60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

ABUNDÂNCIA E ESTRUTURA GRUPAL DE INIA GEOFFRENSIS E SOTALIA FLUVIATILIS NOS RIOS JURUÁ E SOLIMÕES (AMAZÔNIA CENTRAL)

Sandra Beltran Pedreros1
Luciana Raffi Menegaldo2
Karen Souza Diniz2
Diego Perez Moreira2

1. Profa. MSc. Coordenadora Área de Mamíferos Aquáticos - Projeto PIATAM
2. Área de Mamíferos Aquáticos e Semi-aquáticos - Projeto PIATAM


INTRODUÇÃO:
Os golfinhos da Amazônia Inia geoffrensis e Sotalia fluviatilis apresentam distribuição continua na bacia do rio Solimões-Amazonas, sendo mais ampla a distribuição de Inia. O estado de conservação de ambas as espécies esta determinado pelos processos de degradação do ambiente pelas ações antrópicas ao longo da sua distribuição e não em informações relacionadas com a abundância das espécies. Ainda, que se reconhece que ambas as espécies são comuns e ocorrem em grande parte dos rios e tributários, as informações sobre abundância se limitam a poucos trabalhos. Para o rio Solimões, na Colômbia, estimativas de abundância indicam densidades para Inia de 4.8 ind/km2 em igarapés e canais e 2.7 ind/km2 no rio principal, enquanto para Sotalia foi de 8,6 ind/km2 em lagos e 2,8 ind/km2 no rio principal (Vidal et al.1997). Outras informações indicam densidades de 1,12 a 6 ind/km2 de Inia na Bolívia e de 1.6 a 2.9 ind/km2 em quatro tributários do rio Mamore (Aliaga-Rossel, 2003). Na RDS Mamirauá há registros de 18 ind/km em canais (Martin e Silva, 2004). Em relação ao tamanho médio dos grupos, a literatura apresenta um tamanho médio de 2,9 ind para Inia e 3,9 ind para Sotalia (Vidal et al. 1997); sendo maior a freqüência de observação de grupos maiores para Sotalia que para Inia. Recentes estimativas de abundância realizadas nos rios Orinoco (Venezuela), Cuyabeno, Lagarto, Yasuní, Napo (Equador), Samíria, Marañon (Peru), Solimões, Javari (Peru-Colômbia), Meta (Colômbia), Mamore e Itinez (Bolívia) indicam que as maiores densidades para Inia estão na Bolívia (1,57 ind/km) e Peru (1.10 ind/km); enquanto que as menores em Equador (0,05 ind/km). Para Sotalia as maiores foram na área da Colômbia-Perú (1,07 ind/km) (Fundação OMACHA, 2008)

METODOLOGIA:
As observações de golfinhos foram feitas no trecho Coari-Manaus, rio Solimões, e no trecho do baixo rio Juruá (Amazônia Central). Para o trabalho foi aproveitada a infra-estrutura do Projeto PIATAM IV, que desde o 2000 desenvolve pesquisas multi e interdisciplinares na área de influência do gasoduto Coari-Manaus. As observações foram realizadas entre março de 2007 e março de 2008. A área foi dividida em nove (9) transectos e percorrida em lancha com motor 40HP a 20 Km/h de velocidade máxima. Para cada avistamento (indivíduo ou grupo) foi registrado data, hora, espécie, GPS, habitat, comportamento e número de indivíduos por categoria de maturidade (filhote, jovem, adulto). Quando o indivíduo ou grupo permitia a proximidade do bote foi feito um posto de observação de comportamento seguindo a metodologia de grupo focal ou animal-focal com registro de atividades a cada cinco minutos. As amostragens foram feitas acompanhando o ciclo hidrológico (enchente, cheia, vazante e seca). Os dados foram tabulados em planilhas de excell e analisados com o recurso de Tabela dinâmica. Para a estimativa de abundância foi calculada, inicialmente, a área do polígono do transecto com base em imagens de satélite LANDSAT e processadas com o programa ARCGIS, depois contados os golfinhos observados no mesmo polígono e calculada a densidade por espécie. Os grupos foram classificados segundo o número de indivíduos como: Tipo I, um indivíduo; Tipo II, pares; Tipo III, três animais; Tipo IV, de 4 a 6 animais; Tipo V, de 7 a 10 animais; Tipo VI, de 10 a 15 animais e; Tipo VII, com mais de 15 animais. Os dados tabulados foram analisados por freqüência para cada fase do período hidrológico.

