60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 6. Ciência Política - 6. Ciência Política

REVOLUÇÃO VERDE: CONSEQÜÊNCIAS S PARADOXOS

Aline Regina Alves Martins1

1. IFCH/Unicamp


INTRODUÇÃO:
A Revolução Verde (RV) consistiu no processo de modernização das práticas agrícolas dos países em desenvolvimento, notadamente a partir dos anos 60, aos moldes do modelo tecnológico já adotado nos países de alta renda. Por intermédio da introdução das sementes de alta produtividade (que demandam maior uso de fertilizantes, agrotóxicos e um mais rigoroso sistema de irrigação para atingir a produtividade esperada) pretendia-se aumentar a produção de cereais básicos nos países pobres podendo-se assim acabar com o problema de abastecimento de alimentos, pondo-se fim à fome no mundo. Com a RV a disponibilidade de recursos naturais deu lugar à capacidade científica e industrial, com a agricultura se transformando de uma atividade baseada na natureza para uma “indústria” pautada na ciência, estabelecendo, dessa forma, novas conexões entre indústria e agricultura. E como não poderia deixar de ser diferente, o Brasil também adotou o padrão tecnológico da RV, que se deu por intermédio da intensificação do processo de industrialização da agricultura a partir dos anos 60. Discutir a RV representa, antes de tudo, por em destaque os próprios fundamentos da chamada modernização agrícola.

METODOLOGIA:
O estudo consistiu, estruturalmente, no levantamento de fontes e no exame de bibliografia especializada, resenhando e comparando as diferentes interpretações, muitas vezes antagônicas, da Green Revolution nos países em desenvolvimento. Entrevistas também foram feitas com professores e especialistas da área com o intuito de se ter uma perspectiva mais atual sobre o tema e, mais especificamente, um balanço dos impactos da Revolução Verde no Brasil.

RESULTADOS:
Atestamos nesta pesquisa quão diversas podem ser as interpretações dos resultados da RV nos países em desenvolvimento. Os críticos para com a RV atentam que por mais que efetivamente a produção total da agricultura tenha crescido rapidamente, o ânimo das grandes safras logo sucumbiria a uma série de preocupações relacionadas aos problemas socioeconômicos e ambientais suscitados por esse padrão produtivo, como concentração de terra, a destruição da biodiversidade, entre outros. Os que já tinham recursos poderiam se beneficiar das oportunidades criadas com a RV, mas para os agricultores sem terra e analfabetos a tendência seria empobrecer ainda mais, o que dá a essa revolução um caráter discriminatório. E no Brasil também foram encontradas muitas das conseqüências não esperadas da RV. Já os especialistas defensores da RV garantem que sua introdução representa uma mudança tecnológica neutra, não privilegiando as classes sociais mais abastadas. Muito pelo contrário, asseveram que na ausência da tecnologia semente-fertilizante, muitos países em desenvolvimento teriam se aproximado da estagnação econômica e até mesmo de uma maior desigualdade na distribuição de renda. Assim, asseguram que não é o crescimento que causa o aumento de miséria, mas sim a estagnação tecnológica.

CONCLUSÕES:
De fato, o debate sobre as conseqüências da RV está longe de produzir consensos. A tecnologia “semente-fertilizante” da chamada Green Revolution é altamente controversa, não apenas entre especialistas, mas também no interior da sociedade, entre os diferentes grupos e classes sociais. A controvérsia diz respeito à própria essência da “revolução” técnica, mas, também, e às vezes fundamentalmente, aos impactos e significados sociais que a cercam. Para muitos críticos o mundo precisa de uma “nova Revolução Verde”, que use de modo mais racional o meio ambiente e ao mesmo tempo obtenha altos ganhos de produtividade. Há quem diga que os transgênicos correspondam a essa segunda revolução. Certamente uma “segunda Revolução Verde” seria tão ou mais polêmica e controversa do que a primeira.

Instituição de fomento: Fapesp

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Revolução Verde, Desenvolvimento Rural, Mundialização

E-mail para contato: alinefloyd@gmail.com