60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 4. Turismo e Hotelaria - 2. Direito Ambiental

O TURISMO E O RIO: LIMITES E POSSIBILIDADES DO TIETÊ NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO

Maria Fernanda Machado Dell'Acqua1
Dulce Maria Tourinho Baptista2

1. Curso de Turismo -Dep. C.Sociais PUC/SP - autoria
2. Prof.Dra. - Dep. de Ciências Sociais - PUC/SP - Orientadora


INTRODUÇÃO:
O eixo de reflexão deste projeto foi de mapear e analisar o processo histórico-cultural do Tietê e perspectivas que se apresentam para o Turismo ao longo do curso desse rio. A área pesquisada retrata a bacia do Alto Tietê, ou seja, o rio na Região Metropolitana de São Paulo - RMSP. Aborda aspectos ambientais, turísticos e sociais desde sua nascente, em Salesópolis, até a cidade de Pirapora do Bom Jesus, a primeira cidade do mundo a ser coberta por espumas tóxicas de um rio, apontando as múltiplas faces da poluição. Os municípios envolvidos são: Salesópolis: nascente do rio Tietê cuja principal característica econômica vem a partir do turismo, sendo uma localidade exemplo em educação ambiental; Mogi das Cruzes: cidade localizada no cinturão verde, onde a principal atividade econômica esta ligada à indústria e agricultura; São Paulo: capital do Estado e maior metrópole da América Latina; Santana de Parnaíba: cidade histórica e com presente papel de “segunda residência” do município pólo da RMSP. Possui ainda pátio turístico tombado pelo patrimônio histórico; Pirapora do Bom Jesus: cidade voltada para o turismo religioso que recebe cerca de 600 mil pessoas anualmente As variáveis analisadas e problematizadas compreendem o turismo e o meio ambiente que, conseqüentemente, interferem na qualidade de vida de todos os cidadãos que sofrem com os problemas que foram sendo acumulados ao longo de séculos de descaso frente o rio Tietê. O processo da pesquisa retrata o tempo presente, de um cotidiano vivenciado por todos os habitantes da RMSP. Questiona-se o que aconteceu para que o Tietê se tornasse um dos rios mais poluídos do mundo. Independentemente de questões no âmbito de políticas publicas como a de ações voltadas para a sustentabilidade, pode-se perceber historicamente um abandono e descaso para com esse rio que um dia já foi exemplo de lazer e serviu de inspiração para muitos poetas, como Mario de Andrade, retratar a cidade de São Paulo. Ao longo de sua história registram-se acontecimentos que interferem no seu contexto na RMSP: No ano de 1700 a exploração de ouro e ferro em São Paulo causou variação nas águas do Tietê, diminuindo seu comprimento e sua largura natural. Foi o primeiro registro histórico de mal-uso e agressão para com suas águas. Setenta e cinco anos mais tarde, em 1775, se intensificou a urbanização na cidade de São Paulo, resultando no processo de desmatamento de suas margens. No ano de 1820 o Tietê já passa historicamente a ser retratado como sem margem e sem leito fixo pela população local. No começo do século passado, em 1900, 165 indústrias já jogavam seus detritos no rio. Em 1930, insetos e mau cheiro já imperam. Deu-se inicio ao processo de dragagem no rio, após as chuvas. Em 1949 os esgotos de casas e de 14.225 estabelecimentos passam a ser jogados sem tratamento no rio. O caos estava armado. Em 1970 o oxigênio do Tietê que era de 6(seis) mg/l passa para zero. Um ano mais tarde, em 1971, a poluição passa a queimar as plantas das margens do Tietê. Em 1974 espumas invadem o rio que se torna metade água e metade lixo. No ano de 1992, decorrente de uma mobilização popular com apoio do jornal O Estado de São Paulo e da rádio Eldorado, consagra-se um ato de repudio em prol da despoluição do rio Tietê dando inicio ao Projeto de despoluição do rio Tietê. Após esse movimento popular de 1992, seguido de um abaixo-assinado com mais de 1 milhão de assinaturas que pedia a despoluição do Tietê apoiado pela mídia, o Governo do Estado de São Paulo criou o programa de despoluição do Rio Tietê, entregando à SABESP a responsabilidade de sua execução. O governo paulista buscou auxilio junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e obteve os recursos necessários para o projeto de recuperação. Coube à SABESP a tarefa de atuar frente à poluição gerada por esgotos na RMSP. Essa ação planejada, voltada para despoluição, recebeu o nome de PROJETO TIETÊ. Firmou-se uma parceria do Governo Estadual de São Paulo com o Japan Bankfour International Cooperation - JBIC- que financia 75% das obras de despoluição do rio. Visa-se com esse recurso coletar e tratar o esgoto gerado pelos cerca de 17 milhões de habitantes da RMSP, impedindo que este seja despejado diretamente no Tietê e em seus afluentes. O JBIC foi o mesmo grupo que financiou a despoluição do rio Tamisa, em Londres, considerando na época o rio mais poluído do mundo.

