60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 6. Farmacologia - 1. Farmacologia Bioquímica e Molecular

EFEITO DO CORTICÓIDE FLUNISOLIDA SOBRE A ATIVAÇÃO DE FIBROBLASTOS PULMONARES EM SISTEMA DE CULTURA IN VITRO

Thiago José Figueira Ramos1
Sandra Aurora Chavez Perez1
Patrícia Machado Rodrigues e Silva1
Marco Aurélio Martins1

1. Laboratório de Inflamação (DFF) / FIOCRUZ


INTRODUÇÃO:
A silicose é uma doença pulmonar grave causada pela inalação de partículas de sílica sob a forma cristalina que conduzem a uma reação fibrótica tissular. Essas partículas, ao chegarem aos pulmões, irão conduzir a uma série de danos que culminarão na ativação de fibroblastos que apresentam características marcantes e que estão alteradas no contexto da patologia, como a síntese de componentes da matriz extracelular e secreção de mediadores fibrogênicos que irão auxiliar no desenvolvimento e manutenção da resposta fibrótica associada à silicose. Até o presente momento, não há um tratamento adequado para esta doença. As terapias utilizadas concentram-se no uso de corticóides clássicos que não são eficazes, na maioria dos casos, e apresentam uma ampla gama de efeitos colaterais. De forma interessante, demonstramos em nosso laboratório que a flunisolida, um corticóide de última geração, foi eficiente em inibir a resposta fibrótica pulmonar em camundongos portadores de silicose crônica com nítida melhora em diversos parâmetros analisados, como na função pulmonar e comprometimento tecidual. Assim, considerando-se os fibroblastos como células importantes para a resposta fibrótica tecidual, neste estudo investigamos o efeito do corticóide flunisolida sobre a funcionalidade desse tipo celular.

METODOLOGIA:
Os fibroblastos foram obtidos a partir de pulmões de camundongos Swiss-Webster normais ou instilados intranasalmente com sílica (10 mg) (7 e 28 dias), mediante dissociação mecânica e de digestão enzimática, com solução de colagenase (1 mg/mL). Essas células foram mantidas em cultura em meio suplementado com soro fetal bovino e após a terceira passagem celular foi realizado um ensaio de imunocitoquímica a fim de caracterizar fenotipicamente a população mantida em cultura. Neste ensaio foram utilizados os anticorpos para α-actina, proteína característica da população miofibroblástica, e para citoqueratina, proteína característica de células epiteliais. Para avaliar o grau de ativação celular, foi adotado o ensaio de proliferação por incorporação de [H3] timidina, técnica clássica que nos permitiu conhecer detalhes da taxa proliferativa dessas células, tanto na condição basal quanto frente ao estímulo com rmIL-13 (1-10 ng/mL), uma citocina de reconhecido caráter prófibrótico também envolvida na silicose. As análises foram feitas 24 horas após a estimulação e nos experimentos onde houve tratamento com flunisolida ou dexametasona, o corticóide foi adicionado 1 h antes da estimulação.

RESULTADOS:
Verificamos, através da imunocitoquímica, que as células apresentaram marcação positiva para a proteína α-actina e negativa para a proteína citoqueratina, nos indicando que as células utilizadas apresentavam fenótipo de miofibroblasto. Quanto a responsividade à rmIL-13, observamos que miofibroblastos provenientes de animais normais e silicóticos (7 dias) apresentaram aumento na taxa de proliferação quando estimulados com a citocina, em condições onde aqueles obtidos de animais silicóticos crônicos (28 dias) não foram responsivos, evidenciando diferenças na reatividade das células obtidas de diferentes fases evolutivas da silicose. Verificamos, também, que as células de animais silicóticos apresentaram maior taxa de proliferação já na condição basal. O tratamento com dexametasona (10-7 - 10-5 M) não foi capaz de interferir na resposta das células normais. No caso da flunisolida (10-8 - 10-5 M), verificamos que, embora não tenha havido alteração significativa da resposta proliferativa das células normais, uma marcada inibição foi notada na condição das células silicóticas, indicando que o efeito inibitório desta droga sobre a resposta fibrótica pode estar associado a um efeito supressor direto sobre a funcionalidade de fibroblastos.

CONCLUSÕES:
Nossos achados mostram que miofibroblastos pulmonares provenientes de animais normais e silicóticos de fase aguda proliferaram frente à estimulação com IL-13 in vitro. Mais ainda, mostram que, já na condição basal, as células de animais silicóticos apresentaram taxa de proliferação maior. O tratamento com flunisolida foi eficaz em inibir a resposta proliferativa das células silicóticas, indicando que estas células parecem constituir alvos terapêuticos importantes para drogas eficazes em inibir o processo de fibrose tecidual na silicose, como a flunisolida.

Instituição de fomento: PAPES 4/FIOCRUZ, CNPq, FAPERJ (Brasil) e UNESCO (França).

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Silicose, Corticóide, Fibroblasto

E-mail para contato: tjfr@terra.com.br