60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 4. Arqueologia

A CULTURA MATERIAL COMO FORMA DE EXPRESSÃO IDEOLÓGICA: UMA ANÁLISE DA CERÂMICA ENCONTRADA NO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SÃO FRANCISCO, SÃO SEBASTIÃO, SP.

Estevam Souza do Plado1
Wagner Bornal2

1. UNIMÓDULO / UNICSUL / Graduando em História
2. Prof. Ms. - Doutorando - USP - Orientador


INTRODUÇÃO:
Esse trabalho tem por finalidade a realização de uma análise dos fragmentos de cerâmica encontrados no Sítio Arqueológico São Francisco localizado em São Sebastião (litoral norte de São Paulo). Artefatos que de acordo com as hipóteses (Wagner Bornal – arqueólogo responsável pelo sítio) foram produzidos por escravos da região, sendo esta grande referência na produção de utilitários de cerâmica no momento da existência da fazenda de produção de açúcar, atual sítio arqueológico. Portanto a análise dos fragmentos de cerâmica, possuidores de imagens, tornou-se de extrema importância para a aquisição de informações referentes as bases estruturais da cultura regional e brasileira. Assim as hipóteses foram formuladas com base na possibilidade das representações plásticas (imagens) encontradas nos fragmentos cerâmicos se referirem à identidade cultural, pelo fato de muitas serem semelhantes à escarificações que tinham como um dos significados a identidade étnica. Mas também podem ter relação com fenômenos e elementos naturais que se transformaram em representações mentais, as quais podem expressar afetividades, sentimentos, resistência e expressão ideológica em geral. Constituindo em alguns casos sistemas lógicos inseridos na cultura material, não somente por meio das imagens, mas também pela simples existência, pelas formas e pelo material de composição. O que constitui as hipóteses desse trabalho que em si só torna-se relevante para formulação de novas questões que se referem a cultura brasileira e suas hibridações.

METODOLOGIA:
As visitas ao Sítio Arqueológico São Francisco deram início a esse trabalho, sendo os fragmentos de cerâmica encontrados no local o que se tornou mais evidente aos olhos do autor. Demonstraram ser pertencentes ao cabedal cultural do grupo dominado, ou seja, os escravos africanos. Através de tal percepção o contato com o arqueólogo responsável passou a ser direcionado a tal questão, deste modo as consultas orais constituíram a ferramenta metodológica inicial. Em seguida iniciou-se a pesquisa bibliográfica focada, respectivamente, à história local, cultura africana e afro-brasileira, semiótica, filosofia e arqueologia cognitiva (em paralelo com as outras linhas), estabelecendo a base para a análise da cultura material. O contato direto com os artefatos tornou-se intelectualmente possível, o que permitiu o autor freqüentar o laboratório de arqueologia do setor de “Patrimônio Histórico” de São Sebastião-SP. Onde a observação e catalogação fotográfica foram realizadas, para que em seguida fossem plausíveis as associações com a bibliografia estudada. O que deu fruto a redação de textos que serão utilizados na formulação da monografia, ou trabalho final do curso de história.

RESULTADOS:
De acordo com as estatísticas da região acredita-se que os habitantes provenientes da África que existiram no local em sua grande maioria faziam parte do tronco lingüístico de língua banto, distribuídos em mais de 400 grupos, considerados animistas. Produtores da maioria dos artefatos encontrados por meio de escavações no sítio arqueológico em questão. Confirmou-se por meio da análise a ocorrência da transformação de elementos da natureza em “representações mentais” (Górgias de Leontine) ou culturais como as expressas na cerâmica é um dos fatores que dará base à construção da cultura, podendo ser por tentativa de construir estruturas com a mesma lógica de associações da natureza ou a partir delas. Até chegar às construções que são propriamente culturais, as quais têm por finalidade alimentar a cultura, como a arte e os mitos. Coisas próprias do ser humano, o qual sintetiza o total ou a essência das representações mentais em linguagens que deixam de ter relação com a sua origem natural. Admite-se então a utilização desse processo para que a natureza forneça os subsídios necessários à existência humana, referidos por meio das simbologias. Afinal, esses elementos (da natureza ou venerados) possuem um certo poder em relação à comunidade em questão, pelo fato dessa depender deles para sobreviver. Ocorrendo hibridismos impulsionados pela política escravocrata em relação aos rituais originais, constituindo arquétipos das religiões afro-brasileiras conhecidas hoje.

CONCLUSÕES:
O mundo se vislumbra ao indivíduo de forma a dominá-lo e a morte é uma das provas desse domínio, negado pelo rito. As imagens utilizadas nos rituais diários levam os indivíduos aos códigos secundários, os quais o levarão a realidade onde a complexidade esta presente. E esta diferente da primeira realidade que esta associada ao biológico, está para o sócio-biológico e a terceira que é o produto da cognição humana esta associada à pragmática, quando desvela o poder dos textos próprios ao ser humano, um palmo de distancia do sócio biológico e 1% dos primatas e hominídeos. Essa é a diferença biológica que temos do último, a qual nos faz criadores da cultura. A inteligência abstrata se contrapõe à concreta, nos faz imaginar utilizando elementos de nossa realidade, possibilitando criar o futuro que se torna realidade num primeiro momento aos olhos da mente e num segundo em primeira realidade. A relação com o mundo vai se tornando complexa na medida em que tentamos organizar a realidade palpável, para que essa se torne confortável à mente complexa humana. Levando em conta escritos de Edgar Morin (23) para tecer tais comentários. 23 MORIN, Edgar. O enigma do homem: para uma nova antropologia. Trad. de Fernando de Castro Ferro. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

Instituição de fomento: UNIMÓDULO / UNICSUL

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Arqueologia, Cerâmica, Cultura

E-mail para contato: estevamplado@terra.com.br