METODOLOGIA:
A metodologia desenvolvida evolveu a pesquisa empírica nos municípios delimitados e levantamento de dados bibliográficos pertinentes ao tema. Os dados secundários foram levantados juntos às Instituições que detêm a política para com o Rio Tietê dentro da Região Metropolitana de São Paulo. Foi realizada pesquisa de campo nos municípios que englobam o universo de estudo da pesquisa, buscando elucidar as possibilidades e expectativas do rio Tietê quanto seu inventario e suas reais condições, relacionando-o ao desenvolvimento do turismo na região. Levantou-se, na perspectiva interdisciplinar, os dados históricos, sociais, ambientais, econômicos, turísticos, políticos sobre o Tietê e a bacia do Alto Tietê no contexto da globalização e industrialização, processos esses incontroláveis dessa Megalópole que é São Paulo.

RESULTADOS:
A história do turismo no rio Tietê é tão complexa quanto à história do próprio rio. Trata-se de um rio que no passado foi exemplo de diversão e lazer. Clubes Náuticos, competições, ou simplesmente um destino de final de semana para diversas famílias, funcionavam ao longo do rio cuja margem bela e protegida compunha um ambiente bucólico e familiar. Trata-se de uma vivência que existia no passado e hoje só existe na lembrança de quem um dia o amou. Trata-se de um rio de mil caminhos, um rio de mil destinos, um rio de infinitas histórias e estórias que acabou recebendo papel coadjuvante no contexto urbano da cidade de São Paulo. O processo de despoluição do rio vem se dando em três fases. A primeira iniciou-se no ano de 1992 com a limpeza de seu fundo e margem. Em 1994 a segunda fase foi iniciada e, no ano de 2005, veio a terceira que tem previsão de término para o ano de 2030, quando o rio Tietê deve voltar a ter vida. Para qualquer espécie sobreviver em um rio é necessários no mínimo 4(quatro) mg/l de oxigênio na água. No Tietê esse número hoje é ZERO. Entretanto, em termos de odor, estética e até mesmo de enchentes, o rio Tietê progrediu sensivelmente nesses 16(dezesseis) anos de trabalhos de despoluição. Todavia, as condições do rio são ainda aviltantes e a perspectiva do desenvolvimento do turismo nessas cidades, envolvendo o rio, vem assumir papel fundamental na questão da preservação ambiental, focado como meta a prevenção contra a destruição da natureza, já que a cada dia que passa, torna-se necessário mais espaço verde e recreativo nas regiões metropolitanas, para, simplesmente, respirar, humanizar a cidade ou fugir do stress cotidiano. Sendo assim, a viabilidade turística do rio nesses municípios abordados, tornou-se uma possibilidade a ser perseguida, sendo esse o recorte analisado e pontuado ao longo da pesquisa. De todo o trecho analisado, pode-se dizer que o potencial turístico é muito baixo. Parques como o “Parque Ecológico do rio Tietê’’ , construído para tentar devolver à população algum espaço verde e lúdico frente esse rio, não são reconhecido pelos próprios moradores do entorno como um atrativo turístico, sendo assim, acaba sendo pouco visitado e apreciado. Visitantes e moradores de cidades como Santana de Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus, afirmam que o rio Tietê ofuscaria o brilho turístico desses municípios. Na cidade de São Paulo, vive-se uma intensa relação de “desconforto” frente o Tietê. Segundo o guia Brasil Quatro Rodas, da Editora Abril, (2006) os principais pontos negativos da cidade de São Paulo seriam: Odor nas marginais, Trânsito nas marginas, Enchentes e os Ataques do PCC, ou seja, circundados ao longo do rio. Ora, o que se questiona é o porquê da poluição, uma vez que possivelmente o próprio munícipe ou a própria imprensa que o castiga contribuiu outrora para que esse fator lamentável se consolidasse. Dessa forma, constata-se que a imagem de “vilão” acompanha o rio inclusive quanto sua possibilidade turística ,ao longo dos municípios que compõe a problemática desse estudo

