60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

LEDOR VADOR: CONSTRUINDO IDENTIDADES JUDAICAS DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO (ESTUDO EXPLORATÓRIO DE CASOS DE FAMÍLIAS E ESCOLAS JUDAICAS EM S. PAULO)

Alberto Milkewitz1

1. 1) UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – USP


INTRODUÇÃO:
A hipótese de trabalho desta pesquisa foi que a educação age para a continuidade judaica entrelaçando identidades individuais e coletivas, sendo que ambas se compõem, do ponto de vista sócio-cultural, nas famílias e nas escolas, por gerações. Os casos estudados eram a composição de escola, família e a relação entre elas. A pesquisa apoiou-se nos trabalhos de Castells, Kelman, Arendt e Bar-On. O problema envolveu perguntas entrelaçadas: o que se une pela educação, na família e na escola, e faz se manter parte do mesmo coletivo a tantos judeus de orientações religiosas e culturais tão diferentes? Como se dá esse processo do ponto de vista geracional, se a preocupação é com a continuidade? O que compartilham em comum, que faz com que sejam elas todas igualmente judaicas, escolas que são diferentes em sua religiosidade e em sua proposta educativa? Que elementos são relevantes para a continuidade nas famílias com relação a atitudes que praticam na educação e na escolha de escolas para seus filhos? O objetivo foi achar pistas para a compreensão da presença da educação na continuidade do Judaísmo, tal como praticada por famílias e por escolas, em São Paulo contemporâneo. O estudo das famílias teve perspectiva geracional junto às escolas, analisando ambas de forma conjunta.

METODOLOGIA:
Esta pesquisa foi exploratória, qualitativa e interdisciplinar. Primeira fase foi o estudo teórico das identidades coletivas em geral, não apenas as judaicas e a pesquisa bibliográfica sobre escolas judaicas paulistas, que mostrou que seria imprescindível o uso de fontes vivas. Na segunda fase foi realizada a visita as quatro escolas Bialik, Peretz, Renascença e Yavne. O roteiro das entrevistas com os diretores abordou a dinâmica do Judaísmo na escola e as identidades judaicas. A visão metodológica considerou a implicação psico-afetiva e a relevância do envolvimento pessoal e profissional do autor com os sujeitos. No passo seguinte, com os diretores foram identificadas famílias nas quais pelo menos as últimas duas gerações, senão três, tivessem estudado lá. As entrevistas com as diferentes gerações das famílias seguiram um roteiro e tiveram duração média de uma hora. Foram entrevistas dirigidas e semi-abertas, para abordar assuntos que precisavam de sua confirmação e dar espaço para manifestações não previstas. Todas foram gravadas e transcritas literalmente, sem fazer retificações. Procurou-se fazer comparações intra (entre gerações da mesma família) e inter-familiares (entre diferentes famílias entrevistadas).

RESULTADOS:
Nesta pesquisa evidencia-se que as escolas são uma escolha definida e comprometida da família, renovada a cada momento, que tem a ver com sua identidade judaica pessoal e familiar. Funcionam como espaço de acolhimento e negociação, onde as crianças encontram-se com as diversas alternativas oferecidas, e experimentam como lidar interna e externamente com elas. Oferecem esperança de um futuro coletivo, uma promessa de que é possível ser judeu de formas variadas e que há e haverá perspectivas de continuidade. As escolas acolhem a dinâmica identitária dos estudantes que incluem os silêncios e os sofrimentos atuais e passados das famílias, bem como as conquistas, as alegrias e o orgulho de pertencer a um grupo com uma história milenar, que também estão presentes nas variadas âncoras que cada família escolhe e prioriza. As escolas colocam compreensão, conhecimento e vivência, praticada de forma muito presente. Não é um Judaísmo, mas são vários Judaísmos, muitas faces de uma mesma origem que as escolas ajudam a preservar no contexto da condição (humana) efetiva que se vive em São Paulo, nos dias atuais. São o espaço que acolhe a criação e recriação de identidades de projeto, fundadas por gerações que propuseram identidades judaicas coletivas diversas, muitas vezes de resistência.

CONCLUSÕES:
A pesquisa mostra a coexistência, nem sempre pacífica, nas mesmas famílias e escolas, de várias identidades judaicas coletivas. O uso da expressão “identidade judaica” no singular dá uma falsa visão desta realidade. Ao que tudo indica, em todas as circunstâncias é plural. Também deve se falar de educação judaica no plural. O singular faz perder parte essencial. Nas escolas acontece um encontro dessas identidades judaicas, voltado para o diálogo e o conhecimento mútuo. Ou para o embate duro e complexo. As escolas, com sua experiência de acolhimento, têm situação privilegiada. Mas há dificuldade para alguns episódios importantes da vida das famílias serem falados. São silêncios sociais significativos. A necessidade coletiva de se arraigar à nova terra, deixando para trás os dramas do desarraigamento, questão afetiva forte, leva a silenciar hostilidades e pressões que pela força das mesmas, obrigam a calar. Os entrevistados não falam do anti-semitismo, de serem alvos da antipatia da sociedade, da discriminação, das demandas da sociedade e da comunidade sobre a escola. Isso parece servir para encobrir os atritos com o meio circundante, interno ou externo. Os Colégios lidam com essas angústias e dificuldades implícitas, através da negociação do espaço para a própria identidade.



Palavras-chave:  EDUCAÇÃO JUDAICA, IDENTIDADES JUDAICAS COLETIVAS, JUDAÍSMO

E-mail para contato: amilkewitz@usp.br