60ª Reunião Anual da SBPC




F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Arquitetura e Urbanismo - 49. Arquitetura e Urbanismo

PRODUÇÃO E USO DA MORADIA: ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE AUTOCONSTRUÇÃO NA RMBH

PEDRO ARTHUR NOVAES MAGALHÃES1
FELIPE JOSÉ GONTIJO1
SILKE KAPP1

1. UFMG


INTRODUÇÃO:
A presente proposta se insere nos trabalhos do Grupo de Pesquisa Morar de Outras Maneiras (MOM), no subprojeto Produção e uso da moradia (PRUMO), que tem por objetivo geral investigar, dos pontos de vista teórico, empírico e experimental, possibilidades de desenvolvimento de processos de produção de moradias que reúnam pré-fabricação leve e autonomia dos usuários. Ela é continuação do subprojeto Produção e uso da moradia: coordenação modular para projetos e construções com autonomia do usuário. O objetivo da pesquisa é ampliar o conhecimento acerca da prática de autoconstrução, considerando materiais e processos construtivos, formas de obtenção e distribuição de insumos, formas de obtenção e distribuição do conhecimento, relações (sociais) de produção, formas de (auto) financiamento, formas de definição do espaço arquitetônico. Esquematicamente delimitamos autoconstrução como aquela em que as decisões são tomadas pelos construtores diretos, na qual haja menor distância entre o trabalho intelectual (representado pelo projeto arquitetônico) e o manual, se comparada com a pratica de produção formal. Geralmente, a autoconstrução é realizada sem regulamentação arquitetônica ou urbanística, com recursos técnicos precários e conhecimentos provenientes da experiência empírica imediata.

METODOLOGIA:
Pesquisa qualitativa com observação direta não intrusiva e entrevistas semi-estruturadas, em canteiros de autoconstrução. A existência da autoconstrução enquanto solução habitacioinal adotada em larga escala foi um dos pressupostos do qual partimos. Não se trata, portanto, de julgá-la. Objetivamos conhecer melhor esses processos, documentá-los e eventualmente apontar diretrizes que tenham potencial de facilitar esses processos. No início dos trabalhos os autores visitaram canteiros de autoconstrução no intuito de fazer os primeiros contatos e levantar as primeiras informações para a formulação de um roteiro (não definitivo) das entrevistas. Deixamos claro aos autoconstrutores nossa condição de observadores dos processos produtivos, e que portanto não opinaríamos sobre o trabalho ou o objeto construído. Entendemos, porém, que nosso engajamento direto no fornecimento de mão-de-obra, que de fato se deu em uma ocasião, favoreceu a compreensão das relações sociais envolvidas na autoprodução. Paralelamente, buscamos realizar revisão bibliográfica sobre a autoprodução de moradias.

RESULTADOS:
Os dados levantados nesse projeto retratam práticas construtivas que, apesar de produzirem um percentual muito significativo das habitações do país, são pouco exploradas no meio acadêmico. Os resultados da pesquisa de campo são analisados criticamente e problematizados, juntamente com os demais membros do grupo, no intuito de conhecer melhor os processos de autoconstrução e, a partir disso, apontar possibilidades de melhorias e instrumentos de facilitação de suas práticas. Disponibilizamos no site do MOM (www.arq.ufmg.br/mom), os casos que estão sendo analizados, com fotos e descrições, além do roteiro de entrevistas que pode ser usado, criticado e modificado por outros pesquisadores. Com uso de uma interface de espacialidade desenvolvida pelo grupo de pesquisa, a discussão sobre autonomia na produção e uso dos espaços foi incentivada em dinâmicas realizadas com diferentes grupos, como os alunos de uma escola infantil em Belo Horizonte ou os visitantes do SESC Pinheiros, em São Paulo.

CONCLUSÕES:
Nos casos de autoconstrução analisados, ficou clara a dificuldade de acesso a informações técnicas sobre os materiais e processos construtivos. As obras são embasadas em informações empíricas trocadas entre pessoas da comunidade, algumas com experiência prévia na construção formal. Assim, técnicas utilizadas no mercado da construção civil tendem a ser replicadas, ainda que as particularidades da autoconstrução não justifiquem seu uso. Por outro lado, faltam no mercado materiais e componentes construtivos leves, para construção rápida, que possam tornar os processos de autoconstrução mais dinâmicos. O custo dos materiais também é crucial para determinar o ritmo dos processos construtivos, já que eles vão sendo comprados, geralmente à vista, na medida do dinheiro disponível. Isso, somado ao trabalho pesado que é praticado, faz com que esses processos acabem se estendendo por vários anos. Entendemos que iniciativas destinadas a melhorar as condições da autoconstrução devem passar pela facilitação do acesso às informações técnicas; democratização do acesso a financiamentos de materiais de construção; disponibilização, no mercado, de materiais e componentes construtivos leves, de preço acessível, intercambiáveis em conexões abertas.

Instituição de fomento: CNPq/FINEP

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  autoconstrução, habitação, autonomia

E-mail para contato: pedroarthur7@gmail.com