60ª Reunião Anual da SBPC




C. Ciências Biológicas - 2. Biologia - 1. Biologia da Conservação

BAÍA DA BABITONGA (SC): MONITORAMENTO AMBIENTAL POR MEIO DE PARÂMETROS RELACIONADOS AO ESTRESSE OXIDATIVO UTILIZANDO TILÁPIA COMO ORGANISMO MODELO.

Rafael Trevisan1
Jeferson Luis Franco1
Thais Posser2
Marcela Uliano SIlva1
Roberto Hoppe3
Alcir Luiz Dafre4

1. Departamento de Ciências Fisiológicas / UFSC
2. Departamento de Bioquímica / UFSC
3. Fundação Municipal 25 de Julho / Prefeitura Municipal de Joinville
4. Prof. Dr. - Departamento de Ciências Fisiológicas - UFSC - Orientador


INTRODUÇÃO:
Atividades antrópicas geram quantidade significativa de poluentes que são lançados ao meio ambiente, muitas vezes ocasionando distúrbios ecológicos. Estes poluentes causam alterações biológicas em vários níveis: molecular, celular, tecidual, no organismo, comunidades, etc. Alterações celulares e/ou moleculares podem servir de biomarcadores, e a possibilidade de análise destas alterações permite obter uma rápida compreensão sobre a situação do meio ambiente, a tempo de evitar problemas ecológicos. Inúmeros compostos químicos e orgânicos presentes nos ecossistemas aquáticos possuem um potencial oxidativo, ampliando o dano causado por espécies reativas de oxigênio. Desta forma, a quantificação destes danos e das defesas antioxidantes pode ser usada como biomarcadores de contaminação aquática. Este estudo foi realizado entre 2005 e 2007 em rios do complexo da Baía da Babitonga, de elevada importância biológica e econômica. Localizada em Joinville-SC, este complexo sofre uma grande pressão antrópica devido a forte urbanização, atividade industrial e ao plantio de arroz. Tilápias (Oreochromis niloticus) foram expostas durante 7 dias a rios potencialmente poluídos, e parâmetros relacionados ao estresse oxidativo foram analisados como possível protocolo de monitoramento ambiental.

METODOLOGIA:
Tilápias, fornecidas pela Fundação Municipal 25 de Julho, foram mantidas em gaiolas de 1m3 durante 7 dias nos Rios Cubatão (S1 e S3) e Rio do Braço (S2). Em 2005, foram analisados dois pontos de influência urbana/industrial (S2 e S3) e em 2007 foi analisado um ponto de influência rural (S1). Um grupo referência foi mantido na estação de cultivo. Após 7 dias de exposição, os animais foram coletados e transportados para a fundação onde os tecidos foram coletados. A preparação das amostras para análise de glutationa foi feita com tecido fresco, onde o fígado foi homogeneizado em ácido perclórico, neutralisado e analisado por ensaio enzimático. Para os demais parâmetros, as amostras foram congeladas à -70 ºC para análise posterior. O fígado foi homogeneizado em tampão HEPES 20 mM, pH 7,4, centrifugado a 20.000 g por 30 minutos. O sobrenadante foi utilizado para a determinação das atividades enzimáticas, e o pellet para a determinação da lipoperoxidação e atividade gamma-glutamil transpeptidase. O sangue foi centrifugado a aproximadamente 3.000 g por 5 minutos e o plasma utilizado para análise da atividade colinesterásica. As análises bioquímicas foram analisadas espectofotometricamente. As diferenças foram consideradas significativas quando p < 0,05 pelo teste “t” de Student.

RESULTADOS:
Os resultados demonstraram, em relação ao grupo referência, que na região agrícola, o ponto S1 demonstrou no fígado um aumento da atividade glutationa redutase (GR) e diminuição da relação entre a glutationa reduzida/oxidada (GSH/GSSG). Apesar dos dados apontarem para um estado pró-oxidativo devido à diminuição da relação GSH/GSSG, a ausência de alterações na atividade de enzimas colinesterásicas e antioxidantes demonstra, respectivamente, uma possível ausência de pesticidas organofosforados e uma baixa toxicidade do local. Já na região urbana/industrial, observou-se um intenso estresse oxidativo pela diminuição da relação GSH/GSSG, aumento da atividade glutationa peroxidase e diminuição da atividade gamma-glutamil transpeptidase no fígado dos animais dos pontos S2 e S3. Além disso, também no fígado o ponto S2 também demonstrou elevada atividade glutationa-S-transferase e no ponto S2 um elevado nível de peroxidação lipídica e aumento das atividades GR e catalase foi observado. Estes dados podem refletir uma elevada carga de poluentes em ambos os pontos, devido as perturbações das defesas antioxidantes, dano em lipídios e maior atividade de enzimas de detoxificação.

CONCLUSÕES:
O Rio Cubatão, no início de seu curso (S1), apresentou baixa toxicidade aos animais devido à baixa modulação das defesas antioxidantes. Interessante salientar que o estudo de 2007 foi realizado fora da época do plantio do arroz, um cultivo que comumente utiliza grande quantidade de pesticidas. Já no ponto S3, que se encontra após a confluência do Rio do Braço com o Rio Cubatão, os dados de 2005 demonstram inúmeras alterações bioquímicas e assim uma possível maior toxicidade destas águas. Também o Rio do Braço (S2) apresentou em 2005 resultados que podem estar relacionados a um alto grau de contaminação. Este rio atravessa uma região de intensa urbanização e atividade industrial, onde metais e inúmeros outros compostos químicos e orgânicos podem estar sendo despejados constantemente em suas águas, para posteriormente contribuir no aumento da carga de poluentes do Rio Cubatão. Este estudo revela que estes parâmetros podem refletir os efeitos de contaminantes sobre o organismo, e com isso podem ser usados como ferramentas para complementar trabalhos de monitoramento ambiental. Uma vez que avaliações ambientais são comumente realizadas através de análises físico-químicas e microbiológicas da água, não detectam o real efeito biológico, o qual pode ser obtido com o uso de biomarcadores.

Instituição de fomento: IFS, CNPq, CAPES.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Monitoramento ambiental, Biomarcadores, Estresse oxidativo

E-mail para contato: rafael.trevisan@gmail.com