60ª Reunião Anual da SBPC




D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 1. Análise e Controle de Medicamentos

PREPARAÇÃO, ESTUDO TERMOANALÍTICO E CARACTERIZAÇÃO DE COMPLEXOS DE INCLUSÃO DE HIDROXIPROPIL-Β-CICLODEXTRINA (HPΒC) COM ÁCIDO ÚSNICO

Marília dos Santos Bezerra1
Charlene Regina Santos Matos2
Luiz Eduardo Almeida2
Damião Pergentino de Sousa1
Iara de Fátima Gimenez2
Adriano Antunes de Souza Araújo1

1. Departamento de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe-UFS
2. Departamento de Química da Universidade Federal de Sergipe-UFS


INTRODUÇÃO:
O ácido úsnico (AU) é um metabólito liquênico encontrado geralmente em espécies dos gêneros Usnea e Cladonia. Esse composto exibe diferentes atividades biológicas, que abrangem propriedades anti-inflamatórias, antivirais, antitumorais, entre outras. Efeitos ecológicos, como propriedades herbicidas e inseticidas, também vêm sendo demonstrados. Devido à baixa solubilidade aquosa do AU, a complexação com ciclodextrinas pode favorecer a sua utilização em medicamentos, além de evitar possíveis efeitos tóxicos ao organismo. A propriedade mais notável das ciclodextrinas é a de apresentarem uma cavidade apolar, na qual vários tipos de fármacos podem ser incluídos. As principais aplicações dos complexos com ciclodextrinas visam o aumento da estabilidade da molécula-hóspede contra oxidação, hidrólise, fotodecomposição e desidratação; aumento da solubilidade e da biodisponibilidade do fármaco; redução da ação irritante sobre as mucosas gastrintestinais e de outros efeitos adversos. Nessa perspectiva, a principal justificativa para a realização desse estudo foi investigar a possibilidade de formação de complexos de inclusão AU/HPβC utilizando diferentes metodologias, tendo como objetivo aumentar a solubilidade do fármaco em meio aquoso.

METODOLOGIA:
O AU foi isolado da espécie Cladonia substellata coletada na Serra de Itabaiana-SE. O líquen foi identificado pelo Prof.Dr. M.P. Marcelli (Instituto de Botânica de São Paulo). Para a complexação, foi usado AU e HPβC (CAVASOL W7 HP) na proporção 1:1 razão molar. A preparação dos complexos foi realizada a partir de quatro métodos: 1) mistura física, 2) malaxagem, 3) co-evaporação e 4) liofilização. Os métodos 3) e 4) foram realizados de duas formas, com filtração em filtros de 0,45 micra e sem filtração, a partir da dispersão do AU e HPβC em água e agitação por 72 h. A caracterização dos produtos foi realizada por TG/DTA, FTIR, DRX e RMN. As curvas TG/DTA foram obtidas na faixa de temperatura de 25-700°C, em equipamento da TA instruments, sob atmosfera de N2 (100 mL/min), β=10°C/min e cápsula de Pt com ~7 mg de amostra. Os espectros de FTIR foram obtidos em equipamento Perkin Elmer, no comprimento de onda de 4000 a 400 cm-1, utilizando em pastilhas de KBr. Os DRX foram obtidos em equipamento Rigaku com varredura de 3°/min em CuKα na faixa de 5-65° (teta) utilizando método do pó. Os espectros de RMN foram medidos em equipamento Varian (11.7 T) com 500 MHz (1H) e 126 MHz (13C), usando solventes deuterado (D2O e DMSO-d6) (99,98% D) como padrão interno para 13C deslocamentos químicos do RMN.

RESULTADOS:
A curva DTA para o AU isolado mostrou uma transição endotérmica estreita Tonset = 195°C correspondente à fusão do fármaco. As curvas DTA do AU/HPβC obtidos pelo método da mistura física e da malaxagem apresentaram-se como o somatório de eventos dos compostos puros (AU e HPβC), não evidenciando assim interações que representem à formação de complexos de inclusão. Ao analisar os produtos preparados pelo método de liofilização e pela co-evaporação, percebe-se que o pico endotérmico do AU em 195°C não aparece na curva DTA indicando a existência de interações que sugerem a formação de complexos de inclusão. A sobreposição de bandas do AU e da HPβC nos espectros de FTIR dificultaram a identificação de bandas características do AU. Os gráficos de difração de raios X mostram que o AU apresenta picos bem definidos, confirmando a cristalinidade desse material. No caso da HPβC, o difratograma não apresenta picos, sendo caracterizado assim como material não-cristalino. Os resultados de DRX dos complexos obtidos pelos métodos 3) e 4) apresentam-se não-cristalinos sendo mais um indicativo de interação entre as duas espécies. No entanto, as análises por 1H RMN para o UA/HPβC obtidos pelos métodos 3) e 4) foram similares HPβC, mostrando que não houve a formação de complexos de inclusão.

CONCLUSÕES:
As análises físico-químicas demonstram que a partir dos métodos utilizados não foi possível obter complexos de inclusão de UA/HPβC. No entanto, verificou-se o aumento da solubilidade aquosa do UA nas preparações obtidas pelos métodos 3) e 4) justificada pelo processo de amorfização do material devido a liofilização e presença do HPβC no meio. A ausência do AU nas análises de RMN pode ser justificada pela subtração do mesmo durante a filtração antes da secagem. Estudos de absorção na região do ultravioleta estão sendo realizados para determinar o aumento da solubilidade a partir desses métodos.

Instituição de fomento: FAPITEC/CNPq

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Hidroxipropil-β-ciclodextrina, Ácido úsnico, Complexos de inclusão

E-mail para contato: lilinhabezerra@hotmail.com