60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 3. Educação Ambiental

DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA

Rodrigo Barchi1

1. Universidade de Sorocaba


INTRODUÇÃO:
Diversos pensadores e militantes ecologistas, como Cornelius Castoriadis, Felix Guattari, Murray Bookchin e José Lutzenberger, destacam que uma das principais características da filosofia política dos movimentos ambientalistas é sua capacidade de fazer os seres humanos pensar em uma transformação radical das instituições reguladoras da sociedade, através de um projeto político democrático radical, compromissado com efetivas mudanças sociais, culturais e econômicas. Também se preocupavam com a possibilidade na qual a ecologia acabasse transformada em uma maneira de controle brutal da liberdade dos indivíduos, perante a perspectiva da hecatombe ecológica planetária. A filosofia política ecologista pauta-se, entre outras propostas, em inúmeras contribuições do pensamento libertário, como a autogestão social, a autonomia individual e a ação direta. Além de acreditar que somente na perspectiva de uma sociedade planetária que ultrapasse suas fronteiras territoriais, lingüísticas e morais, pudesse haver um planeta habitável e suportável a longo prazo. Portanto, uma proposta educacional ambientalista não poderia deixar de levar em consideração algumas das idéias dos pedagogos libertários.

METODOLOGIA:
Este trabalho foi realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, a qual, em um primeiro momento, buscou em alguns referenciais teóricos da filosofia política ecologista e da educação ambiental, noções que remetessem alguns conceitos e reivindicações libertárias como: a crítica ao controle social centralizado promovido pelo Estado, pelas religiões, pelo patriarcalismo, e pelas grandes corporações transnacionais capitalistas; a militância política contra os racismos, machismos e homofobias; e a denúncia contra toda uma gama de dispositivos que instrumentalizam as desigualdades e as opressões. Em um segundo momento, essa investigação buscou nas principais contribuições filosóficas e pedagógicas libertárias, algumas idéias de transformação social, política e econômica que os ecologistas propunham como forma de proteger o planeta, como a solidariedade e a autogestão social como método de descentralização de poder; o respeito e reafirmação das diferentes singularidades individuais; a noção de que os limites territoriais fronteiriços apenas dificultam a ação global, que requer propostas internacionalizadas; e a ação direta que potencializa a educação como uma das principais ferramentas da mudança desejada.

RESULTADOS:
Foram encontradas três possibilidades de intercâmbio entre a educação ambiental e a educação libertária. A primeira é a potencialização das singularidades, já que um dos modos de resistência às ações homogeneizantes e totalizantes dos agentes hegemônicos detentores de poder – considerados responsáveis pela degradação ambiental e social – é a reafirmação das diferenças coletivas e individuais. Lembrando que essa diferenciação é relativa à multiplicidade cultural e política da sociedade, e não a desigualdade social. A segunda é a formação das redes de saberes, as quais são realizadas cotidianamente e de maneira descentralizada, nos mais diversos espaços educativos. Através dessas redes, é que podem ser compartilhados as experiências e os conhecimentos necessários às transformações reivindicadas, de forma que se não hierarquizem os saberes e os agentes envolvidos. A terceira possibilidade é o risco, pois se é uma transformação radical das relações e instituições sociais que os ecologistas e os libertários querem, resistindo e subvertendo aos modelos opressivos e autoritários dominantes, uma proposta pedagógica que politicamente e filosoficamente esteja alinhada com essas idéias, assume os mais diversos riscos de ser combatida, assimilada ou aniquilada.

CONCLUSÕES:
Se uma educação ambiental sob a perspectiva libertária propõe uma investigação séria e radical das problemáticas ambientais e globais, ela precisa ter claros objetivos filosóficos e políticos para sugerir as devidas mudanças. Pensar em propostas pedagógicas ecológicas, cujos currículos e posições político-filosóficas se possibilitem anárquicas/libertárias/caóticas – por seu caráter não disciplinar e não disciplinatório – supõe que se leve em conta a construção de singularidades que sejam resistentes e capazes de desconstruir utopias unívocas presentes (ou seja, aquelas que supõe que somente haja um paradigma dominante, e que somente ele seja desmontado e deposto, para um outro substituí-lo), multiplicando e diversificando-as. É um agir em comum que se torna possível a partir do conhecimento que é tecido em redes – cujos contatos, dinâmicas e conhecimentos possivelmente ainda não foram institucionalizados e banalizados. Sendo também um risco, que é assumido através das redes de saberes, que são criadas e recriadas cotidianamente pelos indivíduos nas múltiplas interfaces que compõe os espaços educativos.



Palavras-chave:  Ecologia Política, Educação Ambiental, Educação Libertária

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