60ª Reunião Anual da SBPC




E. Ciências Agrárias - 7. Ciência e Tecnologia de Alimentos - 4. Ciência e Tecnologia de Alimentos

NANOTECNOLOGIAS NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Soraia de Fátima Ramos1
Elizabeth Alves e Nogueira1
Marisa Zeferino Barbosa1
Roberto de Assumpção1
Sebastião Nogueira Junior1
André L.S Lacerda2

1. Instituto de Economia Agrícola
2. FAPESP


INTRODUÇÃO:
Nos últimos cem anos, verificam-se crescentes sofisticações das atividades relacionadas com a prática da agricultura, com técnicas capazes de produzir alimentos para um maior número de pessoas, que vão da realização da produção em si até a distribuição dos novos produtos para o consumo final, com a aceleração no ritmo de incorporação de novas tecnologias. Mais recentemente, chega-se à biotecnologia e engenharia genética e ao futuro com as nanotecnologias, já presentes no mercado: filtros solares. Na indústria de alimentos, vem ocorrendo uma revolução tecnológica alterando a forma como o alimento é produzido, processado, embalado, transportado e consumido. As reflexões sobre o seu uso em alimentos suscitam dúvidas sobre os reais benefícios ou possíveis malefícios. É preciso uma participação mais efetiva da sociedade na definição dos rumos do desenvolvimento da nanociência e nanotecnologias no Brasil, com maior interação entre ela e a comunidade científica. O objetivo da pesquisa é aprofundar as reflexões sobre os possíveis impactos sócio-econômicos e ambientais decorrentes das nanotecnologias na indústria de alimentos. A interpretação das perspectivas dessas tecnologias contribuirá para o melhor esclarecimento sobre essa inovação nos sistemas agroindustriais.

METODOLOGIA:
O método é o de levantamento das informações primárias, por meio de entrevistas qualitativas junto aos agentes que compõem o setor: fornecedores, produtores agrícolas (empresários e familiares), processadores, distribuidores, pesquisadores, representantes de ONGs e associações. As nanotecnologias podem ser apresentadas em duas formas. Na primeira, se refere ao prefixo nano como indicador de medida: 1 nano equivale a bilionésima parte de um metro, ou seja, 10-9 metros. Nesse caso, nanotecnologia é só uma escala. O segundo aspecto é que nanotecnologia se refere a uma série de técnicas utilizadas para manipular a matéria na escala de átomos e moléculas que para serem enxergadas requerem microscópios especiais como Microscópio de Varredura de Tunelamento Eletrônico (STM) e de Microscópio de Microssondas Eletrônicas de Varredura (SPM). A nanotecnologia considera a nanociência como o estudo dos princípios fundamentais de moléculas e estruturas com uma dimensão entre 1 a 100 nm (nanômetros), ou seja, uma aplicação dessas moléculas e nanoestruturas em dispositivos nanométricos.

RESULTADOS:
Nano alimento usa técnicas ou ferramentas nanotecnológicas durante o cultivo, produção ou embalagem do produto. Não significa que são alimentos atomicamente modificados ou alimentos produzidos por nanomáquinas. Na indústria de alimentos cite-se a nanofábrica que, no limite, dispensaria a mão-de-obra e uma grande infra-estrutura, uma vez que as matérias-primas poderiam ser transformadas diretamente de acordo com o produto final necessário. As nanotecnologias podem ser aplicadas em alimentos funcionais, na distribuição de nutrientes de modo mais eficiente. Exemplo: novos alimentos “por demanda”, que ficariam inertes e liberando nutrientes para as células quando necessário. Um elemento chave neste setor é o desenvolvimento de nanocápsulas incorporadas aos alimentos para distribuírem nutracêuticos como licopeno, beta-caroteno, fitoesteróis e outros. Nanocápsulas aplicadas em um alimento “interativo” permitiriam ao consumidor modificar as características do alimento, em função de suas necessidades de nutrição ou de sabor. Embalagens inteligentes com essa tecnologia alertarão os consumidores quanto aos prazos de validade dos alimentos. No Brasil, as linhas de pesquisas públicas, nessa área, são conduzidas pelo Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA) da EMBRAPA.

CONCLUSÕES:
Sejam quais forem os impactos das nanotecnologias na indústria alimentícia e os produtos que entrarem no mercado, a segurança nos alimentos deverá permanecer como principal prioridade. Há preocupações quanto ao uso de nanopartículas nos alimentos e em sua manipulação, que trazem os mesmos problemas surgidos com a biotecnologia (OGMs, por exemplo). Há que alterar a atual legislação que não obriga a rotulagem desses produtos. Nesse sentido, o grupo ETC (Action Group on Erosion, Technology and Concentration) solicitou uma moratória para as nanotecnologias nos alimentos. O cenário futuro das produções agrícola e industrial aponta a necessidade de intervenção do Estado e a participação da sociedade como um todo, no sentido de acompanhar e estar à frente do processo de regulamentação das novas tecnologias, como as nano, sobretudo para aquelas que trazem em seu bojo impactos imprevisíveis. Espera-se, ainda, com a nanotecnologia obter processos de produção agrícola mais eficientes e sustentáveis com menos insumos e com alimento de maior valor nutricional e de melhor qualidade. A preocupação que se tem com esta pesquisa e com as que poderão ser desenvolvidas no campo da agricultura e produção de alimentos, é de que estejam adequadas às condições econômicas sociais e ambientais do Brasil.

Instituição de fomento: Ministério do Desenvolvimento Agrário



Palavras-chave:  nanotecnologias, alimentos, indústria

E-mail para contato: soraia@iea.sp.gov.br