60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 1. Agronomia - 4. Fitotecnia

MAPAS DE INFESTAÇÃO DE PLANTAS DANINHAS EM DIFERENTES SISTEMAS DE COLHEITA DA CANA-DE-AÇÚCAR.

Lucas Rios do Amaral1
Patrícia Andrea Monquero1, 2
Denis Paquier Binha1

1. CCA/UFSCar
2. Prof. Dr. Orientadora. Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental.


INTRODUÇÃO:
A colheita mecanizada da cana-de-açúcar está cada vez mais presente nos sistemas de produção no Brasil, onde a deposição e a manutenção de palha sobre a superfície do solo, mesmo contribuindo com a sua conservação, pode causar mudanças no manejo da cultura. Neste sentido, plantas daninhas normalmente consideradas importantes, como Brachiaria decumbens, B. plantaginea, Panicum maximum e Digitaria horizontalis, podem ser eficientemente controladas pela presença de palha. No entanto, o mesmo não ocorre com plantas como Ipomoea grandifolia e Euphorbia heterophylla. Logo, espécies menos afetadas pela presença da palha podem ser selecionadas com o tempo, tornando-se problemáticas nos canaviais. Sendo assim, estudos sobre seleção da flora infestante pela palha são indispensáveis para identificar espécies com potencial de seleção neste sistema e o estabelecimento de programas de controle preventivo, onde uma predição precisa da emergência do banco de sementes de plantas daninhas, através de mapeamento, permitiria o planejamento mais eficiente do controle da infestação. O objetivo deste trabalho foi testar a viabilidade das ferramentas de agricultura de precisão no mapeamento do banco de sementes em áreas cultivadas por cana-de-açúcar submetidas aos sistemas de colheita manual e mecânica.

METODOLOGIA:
A coleta de solo para a avaliação do banco de sementes foi realizada na Usina Santa Lúcia, localizada no município de Araras-SP. Foram escolhidas duas áreas vizinhas dentro da usina, uma com corte mecanizado de cana crua e outra com corte manual e queima prévia do canavial, por três anos consecutivos. As área com cana-de-açúcar foram divididas em uma grade quadrada, sendo que as coordenadas do perímetro da área e do ponto central das grades de amostragens foram determinadas com equipamento de sistema de posicionamento global, modelo Garmin Vista, e um Pocket PC Ipaq 3600, equipado com o software Field Rover II, para navegação no campo. Para cada ponto georreferenciado foram coletadas 13 sub-amostras de 0 a 20 cm, em forma de cruz, utilizando-se um trado holandês de 5 cm de diâmetro. Para verificar a germinação do banco de sementes, as amostras de solo foram acondicionadas em bandejas com 5 cm de profundidade em casa-de-vegetação. Após cada fluxo de emergência, as plantas foram identificadas, contadas e retiradas das bandejas. Esta quantificação foi realizada até 90 dias após a instalação. Os dados obtidos foram inseridos no ToolboxLite, software do SIG, onde as informações foram cruzadas e interpoladas, resultando nos mapas de infestação de plantas daninhas.

RESULTADOS:
Para a confecção dos mapas de distribuição espacial foram utilizadas as plantas daninhas de maior ocorrência nas áreas: Portulaca oleracea, Phyllanthus tenellus, Solanum americanum, Lepidium virginicum, Cyperus rotundus, Brachiaria decumbens, Amaranthus retroflexus, A. hybridus, Ipomoea grandifolia e I. purpurea. As monocotiledôneas se concentraram na área de cana queimada, com 130 a 2340 sementes viáveis m -2, enquanto que, na área de cana crua, os valores variaram de 130 a 1300 sementes viáveis m -2, sendo que cinco espécies gramíneas foram observadas no primeiro sistema e apenas uma no segundo. As dicotiledôneas ocorreram em maior quantidade e diversidade que as monocotiledôneas em ambas as áreas, mas a concentração foi maior na área colhida após a queima do canavial, com reboleiras de 15600 a 36400 sementes viáveis m -2, enquanto que na área com palha, encontraram-se valores que variaram de 130 a 7800 sementes viáveis m -2. A palha da cana-de-açúcar diminuiu o banco de sementes das espécies P. oleracea, S. americanum, P. tenellus, L. virginicum, C. rotundus, A. retroflexus e A. hybridus. No entanto, constatou-se maior potencial de infestação de I. grandifolia no sistema de cana-crua (130 a 520 sementes viáveis m -2) em relação à com cana queimada (130 sementes viáveis m-2).

CONCLUSÕES:
Apesar da maior parte da área apresentar em torno de 10 t ha-1 de palha, essa quantidade variou de 3 a 10 t ha-1, permitindo a germinação e produção de sementes de plantas daninhas em determinados pontos da área. Sendo assim, para que o controle de espécies sensíveis à cobertura com palha fosse maximizado, seria necessário que o resíduo estivesse presente na quantidade necessária e regularmente distribuído sobre o solo. Quando o solo estiver protegido com a camada de resíduos vegetais, as plantas que sobrevivem às dificuldades iniciais de estabelecimento, geralmente, são beneficiadas pela baixa população, cabendo-lhes uma grande porção dos recursos do ambiente, favorecendo seu desenvolvimento e produção de sementes. Deste modo, algumas espécies dicotiledôneas estão sendo selecionadas no sistema de cana crua, principalmente plantas do gênero Ipomoea, consideradas problemáticas por serem capazes de impossibilitar a colheita mecanizada. Em relação às gramíneas, o controle pela palha foi altamente eficaz e as infestações destas espécies tendem a ocorrer onde há irregularidade na distribuição de palha. O conjunto de resultados mostra que a agricultura de precisão é uma ferramenta útil para a predição do banco de sementes das plantas daninhas através de mapeamento da infestação.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  agricultura de precisão, banco de sementes, variabilidade espacial

E-mail para contato: lucasamaral@agronomo.eng.br