60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

INFORMÁTICA NO ENSINO DE BIOLOGIA: EXPECTATIVAS, LIMITES E POSSIBILIDADES NA PERSPECTIVA DOS ALUNOS PARTICIPANTES DE UM CURSO SOBRE ANIMAIS VERTEBRADOS

Júlio César Castilho Razera1
Rosângela Miranda Silva Batista2
Roque Pereira Santos3

1. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. Departamento de Ciências Biológicas
2. Professora da Rede Pública de Ensino da Bahia
3. Professor da Rede Pública de Ensino da Bahia


INTRODUÇÃO:
A informática como ferramenta de ensino nem sempre está correlacionada a mudanças concretas no processo de educação formal. Para que a informática provoque inovação, além de superarmos os problemas, temos de identificar onde ela pode apresentar possibilidades verdadeiramente novas. Não basta aplicá-la de maneira convencional, repetindo-se aquilo que de algum modo já fazemos sem seu auxílio. Para a implantação da informática na educação necessitamos basicamente da máquina (hardware), do software educativo, do aluno e do professor capacitado para usar o computador como meio educacional. O uso da informática na educação exige esforço constante dos educadores para transformar a utilização do computador numa abordagem educacional que favoreça o processo de conhecimento do aluno. As abordagens pedagógicas podem ser, entre outras, instrucionista ou construtivista. Neste trabalho apresentamos resultados de uma pesquisa focada num processo de intervenção em Biologia, utilizando-se recursos de informática e abordagem construtivista. Por efeito das expectativas e perspectivas apontadas pelos alunos, foram destacados e analisados alguns limites e possibilidades dos recursos e estratégias utilizados nesse processo de intervenção, levando-nos a algumas reflexões no contexto da escola pública.

METODOLOGIA:
A intervenção teve formato de um mini-curso de dois meses, perfazendo 60 horas. Foi aplicado a um total de 46 alunos de 2ª série do ensino médio de uma escola pública no interior da Bahia. Os participantes foram divididos em duas turmas: uma de 16 alunos do período vespertino e outra de 30 alunos do período noturno. Os conteúdos sobre o tema – “animais vertebrados” – e as estratégias foram semelhantes para as duas turmas. Durante a execução das atividades foram utilizados especialmente os seguintes programas: Expert Sinta®, Enciclopédia Multimídia dos Seres Vivos® e Microsoft Power Point®. A parte introdutória do curso constou de orientações básicas sobre os recursos (hardware e software). As atividades foram baseadas em manipulação de informações e construção de exercícios por intermédio dos softwares. O programa Expert Sinta® auxiliou na montagem de chaves de identificação dos vertebrados. Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: questionários pré e pós-intervenção, observação participante e entrevistas do tipo grupo de foco. Os resultados e as análises dos discursos ocorreram ao longo de todo processo. Buscou-se analisar criticamente cada enunciado em seu contexto, privilegiando a íntegra do processo de intervenção realizado.

RESULTADOS:
A maioria dos alunos (80%) teve 1º contato com a informática no curso. A expectativa deles refletiu esse fenômeno: “Não sei como é isso, não tenho nem como dizer”; “Ter acesso ao computador”. Em síntese, as expectativas focaram aquisição/melhoria de conhecimento, estratégias diferenciadas de aula, oportunidades profissionais e inclusão digital. Durante o curso, apresentaram pontos positivos categorizados em aspectos estruturais (equipamento), funcionais (conteúdo) e estéticos (imagem): “Dá pra gente visualizar”. Os negativos agruparam-se em aspectos organizacionais (pouco tempo, muito conteúdo, lidar com liberdade de escolha, desvio de atenção pela multiplicidade de recursos) e de habilidades (interfaces): “Tanta coisa que a gente...”, “Eu mal sabia ligar o computador e de repente tinha que fazer a chave de classificação”. Sobre a efetiva aprendizagem dos conteúdos, houve ganhos (evolução, morfologia, fisiologia etc.): “Já sei falar as características principais de cada classe”, "Pude relacionar a forma do corpo com o tipo de locomoção”. Sobre o papel do professor no processo, houve consideração de sua importância: “Isso não tem nada a ver com a informática, tem a ver de como o professor dá a sua aula, se ele sabe dar aulas, ele vai dar aula bem na sala comum ou de informática”.

CONCLUSÕES:
Não há como duvidar do potencial da informática na educação, mas há barreiras de diferentes níveis a ultrapassar. A figura do computador no processo educacional ainda significa maior aprendizagem para os alunos - uma idéia alocada numa abordagem instrucionista e que vê o computador como máquina transmissora de conhecimento (da mesma forma que o aluno vê o próprio professor). O computador ainda é visto como portador natural de inovações e fonte implícita de uma nova dinâmica no processo educativo. Nesse caso, será um instrumento vazio em âmbitos pedagógicos mais progressistas se as teorias subjacentes de sua utilização não forem compreendidas e aplicadas. Há nítidos ganhos atrativos, motivacionais e inclusivos para os alunos, mas não bastam. Discussões mais profundas e refletidas sobre a informática no processo de ensino parecem necessárias aos alunos, para que suas idéias equivocadas ou superficiais não funcionem como obstáculos epistemológicos a sua aprendizagem. Nesse caso, as bases teóricas da abordagem construcionista não deveriam ser de domínio apenas do professor, mas estendidas aos alunos. Seria isso possível? Cremos que sim, por meio de uma freqüência maior na utilização dos recursos, habilitando-se os alunos, e na prática de exercícios lastreados na metacognição.

Instituição de fomento: PPG/UESB



Palavras-chave:  Ensino de Biologia, Software Educacional, Representações

E-mail para contato: juliorazera@uesb.br