60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Economia - 28. Economia

MIGRAÇÃO E MERCADO DO TRABALHO: INSERÇÃO DO TRABALHADOR MIGRANTE INTERESTADUAL NO MERCADO DE TRABALHO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS NA DÉCADA DE 90

Vanessa Vital Barretto2
Bruna A. Branchi3

2. Faculdade de Ciências Econômicas - PUC Campinas
3. Prof.a Dr.a - Faculdade de Ciências Econômicas - PUC Campinas - Orientador


INTRODUÇÃO:
A partir da década de 90 a estrutura produtiva brasileira sofreu mudanças importantes que tiveram impactos relevantes nas relações de trabalho. Nesse novo contexto, o Estado de São Paulo manteve-se como o centro mais dinâmico do país, tendo a participação da Região Metropolitana de Campinas (RMC) crescido na atividade industrial do Estado. As condições favoráveis de infra-estrutura, mão-de-obra e custo da RMC atraíram população de outras regiões. O desenvolvimento de vários importantes pólos industriais no interior do Estado de São Paulo, particularmente na região de Campinas, indicava desde os anos 80 a expansão dos espaços de migração. Estudos sobre a inserção do imigrante no mercado de trabalho sinalizam que os migrantes participam do mercado de trabalho via ocupações menos qualificadas e mal remuneradas. Tendo como objetivo conhecer as oportunidades e os desafios que o trabalhador migrante encontra no mercado de trabalho, foi estudada a inserção no mercado de trabalho dos migrantes recentes para a RMC e avaliada a receptividade do mercado de trabalho da RMC aos mesmos na década de 1990, período para o qual estão disponíveis dados desagregados sobre esta região.

METODOLOGIA:
O trabalho realizado baseia-se em revisão bibliográfica, análises estatísticas de dados do Censo Demográfico de 1991 e 2000, fornecidos em meio digital, e cálculo de medidas de desigualdade da distribuição de renda. Através do estudo da literatura relevante sobre o tema, em particular de textos que avaliam a relação do imigrante com o mercado de trabalho, foi possível identificar classificações e indicadores que inspiraram a análise estatística relativa ao mercado de trabalho da RMC. Usando os microdados dos últimos dois Censos Demográficos foi realizada uma análise estatística exploratória das características socioeconômicas da População Economicamente Ativa (PEA) da RMC, comparando a situação do migrante interestadual com aquela da população em geral. A análise da distribuição de renda foi realizada através da comparação dos valores médio e mediano do total dos rendimentos do trabalho principal e da construção dos indicadores de desigualdade de renda mais comuns (quais índices de Gini e de Theil). Toda a análise estatística foi realizada com o apoio do software SPSS.

RESULTADOS:
Na década de 90 a remuneração média da PEA da RMC aumentou 48,91%. Em geral os rendimentos da ocupação principal dos nativos aumentaram 44,57%. O incremento no salário médio dos imigrantes interestaduais foi 46,22%, inferior à média dos demais imigrantes. Mas foi o grupo que registrou o menor incremento na desigualdade. A evolução da renda e da desigualdade foi interpretada através da participação dos imigrantes interestaduais no mercado de trabalho. A taxa de desemprego, que era 5,28% em 1991, saltou para 19,41% em 2000, acima da média da RMC (16,26%). Entretanto, a presença do migrante interestadual foi relativamente maior nos setores da construção civil e dos serviços, setores cuja remuneração média é baixa e cujo índice de Gini é também baixo.

CONCLUSÕES:
Em termos gerais, analisando as características socioeconômicas do grupo dos imigrantes para a RMC, comparando com a PEA da RMC, nota-se que é mais jovem, com maior presença de pardo e menor de brancos, com baixa escolaridade e é ocupado em setores como construção civil e serviços. No estudo ficou evidente que o migrante interestadual recebeu, na década estudada, uma remuneração sempre abaixo da média regional e, ao mesmo tempo, melhor distribuída, como assinala o índice de Gini. No caso da RMC, confirmando resultados de outros estudos sobre o mercado de trabalho, o trabalhador branco recebe, em média, remuneração mais elevada, com exceção do grupo de cor amarela. Os diferenciais de remuneração tendem a ser crescente com o número de anos de escolaridade. Trabalhando com a hipótese que a maior escolaridade permite ao trabalhador se adaptar mais rapidamente às mudanças no mercado de trabalho, em função do surgimento de novas tecnologias e novas profissões, o perfil do migrante interestadual afetou negativamente os rendimentos dos ocupados.

Instituição de fomento: FAPIC/Reitoria PUC Campinas.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Desigualdade socioeconômica, Migração, Mercado de trabalho

E-mail para contato: vanessa.barretto@hotmail.com