60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 13. Serviço Social - 74. Serviço Social Aplicado

SEXUALIDADE E VELHICE: SERÁ QUE PODE?

Izan Yver Nascimento de Carvalho1, 3
Tatiane Marcielle Amaral Costa1, 3
Alex Santiago de Souza1, 3
Heliana Baia Evelin Soria2

1. Universidade Federal do Pará
2. Profª. Drª. - Faculdade de Serviço Social - ICSA / UFPA - Orientadora
3. Graduando(a) - Faculdade de Serviço Social - ICSA / UFPA


INTRODUÇÃO:
Poder chegar a uma idade avançada, já não é mais privilégio de poucas pessoas. No Brasil, dados do IBGE (2006), apontam uma média da expectativa de vida do brasileiro em 72,3 anos, sendo os indicadores para mulheres melhores do que para os homens que atingem os 76,1 anos e 68,5 anos, respectivamente. Apesar deste processo em curso, convivemos numa sociedade com o ideário do culto ao corpo jovem, com símbolos, marcas e valores, gerando dificuldades na assimilação da identidade do ser velho. Dentro desse universo do envelhecimento e o olhar dispensado a esse processo, destaca-se a dimensão da sexualidade. Segundo pesquisadores da área médica, muitas pessoas, na oitava década de vida, continuam sendo sexualmente ativas; mais da metade dos homens maiores de 90 anos referem manter interesse sexual, mas apenas menos de 15% deles podem ser considerados sexualmente ativos. A crença de que o avançar da idade e o declinar da atividade sexual estejam inexoravelmente ligados é construída na forma de representações sociais, nas conversações diárias dos grupos e nas famílias. Neste sentido, o foco do estudo reside na percepção dos idosos sobre o tema da sexualidade e identificar como estes lidam com questões ligadas à mesma, objetivando entender como enfrentam os desafios de exercerem sua sexualidade nos dias atuais. Abordamos um grupo de 35 idosos de ambos os sexos de um Grupo de Convivência em Belém do Pará Consideramos ser relevante o estudo como contribuição para a temática do envelhecimento populacional.

METODOLOGIA:
As concepções de envelhecimento e sexualidade foram construídas a partir do levantamento bibliográfico e discussões sobre aspectos que direcionariam a pesquisa. Verificamos que, a maioria das discussões sobre envelhecimento está na área médica e contamos com um incipiente acervo sobre a temática abordada. Adotamos a noção do envelhecimento como fenômeno resultante de múltiplos fatores, que trazem à vida dos idosos uma série de exigências e transformações. Utilizamos o estudo das representações sociais, com ênfase sócio-antropológica, para compreendermos as construções ideológicas da sociedade e suas reflexões no pensar, no entender, no compreender e no agir dos indivíduos que vivenciam o processo de idade tardia. Consideramos que as categorias de idade são construções culturais, produtos e produtoras de espaços para práticas sociais e relações de poder. A pesquisa teve como instrumentos a observação in loco em um grupo de convivência de pessoas idosas, aplicação de questionários e entrevistas, contendo perguntas sobre a situação sócio-econômica e cultural, bem como acerca do assunto proposto. A pesquisa foi realizada na Organização Não Governamental (ONG) “Centro de Convivência da 3ª Idade Palácio Bolonha”, fundada no ano de 1999 na cidade de Belém do Pará e que, até o momento, possui cerca de 80 idosos na faixa etária de 50 a 85 anos. Os instrumentos de pesquisa foram aplicados a 35 (trinta e cinco) pessoas, com idades entre 50 e 83 anos, de ambos os sexos, escolhidas de forma aleatória durante dois dias.

RESULTADOS:
Constatamos não haver a identificação dos pesquisados como idosos, ou seja, relacionam o ser velho com a idéia de ultrapassado e impossibilitado de realizar determinadas ações associadas aos jovens. Como exemplo, citamos a fala de uma senhora de 83 anos: “Velha só na idade, o meu espírito ainda é de jovem”. Esse pensamento se repetiu nas respostas da maioria dos 35 entrevistados, aproximadamente 86% do total. Shirley Donizete Prado observa que as mudanças na forma de conceber e institucionalizar a velhice indica a construção de um mundo em que o envelhecimento se apresenta cada vez mais heterogêneo, colocando em confronto realidades muito desiguais. A sexualidade, para o público alvo da pesquisa, está deixando de ser um tabu. Ao serem perguntados sobre a questão de possuírem vida sexual ativa alguns, ficaram tímidos, mas nenhum deixou de responder. Ligam a sexualidade ao afeto, carinho, gostar de estar junto, relacionando o ato sexual muito mais a troca de carícias do que ao coito. “O sexo na velhice é mais romântico, carinhoso, não temos a pressa dos jovens, temos uma relação mais qualitativa do que quantitativa”, disse um senhor de 75 anos. Para algumas mulheres, o sexo é um compromisso de esposa. A sexualidade dos idosos também foi manifestada na forma de um cuidado com o corpo, a auto imagem, a saúde e a qualidade de vida. Outro grupo de entrevistados (cinco idosos) expressou que na velhice não há tanta necessidade de vida sexual e que poderiam ficar sem, associando a sexualidade apenas a questão reprodutiva.

CONCLUSÕES:
Constatou-se a heterogeneidade das respostas, predominando a quebra de tabus, sobre a sexualidade no envelhecimento, mas permanecendo a idéia de que o lado positivo das relações sociais na velhice deve-se ao ‘espírito jovem’. A crença de que a idade e o declinar da atividade sexual estão inexoravelmente unidos têm feito com que não se preste atenção suficiente à sexualidade do idoso. Entretanto, os estudos médicos demonstram que a maioria das pessoas de idade avançada é capaz de ter relações e de sentir prazer em toda a gama das atividades a que se entregam as pessoas mais jovens. Uma revisão da literatura médica sugere que, nos idosos, a função sexual é comprometida pelas mudanças fisiológicas e anatômicas. Mas é um erro grosseiro e freqüente a confusão que se faz entre envelhecimento e doença. Existem importantes variações individuais na sexualidade durante o envelhecimento, relacionadas a fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. O interesse ou desejo sexual nos homens, por exemplo, se mantém melhor que a atividade sexual, enquanto nas mulheres, existe um declínio em ambos os aspectos da sexualidade. É necessário que os profissionais que trabalham com pessoas idosas, bem como a sociedade em geral entendam mais sobre o processo de envelhecimento humano e suas repercussões na vida dos indivíduos, de modo a contribuir com esclarecimentos, discussões, debates, estudos e pesquisas na (des) construção das representações do idoso, de suas vontades e anseios em relação à sexualidade.

Instituição de fomento: Pro-Reitoria de Administração - PROAD / UFPA

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Envelhecimento Humano, Sexualidade, Qualidade de Vida

E-mail para contato: yver_nascimento@yahoo.com.br