendimento satisfatório só se dá na leitura e no confronto mútuo. Além disso, podemos afirmar com algum grau de certeza que os textos analisados são, cada um individualmente, macro metáforas, compostas por metáforas ‘menores’ - moléculas da mesma substância. Isto nos remete às observações iniciais desta pesquisa, quando chamávamos a atenção para o fato de as metáforas não serem meros elementos de adorno na língua. Percebemos com os exemplares estudados que as metáforas configuram, ou melhor, estruturam nosso pensamento e nossa forma de partilharmos e de negociarmos o sentido. E pelo fato de vivermos numa mesma cultura e comungarmos uma gama enorme de experiências corporais / perceptuais podemos entender essas metáforas de forma on-line, isto é, no ato de sua enunciação (ou de nossa recepção) sem que para isso seja necessário acessar nenhum outro sentido, indo-se direto ao sentido pretendido.

CONCLUSÕES:

A análise dos textos nos permitiu comprovar a importância do léxico nos processos de construção de metáforas e como as relações lexicais constroem redes de significações e nos permitem criar quadros conceituais novos a partir da sobreposição de outros. Endossamos, então, a postura de Marcuschi (2004) ao afirmar que as metáforas constituem-se como importantíssimos elementos no processo de textualização e, também, a posição de Lakoff e colaboradores ao afirmarem sobre o caráter metafórico da linguagem / pensamento. As análises foram breves e não esgotamos, em nenhum dos pontos abordados, as potencialidades de tratamento dos enunciados metafóricos. Mas esperamos que nossas observações tenham servido para uma reflexão mais consciente sobre a funcionalidade, construção e recorrência do fenômeno discutido.

Palavras-chave: Metáfora, Léxico, Cultura

E-mail para contato: adrianoad@hotmail.com