60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

ABUNDÂNCIA E ESTRUTURA GRUPAL DE INIA GEOFFRENSIS E SOTALIA FLUVIATILIS NO ENCONTRO DAS ÁGUAS DOS RIOS SOLIMÕES E NEGRO, AMAZÔNIA CENTRAL

Karen Souza Diniz1
Diego Perez Moreira1
Sandra Beltran Pedreros2
Luciana Raffi Menegaldo1

1. Projeto PIATAM - Área de Mamíferos Aquáticos e Semi-aquáticos
2. Profa. MSc. Coordenadora Área de Mamíferos Aquáticos - Projeto PIATAM


INTRODUÇÃO:
Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis apresentam ampla distribuição na bacia Amazônica. Ambas as espécies suportam diversas ameaçadas pela rápida redução, fragmentação e degradação do habitat, decorrente do crescimento das comunidades humanas e suas atividades econômicas. Esse processo de crescimento traz outras conseqüências como contaminação dos rios, sobre pesca, contaminação dos peixes de sua dieta por mercúrio e organoclorados, captura acidental e caça dirigida de golfinhos, alterações do habitat pelo represamento de rios para fins hidrelétricos e de irrigação, desmatamento das margens de lagos e rios e, aumento do tráfego fluvial. Ameaças reconhecidas no plano de ação para mamíferos aquáticos do Brasil como as mais comuns para as espécies na Amazônia brasileira. O conhecimento sobre estas espécies abrange estudos realizados em todos os países amazônicos, relacionados com a dinâmica populacional, ecologia e comportamento. Na Amazônia brasileira existe monitoramento destas espécies nas RDSs Mamirauá e Amanã, Balbina, Purus, Rio Madeira, Tucuruí e rios Solimões (na área de Coari-Manaus) e Juruá. Esta pesquisa objetivou estimar a densidade e caracterizar a estrutura grupal de ambas as esp;ecies na área do encontro das águas dos rios Solimões e Negro caracterizada pela alta atividade humana como trafego fluvial, proximidade de várias cidades (Manaus, Careiro da várzea, Cacau Pirera, Iranduba), pesca comercial e de subsistência; tudo em um ecossistema de várzea estreitamente influenciado pelo regime hidrológico.

METODOLOGIA:
O encontro das águas ocorre ao sudeste da Cidade de Manaus, onde o Rio Negro e Rio Solimões se encontram originando o Rio Amazonas. A característica separação das águas brancas e pretas dos rios se relaciona à diferença de sedimentos que cada rio carrega, sendo muito maior a do Solimões. A área de estudo se encontra entre o Igarapé Mauazinho, o Lago Catalão, o Município de Terra Nova, o Porto da CEASA e o Igarapé de Xiborena; formando um polígono de 10 km2. As observações foram realizadas entre dezembro de 2004 e setembro de 2005. A área foi dividida em nove transectos e percorrida em lancha com motor 40HP a 20 Km/h de velocidade máxima. Para cada avistamento (indivíduos ou grupo) foi registrado data, hora, espécie, localização, comportamento e número de indivíduos por categoria de maturidade (filhote, jovem, adulto). Os grupos foram classificados segundo o número de indivíduos como: Tipo I, um indivíduo; Tipo II, pares; Tipo III, três animais; Tipo IV, de 4 a 6 animais; Tipo V, de 7 a 10 animais; Tipo VI, de 10 a 15 animais e; Tipo VII, com mais de 15 animais. Os dados tabulados foram analisados por freqüência para cada fase do período hidrológico e o teste X2 usado para identificar se houve diferenças entre as freqüências de abundância (densidade) para cada espécie por fase do período hidrológico.

RESULTADOS:
Em 23 dias de trabalho foram 109:24 horas de esforço (tempo total de busca e observação dos golfinhos: 55:50 horas na manhã e 53:34 horas na tarde). Foram 175 avistamentos (54 Inia e 120 Sotalia), com 354 indivíduos (72 Inia e 282 Sotalia). 58,92 % dos avistamentos ocorreram na tarde para ambas as espécies. Sotalia foi mais observado durante a enchente e Inia durante a enchente e vazante. O tamanho grupal médio foi de 1.3 ind. para Inia e 2.35 ind. para Sotalia. Em Inia o grupo Tipo I foi o mais comum (72,22%), seguido do Tipo II (20,37%), enquanto para Sotalia, grupos do Tipo I, II e III não apresentaram diferença significativa na freqüência (38,33%, 25,83%, 21,66% respectivamente), ainda em esta espécie grupos do Tipo IV tiveram 10,83% de freqüência. Não houve diferença significativa entre os tipos de grupos observados de manhã e de tarde para Inia, mas, sim para Sotalia, para quem foram observados os maiores grupos na tarde. Em relação ao nível do rio os grupos maiores, para ambas as espécies, foram observados na enchente e os do Tipo I e II foram constantes. A densidade de Inia variou de 0,4 a 1,2 ind/km2 e para Sotalia de 0,1 a 5,8 ind/km2. O período de menor densidade para ambas as espécies foi a cheia (Médias: 0,4 ind/km2 para Inia e 0,1 ind/km2 para Sotalia). Em contraposição, as maiores densidades para Inia ocorreram no inicio da vazante e na enchente (1,2 ind/km2 para ambos períodos); enquanto que para Sotalia foi na seca (5,8 ind/km2).

CONCLUSÕES:
Ainda que poucos os trabalhos sobre estimativas de abundância de estas duas espécies na sua área de distribuição geográfica, são grandes os esforços para suprir estes vazios. Por isso, os resultados deste trabalho não serão comparados exclusivamente com informações publicadas, mas, também serão usados dados fornecidos pela Fundação OMACHA (Colômbia) quem esta desenvolvendo um programa de estimativas de abundância de estas espécies de golfinhos na América do Sul. Dados que serão apresentados no Talher Regional para a Formulação do Plano de Conservação de Golfinhos de rio de América do Sul (21-23 de abril de 2008 em Santa Cruz de la Sierra). A abundância de estas espécies de golfinhos de rio está muito relacionada com o nível do rio (ciclo hidrológico), com os locais-habitats que são amostrados (canais, rios largos, rios estreitos, lagos grandes, lagos pequenos, bocas de paraná, etc); e com a metodologia usada. Os resultados desta pesquisa se encontram entre muitos dos resultados apresentados na literatura e acompanham o comportamento sazonal e de tamanhos grupais, já observados em outros pontos da distribuição geográfica. Em qualquer caso, sempre bom frisar que a abundância dada pela densidade não representa uma imagem real da distribuição espacial dos animais, que está relacionada com os padrões de uso do habitat.

Instituição de fomento: FINEP, PETROBRAS, CNPq, INPA, UFAM



Palavras-chave:  Abundância de golfinhos, Golfinhos da Amazônia, Amazônia Central

E-mail para contato: karensouzadiniz@gmail.com