60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 4. Educação Básica

RELAÇÕES DO ALUNO DO SEGUNDO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL COM A LEITURA

Cintia Milene Favaro1
Cristina Broglia Feitosa de Lacerda2

1. UNIMEP
2. UNIMEP - Profa. Dra. Orientadora


INTRODUÇÃO:
As práticas de leitura sofreram grandes modificações ao longo da história, principalmente quando considerados os suportes em que os textos são veiculados. O ato de ler é concretizado a partir da relação que o homem estabelece com textos em diferentes suportes (livro, jornal, revista, Internet) e com o tipo de leitura (lazer, interação, comunicação, informação, estudo, pesquisa) que procura em cada um deles. Atualmente, deparamo-nos com novos apelos sociais. Ler texto não é mais ler a escrita, não ocorre apenas na linearidade; mas é ler o uso misto da imagem em movimento, da linguagem oral e escrita; é ler em espaços de interação social, com a possibilidade de se navegar por diversos caminhos ao mesmo tempo. Diante das transformações sócio-culturais por que estamos passando, a escola precisa encontrar maneiras de oferecer experiências significativas a seus alunos, compreendendo os caminhos trilhados por eles no processo de leitura. Com base nas teorias sobre linguagem do Círculo de Bakhtin (dialogismo, interação verbal, gêneros do discurso, enunciado), esta pesquisa busca compreender as relações do aluno do segundo ciclo do ensino fundamental com a leitura em diferentes suportes, para repensar metodologias que possam favorecer a relação desses alunos com a leitura.

METODOLOGIA:
O estudo proposto consiste em uma pesquisa participante. Foi observada uma sala de aula com 31 alunos de uma 7ª série, sendo 10 meninos e 21 meninas, com idades de 12 a 14 anos, matriculados em uma escola municipal do interior do estado de São Paulo, na qual sou professora de Língua Portuguesa. Durante quatro meses os alunos participaram de rodas de conversa para a reflexão sobre leitura. Estas atividades foram filmadas para análise de situações de sala de aula que versavam sobre leitura e sobre os textos lidos. Os alunos foram convidados ainda a participar de conversas e reflexões sobre o tema em uma comunidade virtual do site de relacionamentos Orkut. Os comentários escritos pelos alunos também foram estudados. A análise dos resultados se pauta nos pressupostos da análise microgenética, já que se trata de um trabalho que atenta para o recorte de depoimentos, episódios de atividades, e relatos escritos que podem indicar a gênese de relações permeadas pela leitura. Esta análise permite que se olhe para o processo enunciativo - discursivo da linguagem e para a intersubjetividade, ambos constituintes do sujeito e constituídos pelas relações sociais, culturais e históricas em eventos singulares, nos quais cada aluno é único.

RESULTADOS:
Duas situações estudadas foram selecionadas para esta análise. A primeira foi filmada em sala de aula. O aluno A diz que não teve “pique” para ler outro livro: “Esse livro mexeu comigo” (mostrando a obra “Liz do Peito”, de Jorge Miguel Marin, em mãos). Explica que não conseguiu ler mais nada, precisou continuar dialogando com aquele livro, entender melhor suas impressões a respeito dele, indicando que os jovens podem se envolver de maneira aprofundada com a leitura realizada. A qualidade da leitura e o envolvimento maior podem ser indícios mais significativos da constituição de leitores do que a conferência da quantidade de livros lidos, o que, em geral, é privilegiado pela escola. A segunda situação focaliza o aluno B que fala, com indiferença, sobre ler apenas quando se sente “inspirado” e que prefere ler revistas. Considera pior a leitura do colega, que lê somente gibis. Há um aparente preconceito em relação a outros materiais de leitura que não seja o livro. Para os alunos, quem lê revistas, gibis, não lê. Estas leituras são consideradas menos qualificadas que outras exigidas pela escola. Os alunos apresentam a mesma idéia sobre textos veiculados pela Internet. Acreditam que hipertextos, de modo geral, não são adequados para serem comentados em atividades escolares.

CONCLUSÕES:
Os jovens relacionam a leitura à significação que fazem da leitura. Gostar de ler tem relação direta com compreender o que lê. A interação do leitor com o texto permite a ressignificação da palavra. As múltiplas vozes que permeiam o leitor possibilitam significações variadas a cada leitura. A constituição do sujeito-leitor equivale historicamente a procedimentos de controle, seleção, organização e redistribuição realizados por outros sujeitos. Neste aspecto, a escola tem papel fundamental. Por isso, os jovens incorporam às suas leituras os valores que outros sujeitos atribuem a elas. O aluno sente que só pode considerar como leitura aquilo que é valorizado pelo meio em que ele se encontra. A leitura é aprendida socialmente, no contexto de uma cultura. Assim, as relações que o jovem estabelece com a leitura variam de acordo com suas experiências com essa prática. A escola pode ser um espaço para práticas amplas de leitura, apresentando melhor inserção no contexto de leitura do mundo atual. Certamente, tais pontos não esgotam as possibilidades de análise que os dados coletados permitem, todavia são pontos de ancoragem iniciais que permitirão reflexões mais adensadas acerca do tema tratado.



Palavras-chave:  leitura, interação, dialogismo

E-mail para contato: cintiamilenef@hotmail.com