CONCLUSÕES:
Seria possível então a pratica de turismo no Tietê dentro da Região Metropolitana de São Paulo? Excluindo lugares como Salesópolis e o Parque Ecológico do Tietê que são potencialidades incontestáveis, pode-se citar a Estrada dos Romeiros, que segue o curso do rio e liga a cidade de Santana de Parnaíba, na RMSP, com o oeste do Estado, como um potencial secundário. A mesma atrai visitantes por suas belezas naturais e geomorfológicas, entretanto, o rio Tietê que poluído faz dividir opiniões dos que ali visitam. Os flocos de espuma e o odor no curso do rio, nessa região, são os principais problemas que interferem negativamente na paisagem da cercania. Dessa forma, uma nova possibilidade turística que pode ser sugerida, que já é bem aceita em países europeus, é o segmento do “Reality Tour”, ou “Turismo de Realidade”. Muitos procuram destinos turísticos por sua essência ou peso histórico, quebrando paradigmas de “status” ou clichês. Isso acontece nos túneis do Vietnã, nos campos de concentração nazistas na Alemanha e na Polônia, nas ruínas de guerra nesses países ou mesmo nas favelas brasileiras. Mostrar o Tietê dessa forma não é somente um segmento em potencial, mas apresenta-se como um forte poder conscientizador mostrando que a questão ambiental e o turismo necessitam de uma intervenção imediata no sentido de devolver aos que se interessam pelo meio ambiente uma realidade a ser desfrutada como forma de ócio e lazer. Além disso, cabe também ao Turismo o papel de intervir, por meio do segmento de Educação Ambiental. Trabalhar com crianças e adolescentes a preservação e a ameaça dessa tendência às margens do velho Tietê apontando suas fraquezas e o possível progresso, fazendo com que os futuros cidadãos atuantes sintam que a trajetória de “vida e morte” do rio é algo imprescindível. Se os mesmos se conscientizarem do papel de preservação e protegerem ao invés de atacarem o rio, quem sabe, num futuro, o Tietê possa realmente voltar a ter vida como garante os organismos governamentais. Quando as águas do Tietê cruzam a Bacia do Médio Tietê Superior e a Bacia do Médio Tietê Inferior no interior do Estado, antes de desaguar no rio Paraná, o rio volta a ter vida. Suas margens voltam a ser preservadas, suas historias voltam a ser contadas, a beleza de suas encostas voltam a ser narradas. Alimentos de suas águas voltam a ser consumidos e o turismo desenvolvido, como nas eclusas de Barra Bonita, que passam a ser fonte de renda para a população. Essa é a trajetória de “vida – morte- renascença” de um rio, um rio peculiar que não corre pro Mar e teima em sobreviver para voltar a ser admirado. Tietê, cuidar de suas águas é muito mais que um papel puramente ambiental, é sim questão de cidadania.

Instituição de fomento: A pesquisa está vinculada ao Núcleo de Pesquisas Urbanas - NEPUR - e ao Observatório das Metrópoles, ambos vinculados à PUC/SP e recebeu apoio do CNPQ

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Sustentabilidade, Turismo, Meio Ambiente

E-mail para contato: lacqualas2000@yahoo.de