60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil

CONTRARIANDO A IDADE: CONDIÇÃO INFANTIL E RELAÇÕES ETÁRIAS ENTRE CRIANÇAS PEQUENAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Patrícia Dias Prado1, 2, 3

1. Pesquisadora Centro de Estudos Educação e Sociedade/ CEDES
2. Profa. Dra. Pós-Graduação Educação Infantil - UNICAMP
3. Profa. Dra. Pós-Graduação Educação Infantil - Universidade São Marcos


INTRODUÇÃO:
Esta pesquisa de doutorado teve como objetivos investigar e compreender a condição infantil através do estudo das relações de idade e da produção das culturas infantis entre crianças pequenas em contexto educativo público coletivo. O centro das preocupações nesta investigação refere-se à necessidade de ampliação do conceito de infância: para além das concepções teóricas desenvolvimentistas; na interface com as Ciências Sociais; articulada às produções italianas e brasileiras no campo da Educação Infantil; para além de recorte etário, em espaços privilegiados de relações diversas (de classe social, de etnia, de gênero, etc.) entre crianças da mesma idade e de idades diferentes e suas implicações para a construção de uma Pedagogia da Educação Infantil que conheça quem são as crianças e o que elas estão produzindo para além das determinações cronológicas e etapistas impostas.

METODOLOGIA:
A pesquisa realizada foi do tipo qualitativa, através do estudo etnográfico, sob os parâmetros da Antropologia e se apresentou como um desafio, pois a presença constante e a observação direta da pesquisadora, no campo, colocou em evidência as condições da produção dos fenômenos estudados e necessitou de análise intensiva dos dados. Os procedimentos metodológicos partiram da tentativa de conceber um olhar interdisciplinar sobre a infância, a Educação Infantil e as relações de idade entre as crianças, através da utilização do caderno de campo para registro das observações das crianças nos diversos momentos do dia-a-dia da instituição educativa pesquisada (através de um roteiro prévio), além da utilização de outros instrumentos de investigação empíricos como a realização de entrevistas semi-estruturadas com as professoras das crianças, utilizando o gravador para registro de seus depoimentos, assim como a utilização da técnica da fotografia, indispensável para coleta, descrição e análise das expressões e manifestações culturais das crianças de idades iguais e diferentes, juntas e/ou separadamente.

RESULTADOS:
As crianças pequenas, maiores e menores (de 3 a 6 anos de idade) observadas no contexto educativo, apresentaram formas de sociabilidade que estavam além da capacitação para a vida adulta, social ou produtiva, especialmente quando estavam juntas entre maiores e menores sem o controle disciplinarizador das professoras, embora não totalmente dele distanciado. As crianças maiores demonstravam extremo zelo para com as menores, evidenciando seu estatuto de maior, ensinando brincadeiras, resolvendo conflitos, como também aprendiam novas habilidades e jogos com as menores, assim como também eram dependentes de suas brincadeiras e ações. Menores e maiores estabeleciam novas formas de relações sociais centradas na agregação, na troca, na negociação, no compartilhamento, na construção de diferentes laços de amizade, muito mais do que reproduziam a ordem excludente e competitiva. Maiores e menores quando possibilitados de estabelecer relações na diferença etária demonstravam a existência de uma infância interetária e anti-idadista, em que não havia privilégios de uma determinada idade em função de outras e a possibilidade de composições múltiplas entre crianças pequenas de idade iguais e diferentes.

CONCLUSÕES:
A idade como categoria traz em si uma reflexão de ordem política, epistemológica e metodológica em sua relação com os contextos educativos, pensando na Educação Infantil (Primeira etapa da Educação Básica) - espaços de construção de pertencimentos etários. Entretanto, a infância como categoria social marcada pela heterogeneidade, pela invenção e criação de outras lógicas e ordens possíveis, além da reprodução das existentes, não pode ser definida apenas por critérios etários ou por diferenciar-se da totalidade de pessoas que ainda não têm esta ou aquela idade. Lutar contra a cronologia é contrariar o tempo da exploração capitalista e a transformação das idades em mercadoria, é ampliar o próprio conceito de idade, genérico e dinâmico, determinante das relações sociais, revelador das culturas que as crianças pequenas estão produzindo na diversidade e implicam na construção de uma Pedagogia das sociabilidades, das diferenças (não só de idade), das transgressões (também de adultos), das relações que permitam às crianças serem para além da idade, contrariando a idade, rompendo com a idade, construindo culturas nos grupos infantis, evidenciando a não idade da infância, ou mesmo, infâncias de muitas idades.

Instituição de fomento: PPBIG



Palavras-chave:  Idade, Educação Infantil, Culturas infantis

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