60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 5. Sociologia Rural

A EXPANSÃO DA CULTURA CANAVIEIRA EM SÃO PAULO: EFEITOS SOBRE A ESTRUTURA FUNDIÁRIA E A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Lara Abrão de Moraes1
Maria Aparecida de Moraes Silva2

1. 1Departamento de Economia//Universidade Estadual Paulista
2. 2Programa de Pós-Graduação/Sociologia/UFSCar.


INTRODUÇÃO:
Desde o século passado, a macro-região de Ribeirão Preto, com 81 municípios, é conhecida como uma das mais desenvolvidas do país. Primeiramente, o café foi o responsável pela produção de enormes riquezas. No início dos anos de 1960, surgem as usinas de cana-de-açúcar e álcool, cuja expansão da produção, ao longo destas últimas décadas, coloca esta região (além de outras) no mais alto ranking da economia brasileira. Ademais, nesses últimos meses, o etanol tem sido visto como principal alternativa para a solução dos problemas energéticos futuros, em razão do esgotamento das reservas petrolíferas mundiais. Grandes empresas estrangeiras já se mostraram interessadas em investir neste negócio, que coloca o Brasil como um dos mais competitivos do mundo. Segundo a UNICA (União da indústria canavieira do estado de São Paulo), no ano de 2006 foram instaladas 19 usinas em todo o estado, havendo a ocupação de milhares de hectares em cana. Diante desse cenário, os objetivos do trabalho visam à análise dos efeitos da extensão da cultura canavieira na macro-região de Ribeirão Preto quanto à concentração de terras e de capitais, às novas formas de apropriação da renda da terra, caracterizadas pela presença crescente de fornecedores de cana e pelos arrendamentos de terras.

METODOLOGIA:
Em razão do alastramento da cultura canavieira por todo o estado, os dados sobre a produção e estrutura agrária se referem a todas as DIRAs (Divisões Regionais Agrícolas), a fim de possibilitar a análise comparativa. A principal fonte de informações desse quesito é o IEA (Instituto de Economia Agrícola). No tocante aos fornecedores, os dados foram obtidos a partir das informações das Associações existentes nesta região e de pesquisa bibliográfica. Quanto ao arrendamento, as informações provêm de entrevistas com presidentes de Associações de Fornecedores e dados do IEA.

RESULTADOS:
O emprego dessa metodologia possibilitou a produção de diversos quadros estatísticos capazes de revelar o avanço da monocultura canavieira, sobretudo, em regiões que, até então, eram de pastagens e produtoras de alimentos. A partir do ano de 2000, foi possível visualizar o decréscimo da área ocupada com alimentos, frutas e grãos em todo o estado. A pesquisa também detectou o avanço da cana-de-açúcar em assentamentos rurais da região, favorecidos pela lei estadual que permite o plantio dessa cultura em até 30% do total da área ocupada. Ademais, os dados apontam para o crescimento da concentração de terras, havendo propriedades com mais de 10 mil hectares, além da concentração da produção, não somente das terras das usinas como também dos fornecedores. A partir das informações obtidas das Associações, foi possível criar uma tipologia dos fornecedores de cana nessa região, cujos perfis revelam a presença da concentração da produção. O exemplo da SOCICANA revela que 42,17% do total dos fornecedores produzem mais de 10.000 toneladas de cana, enquanto apenas 5,72% produzem menos de 200 toneladas. Quanto ao arrendamento, verificou-se que, com o aumento do preço das terras, muitas propriedades que se destinavam a outros cultivos, como produção de leite e café, foram arrendadas para o plantio de cana.

CONCLUSÕES:
A história objetivada desta região - caracterizada pelas marcas das antigas fazendas de café, das moradias dos colonos e sitiantes, do multicolorido das plantações, além de pastagens, das estradas vicinais, das reservas de matas, de pequenos córregos – está em vias de desaparecimento, cedendo lugar ao monocromático dos canaviais, exceto as áreas ocupadas pelos laranjais. De acordo com dados recentes do IEA, de uma lista de 31 produtos, 22 deles tiveram decréscimo da área plantada no período de 2004-2005 a 2005-2006. Ao contrário, a área de cana apresentou um acréscimo de 10,6%, em apenas um ano. Produtos como a mandioca, trigo, uva, soja, batata, cebola, algodão, sorgo, café, sofreram reduções de áreas. Os dados apresentados revelam de um lado, a concentração da terra e dos capitais, e, do outro, sugerem o desvelamento de outras realidades escondidas sob os números gigantescos sobre produção, produtividade e desenvolvimento científico e tecnológico. Além da super exploração da força de trabalho dos migrantes, provenientes das áreas mais pobres do país, as queimadas da cana durante 8 meses do ano, causam sérios danos ambientais e à saúde da população, segundo estudos, provenientes de várias áreas do conhecimento.

Instituição de fomento: CNPq e FAPESP

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Cultura Canavieira, Estrutura Agrária, Produção Agrícola

E-mail para contato: lara-moraes@hotmail.com