60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

A COMPOSIÇÃO DE CADA UM? UM ESTUDO SOBRE IDENTIDADES E DIFERENÇAS

Maria Isabel Sampaio Dias Baptista1, 2
Maria Teresa Eglér Mantoan1, 2, 3

1. UNICAMP - Fac.de Educação / Depto.de Ens.e Práticas Culturais
2. Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade
3. Profa. Dra. / Orientadora


INTRODUÇÃO:
Este trabalho está em andamento. Trata-se de uma dissertação de mestrado sobre identidade e diferença na vida do músico brasileiro, tendo como referencial central a inclusão. Como pedagoga e cantora profissional atuante, pesquiso um tema que é relevante em diversas áreas. Para a educação, por exemplo, identidade e diferença são questões fundamentais, se pretendemos buscar o ensino que se comprometa com todos os alunos, não importando qual diferença possam trazer à escola. A proposta de meu estudo não é abordar estes conceitos de modo a serem esmiuçados, como sugere provocativamente o título. Desvendar "a composição de cada um" pode ser algo que realmente não se concretize, dada a multiplicidade das características humanas. Trago diversas provocações, na maneira aberta de pensar a diferença e a forma instigante de apresentar a fluidez da identidade. Partindo da constatação de que há na sociedade a tendência em forjar representações fechadas acerca do músico, tenho como objetivo central mostrar a viabilidade de romper com tais representações e buscar possibilidades de apresentar rupturas. Como um dos cuidados que preciso ter em mente, busco evitar as armadilhas do trabalho com as cômodas categorias, bem como, as tentações que a diferença apresenta.

METODOLOGIA:
A metodologia trouxe elementos provocadores para captar possibilidades de rupturas e representações durante as entrevistas. Entrevistei diversos músicos de Campinas e região. Utilizei cinco charges, elaboradas especialmente e que constituíram verdadeiros acintes. Apresentavam situações bem humoradas, tendo como alvo o cotidiano do músico brasileiro. Foram usadas para instigar os entrevistados. Letras de canções foram também selecionadas. Envolveram temas como identidade, profissão e outros aspectos. As letras das canções e vários textos literários tiveram um papel de destaque na discussão teórica. Iluminaram as idéias dos autores que fundamentam o estudo, complementaram minhas análises e, em muitos aspectos, completavam ou contradiziam as falas dos entrevistados. Meu projeto se destaca pela forma de apresentar seu conteúdo. Elaborei um site que foi costurando os conteúdos do trabalho, estabelecendo redes de conhecimentos. Sendo a inclusão um de meus referenciais centrais, a produção do site levou em conta questões relativas à acessibilidade na Web. Além de possibilitar múltiplas conexões, a intenção do site foi veicular arquivos sonoros. A descrição das charges utilizadas foi também transcrita para o Braille, pois dentre os entrevistados havia um com cegueira.

RESULTADOS:
Neste momento do desenvolvimento da pesquisa, estou relacionando as falas dos músicos aos elementos provocadores que havia selecionado, juntamente com as questões teóricas que fundamentam o estudo. De maneira geral, há a percepção de que o músico tende a ser enquadrado pelo social dentro de um estereótipo que, muitas vezes, o inferioriza. A correlação destes depoimentos em redes vem permitindo visualizar diferentes tipos de reação destes profissionais a estes enquadramentos da sociedade. Reações violentas, debochadas, alienadas, de esquiva, de aceitação e outras. Já é possível encontrar algumas reações que confirmam tais representações estereotipadas que a sociedade tece sobre o músico. Outras, ao contrário, promovem verdadeiras rupturas e possibilitam a abertura de brechas. Momentos em que o músico consegue expor sua irredutível diferença, sem perder as características que lhe são peculiares como pessoa, ou profissional.

CONCLUSÕES:
Ao considerar identidade e diferença conceitos banhados pela cultura, suspeito que a relação entre estes está inserida num complexo sistema de representações simbólicas. Identidade e diferença são marcadas pelos elementos que constituem tais representações e envoltas num jogo de poder, que tende a produzir uma teia de relações. Por um lado, os estereótipos que a sociedade tende a construir acerca do músico, mostram a ilusão inerente à identidade. Por outro lado, as reações dos músicos, indicam que a diferença é mesmo algo “incontível”, como dizia Gilberto Gil; ela recusa-se a ser enquadrada em padrões. Sempre haverá algo na diferença que escapará às tipologias, aos rótulos. Neste a multiplicidade pode dar um gancho interessante nesta análise, pois a partir dela a “diferença segue diferindo”. Retomando a questão da inclusão, as características peculiares de cada um, constituem bens preciosos pelos quais ela se sustenta. Compreendo que não posso olhar para os músicos que entrevistei, com o objetivo de enquadrá-los em categorias, ou perfis, pois estes não dizem o que eles são. Se é preciso seguir tendo cuidado com as tentações e acirramentos evocados pela diferença, por outro lado, é a partir dela que temos oportunidade de promover rupturas e romper com os padrões estabelecidos.

Instituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)



Palavras-chave:  Diferença, Identidade, Inclusão

E-mail para contato: bel@beldias.com.br