60ª Reunião Anual da SBPC




G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 2. Geografia Regional

TERRA INDÍGENA URU-EU-WAU-WAU/RO: AMEAÇAS E CONSEQÜÊNCIAS PARA SEU FUTURO FRENTE ANTROPIZAÇÃO DO SEU ENTORNO

Alexis de Sousa Bastos1
Vanderlei Maniesi2
Fabiana B. Gomes1

1. Mestrando (a) em Geografia - Universidade Federal de Rondônia/UNIR
2. Prof. Dr. - Universidade Federal de Rondônia/ DGEO/Educiências


INTRODUÇÃO:
Este trabalho foi realizado através da análise de uma série histórica de cartas-imagem, durante os anos de 1981 até 2006, procurando estudar os vetores de expansão de atividades antrópicas neste período. Com 1.867.117 ha, correspondendo a 7,6% da área do estado de Rondônia, a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, localizada na porção central de Rondônia, abriga uma grande quantidade de recursos naturais, de reservas minerais e sua floresta presta um importante serviço ambiental para a região, seja na manutenção da biodiversidade, na ciclagem da água ou na estocagem de carbono. Com taxas de desmatamento sendo retroalimentadas positivamente pelo crescimento populacional e a abertura de novas estradas, cabe aos limites desta área protegida bloquear as frentes de avanço da antropização. Esse crescimento ameaça recursos e processos naturais como os de biodiversidade e ciclagem da água, respectivamente, limitando as opções das gerações futuras e que a floresta exerça seus serviços ambientais.

METODOLOGIA:
Foram obtidos levantamentos de dados primários e secundários através da verificação do acervo bibliográfico, videográfico e cartográfico disponíveis sobre o tema para levantamento de dados relevantes à pesquisa, interpretação de cartas-imagem, mapas, técnicas de geoprocessamento com a utilização do software SPRING para montagem das cartas-imagem, mapas temáticos e de localização. O método adotado para a análise dos vetores de antropização foi o de interpretação de cartas imagem da série histórica nos anos 1981, 1990 e 2006, com a utilizaçãode imagens de satélite LANDSAT TM 04 e 05, de 1981 e 1990, respectivamente e CBERS, 2006. Esse método possibilitou, dada a extensa área da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, fazer o acompanhamento sinóptico e multitemporal durante as últimas décadas, mostrando quando e onde os processos colonizatórios avançaram sobre a região. Os trabalhos de campo envolveram a coleta de imagens fotográficas e videográficas, a fim de se registrar as interações socioeconômicas e ambientais da região, bem como documentar as degradações decorrentes dos modos de ocupação. Essas imagens foram georreferenciadas através do GPS.

RESULTADOS:
As imagens de satélite mostram um território da TI Uru-Eu-Wau-Wau cada dia mais restrito ao da demarcação governamental. As linhas da área ficam mais evidentes com o crescimento dos vetores de antropização a norte, sul e a leste. As possibilidades de uso do espaço, tornam-se a cada dia menores. As exceções são os limites a oeste da terra indígena, que continuam preservados por conta da existência de outras áreas protegidas, o restante da área é pressionada. Na parte nordeste, onde os vetores de antropização eram visíveis já em 1981, chegam as bordas da terra indígena. O asfaltamento da BR-364, os incentivos proporcionados pelos programas governamentais de distribuição de terras, como a criação de projetos de assentamentos e incentivos financeiros, aumentaram significativamente as taxas de migração de outras partes do país para Rondônia, principalmente da região sul do país. Dados do IBGE de 1996 mostram que passou-se de 99.286 migrantes do sul em 1980, para 197.366 em 1991. Com isso, o modelo de ocupação propulsionaram os desmatamentos sobretudo nas partes leste e sul da terra indígena. Na imagem de satélite de 2006 nota-se que a dinâmica de migração irradiada a partir do eixo da BR-364 continua a mostrar reflexos com adensamentos nas principais frentes de antropização.

CONCLUSÕES:
As taxas de desmatamento ascendem de acordo com as taxas de crescimento populacional e tornam-se claramente visíveis nas análises das imagens obtidas através dos satélites entre 1981 e 2006. Os projetos de colonização estão produzindo efeitos indesejados, com fortes pressões no sul da TI Uru-Eu-Wau-Wau e invasões, por terem sido projetados para os entornos de áreas indígenas e unidades de conservação em locais sem perspectivas para agricultura, por causa dos solos com baixa fertilidade natural. Os assentamentos contribuem para a abertura de novas estradas. As frentes de desmatamento são impulsionadas, interiorizando a ocupação e gerando um ciclo de retroalimentação. Essa ocupação finaliza um cerco de fato, aos indígenas, pois confina os grupos, principalmente os "sem contato" ao interior dessa terra, acaba com territórios imemoriais dos povos, impondo um limite inexistente na cultura indígena anteriormente: o da limitação de espaço, tanto no imaginário, quanto no real. Uma situação paradoxal, embora mais próximos a cada dia, os adensamentos populacionais findam por definir cada vez mais os limites entre as culturas. O repensar de nossos modelos educacionais se mostra necessário para melhorarmos nossas formas de lidar com a natureza e com as diferentes culturas.

Instituição de fomento: Centro de Estudos da Cultura e do Meio Ambiente da Amazônia – RIOTERRA e Universidade Federal de Rondônia/UNIR.



Palavras-chave:  Terra Indígena, Desmatamento, Serviços ambientais

E-mail para contato: alexisbastos@hotmail.com