RESULTADOS:
No rio Solimões foram realizadas cinco amostragens, dedicando um dia para cada transecto, que corresponde á área de ação das comunidades incluídas no projeto, totalizando 45 dias de trabalho. Foram realizados 558 avistamentos (169 Inia e 389 Sotalia), totalizando 1598 animais (376 Inia e 1222 Sotalia). A proporção Inia:Sotalia variou de 1,45 a 3,55 (Média = 3,25), sendo a menor relação na cheia e maior na seca. A densidade variou sazonalmente para ambas as espécies, em dezembro, inicio da enchente, se apresentaram as maiores densidades, com intervalo de 0,03 a 10,51 ind/km2 para Inia e 0,29 a 20,06 ind/km2 para Sotalia (Média Geral: 1,57 ind/km2 para Inia e 3,68 ind/km2 para Sotalia). As menores densidades foram na cheia (Média Geral: 0,24 ind/km2 para Inia e 0,08 ind/km2 para Sotalia), com intervalo de 0 a 1,59 ind/km2 para Inia e 0 a 0,25 ind/km2 para Sotalia. Os resultados de estrutura grupal, com base nos tipos classificados pelo número de indivíduos por categoria de maturidade, indicaram maior freqüência de grupos Tipo I e II para Inia (47,92 e 29%) e Tipo II, I, IV e III para Sotalia (34.96; 23.91; 16.97 e 15.42% respectivamente). Ainda que a tendência seja observar grupos de pares, entre a seca e a enchente foram observadas agrupações de Sotalia de mais de 15 animais. No rio Juruá foram feitas duas viagens (seca e enchente) de cinco dias cada. Na seca foram avistados 18 grupos de Inia e cinco de Sotalia e; na enchente somente foram avistados grupos de Inia (42). A densidade de Inia foi 1,08 e 5,58 ind/km2 respectivamente e para Sotalia 0,67 ind/km2 na enchente, já que na seca não foi avistada esta espécie. Os grupos mais freqüentemente observados foram do Tipo II (61,1%) na seca e do tipo II e I na enchente (50 e 42,8% respetivamente).

CONCLUSÕES:
Ainda que poucos os trabalhos sobre estimativas de abundância de estas duas espécies na sua área de distribuição geográfica, são grandes os esforços para suprir estes vazios. Por isso, os resultados deste trabalho não serão comparados exclusivamente com informações publicadas, mas, também serão usados dados fornecidos pela Fundação OMACHA (Colômbia) quem esta desenvolvendo um programa de estimativas de abundância de estas espécies de golfinhos na América do Sul. Dados que serão apresentados no Talher Regional para a Formulação do Plano de Conservação de Golfinhos de rio de América do Sul (21-23 de abril de 2008 em Santa Cruz de la Sierra). A abundância de estas espécies de golfinhos de rio está muito relacionada com o nível do rio (ciclo hidrológico), com os locais-habitats que são amostrados (canais, rios largos, rios estreitos, lagos grandes, lagos pequenos, bocas de paraná, etc; e com a metodologia usada. Os resultados desta pesquisa se encontram entre muitos dos resultados apresentados na literatura e acompanham o comportamento sazonal e de tamanhos grupais, já observados em outros pontos da distribuição geográfica. Em qualquer caso, sempre bom frisar que a abundância dada pela densidade não representa uma imagem real da distribuição espacial dos animais, que está relacionada com os padrões de uso do habitat.

Instituição de fomento: FINEP, PETROBRAS, CNPq, INPA, UFAM



Palavras-chave:  Abundância de golfinhos, Golfinhos da Amazônia, Amazônia Central

E-mail para contato: diegoperezmoreira@gmail.com